O modelo de negócio que António Pires de Lima aplicou enquanto ministro da Economia, a mando de Pedro Passos Coelho, é idêntico ao imposto na Brisa Concessão Rodoviária, empresa que faz a gestão das principais autoestradas em Portugal. Talvez isso explique como é que um antigo ministro seja tão rapidamente "eleito" para gerir uma empresa com contratos leoninos com o Estado, que ainda há pouco jurava representar.
O calote no erário público protagonizado pela Brisa é evidente nas declarações de Pires de Lima, sobre o provável aumento do preço das portagens para 2023: «de acordo com o estipulado no contrato de concessão com o Estado, o preço das portagens para o próximo ano é calculado em função da inflação registada em Outubro deste ano».
Tendo em conta que, na actual situação de aumento do custo de vida, a Brisa lucrou 91 milhões de euros em apenas seis meses, seria de esperar que a empresa liderada por um antigo ministro assumisse a decisão de não aumentar os preços para o consumidor e o Estado. Desenganemo-nos. Pires de Lima e a sua administração não admitem a hipótese de não acumularem mais, e mais, dinheiro.
Trabalhadores também são vítimas da rapina da Brisa
As medidas austeritárias de Pires de Lima não eram defeito, são feitio. «Os 91 milhões de euros de lucros do 1.º semestre, combinado com a grande preocupação das empresas acerca da perda de poder de compra dos trabalhadores da Brisa, teve como resultado a entrega de um cartão da Sonae no valor de 150 euros», denuncia o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN).
É com este valor que a Brisa, que finge ser uma empresa familiar, preocupada com a valorização dos seus funcionários, «pretende ajudar os seus trabalhadores a enfrentar a perda de poder de compra que a todos afecta desde o início de 2022». Os lucros são da administração, o trabalho é dos outros.
Os cheques de 150 euros da Sonae, por trabalhador, são migalhas face aos lucros brutais da administração: menos de 0,5% do total de dinheiro amealhado pela empresa em seis meses.
O CESP exige o compromisso, por parte da Brisa, do «pagamento de desempenho de categoria superior destinado aos ajudantes oficiais da obra civil, firmado no último Acordo Colectivo de Trabalho, mas que na prática continua sem ser aplicado», o «acerto no subsídio de deslocação que não é actualizado, apesar dos aumentos frequentes dos preços dos combustíveis» e a resolução dos problemas dos administrativos operacionais, «prejudicados com a alteração do escalão remuneratório».