Em início de carreira, um operador de portagens recebe 811 euros. No máximo, este trabalhador pode almejar um salário máximo de 1120 euros, no topo da carreira. Um quadro superior na Brisa, no entanto, tem uma vida mais confortável: o salário de entrada é mais do dobro de um operador (1886 euros) e, no topo da carreira, ganha quatro vezes mais do que o que um operador de portagens alguma vez receberá (4674 euros).
«O valor das portagens deverá aumentar, e com algum significado, no próximo ano», informa o CEO da Brisa, e antigo ministro passista, Pires de Lima. 91,8 milhões de lucro não impedem aumento para os utentes. A Brisa Concessão Rodoviária, empresa que faz a gestão das principais autoestradas em Portugal, registou, no primeiro semestre de 2022, lucros de 91,8 milhões de euros, o que representa uma subida de 76,4% face aos 52 milhões apurados no mesmo período do ano passado. Em 2019, antes da pandemia, os resultados líquidos representaram um aumento de 10,2%. Os governantes que acompanharam a venda da PT à Altice entraram na compra das antenas da transnacional francesa. Pires de Lima e Sérgio Monteiro associaram-se ao gigante da finança Morgan Stanley. Os dois membros do governo de Passos Coelho integram o conselho de administração da Horizon Equity Partners, que com o banco de investimento Morgan Stanley comprou a rede de torres de telecomunicações da Altice em Portugal, a troco de 660 milhões de euros. Ambos tutelavam o sector das telecomunicações quando a PT foi comprada pela Altice: António Pires de Lima como ministro da Economia e Sérgio Monteiro como secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações. Monteiro, que viria a ser contratado pelo Banco de Portugal para assessorar a entrega do Novo Banco ao fundo abutre Lone Star, foi um dos principais protagonistas das privatizações levadas a cabo pelo anterior governo. Foi o seu gabinete que conduziu a entrega de empresas como a ANA, os CTT, a TAP, a CP Carga e outros processos que acabaram por ser revertidos com a derrota do PSD e do CDS-PP nas eleições de Outubro de 2015, como dos transportes urbanos de Lisboa e Porto. A venda do património da antiga PT está relacionada com a situação financeira do grupo Altice, cuja expansão (nomeadamente em Portugal) foi feita assente em volumes enormes de endividamento. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Atrás dos lucros vêm lucros e outros lucros hão-de vir. Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, António Pires de Lima, antigo ministro da Economia do Governo PSD/CDS-PP de Pedro Passos Coelho e actual presidente do conselho de administração da Brisa, assumiu a necessidade, irrevogável, de aumentar especulativamente os preços aos utilizadores das autoestradas portuguesas. «As portagens estão directamente relacionadas com a inflação, é o indicador de inflação em Outubro que vai determinar o valor das portagens», mas há sempre uma alternativa: se não for o utilizador a pagar directamente à Brisa, podem sempre ser os contribuintes a financiar os lucros da empresa. Os preços só não aumentarão se o Estado mostrar «abertura para encontrar mecanismos que compensem a Brisa desse aumento e o possa diluir no tempo, ou inclui-lo no grupo de trabalho de renegociação da concessão». Não será de espantar que a administração da Brisa, sob a direcção de Pires de Lima, adira à velha máxima neoliberal: Os lucros são privados e os prejuízos são de todos. É apenas mais um caso em que, a reboque da escalada inflaccionista, as empresas se aproveitam do contexto económico para arrecadar ainda mais lucros e dividendos. Em quem paga é toda a população. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
Brisa: os lucros são privados mas os prejuízos são para todos
Nacional|
Pires de Lima e Sérgio Monteiro entram no negócio das telecomunicações
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
Para além da dualidade de critérios no que toca às remunerações na empresa, que em 2022 acumulou 240,8 milhões de euros de lucros, a Brisa acaba agora por reconhecer que a estratégia de despedimentos de operadores de portagens, em vigor desde 2010, foi exclusivamente uma estratégia de redução de custos (e não para facilitar a vida dos condutores).
A empresa, com gestão de António Pires de Lima, antigo ministro do CDS-PP, anunciou recentemente a intenção de contratar mais de 100 operadores de postos de portagem, para trabalhar no período correspondente às jornadas mundiais da juventude. Afinal, conclui o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN), a empresa sempre reconhece que «nem a Via Verde, nem as máquinas e-toll são capazes de responder com a mesma eficácia e prontidão a um aumento significativo do tráfego».
Muitos trabalhadores foram forçados a rescindir, desde 2010, por mútuo acordo com a empresa – «pela impossibilidade de compatibilizar a vida profissional com a vida pessoal e familiar, e pelos gastos financeiros que as centenas de quilómetros percorridos por dia representavam». Desde essa altura, mais de metade destes trabalhadores saiu da empresa, restando, nos quadros da empresa, 332 funcionários.
Um dos truques utilizados pela Brisa foi obrigar à deslocação dos funcionários para longe das suas residências, a grandes distâncias das barreiras originais (que entretanto passaram a ser exclusivamente electrónicas). Sem ajudas de custo, poucos trabalhadores conseguiram fazer face às despesas.
A luta na empresa continua, afirma o CESP, «por uma melhor distribuição dos rendimentos, de forma a recuperar o poder de compra perdido; pela defesa da conciliação da vida profissional e pessoal; a melhoria das condições de trabalho e o preenchimento dos postos de trabalho ao abandono». Não pode existir este fosso salarial colossal entre quadros superiores e operadores de portagem, defende o sindicato: afinal, como se vê, «os operadores de portagem fazem muita falta».
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui