«No meu serviço, entrei às 8h e tive de seguir o turno da tarde, situação que acontece recorrentemente… no dia seguinte volto, com o mínimo descanso, a minha saúde é que se ressente», relatou uma enfermeira que exerce funções numa instituição do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ao Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP/CGTP-IN). «Com cinco enfermeiros para prestar cuidados a 40 doentes, na sua maioria com graus de dependência elevados, não conseguimos garantir a dignidade e a segurança. É frustrante!», afirmou outro trabalhador.
Estas queixas são recorrentes no Algarve, uma região que apresenta um imenso défice de profissionais: na OCDE, o rácio de enfermeiro para cada 1000 habitantes é de 9, em Portugal de 7,9, mas na Unidade Local de Saúde é de apenas 4,8 enfermeiros para mil habitantes. São números «alarmantes», considera o SEP, que estima existir um défice de cerca de 1500 trabalhadores na região.
Sem os profissionais necessários, os enfermeiros são obrigados a fazer vários turnos de seguida «para colmatar a ausência de outros que, por problemas de saúde, se viram na contingência de, justificadamente, se ausentar por baixa médica». Nalguns casos, o SEP identificou serviços no Algarve a funcionar com 7 ou 8 enfermeiros quando deveriam estar 11, um número que, já por si, está «abaixo das dotações seguras» de cuidados de enfermagem.
Os enfermeiros recusam-se «a banalizar o risco de erro por excesso de trabalho e pela falta de condições» e a tornarem-se «cúmplices da deterioração« programada do SNS. Ainda que rejeitem trabalhar «em condições que também violem os princípios de segurança, qualidade e dignidade profissional», estes trabalhadores «mantêm um compromisso com o SNS e com a população que a estes serviços acorrem».
SEP responsabiliza a administração da ULS do Algarve «pelo caos que se vive nos serviços»
O conselho de administração da ULS «continua a não agendar» a reunião «recorrentemente solicitada» pelo SEP. Segundo o sindicato, a ULS do Algarve é responsável pelos «atrasos registados na publicação da lista de classificação final da bolsa de recrutamento», uma situação que provocou »a desistência da maioria dos enfermeiros que a ela concorreram».
A administração decidiu ainda «complicar os processos de contratação, permitindo apenas a admissão por concurso, sem lugar a candidaturas espontâneas». Esta decisão, num contexto de grande carência de recursos humanos, leva a ULS a «perder a oportunidade da contratação dos jovens enfermeiros que vão concluir a sua licenciatura dentro de semanas: o concurso de recrutamento foi aberto, mas só será concluído muito depois da finalização das licenciaturas destes jovens enfermeiros».
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses vai dar conta das consequências destas decisões da ULS do Algarve aos executivos camarários de todas as autarquias do Algarve, assim como à Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL). Sem os profissionais de saúde necessários para fazer face às necessidades dos algarvios e, nesta época, dos turistas, a única solução «é encerrar camas».
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