|Função Pública

Envelhecimento na Administração Pública tende a agudizar-se

Na última década duplicou a percentagem de trabalhadores da Função Pública com 55 ou mais anos. Situação tende a agravar-se devido às restrições na contratação e ao aumento da idade de reforma.

«O aumento salarial é possível e necessário para combater esta injustiça», realçou Jerónimo de Sousa
Créditos / Revista Bit

A percentagem de funcionários públicos com 55 ou mais anos duplicou numa década, entre 2010 e 2020, passando de 16% para 30,7%. No mesmo período, segundo os dados do Boletim Estatístico do Emprego Público (BOEP), os trabalhadores das administrações central, regional e local com até 34 anos recuaram de 21,2% para 12,7%.

Esta evolução na estrutura etária dos trabalhadores da Administração Pública levou a que a idade média do conjunto dos funcionários chegasse a 31 de Dezembro de 2020 (últimos dados disponíveis) a rondar os 47,7 anos (ou os 48,7 anos se se descontarem as forças armadas e de segurança), acima dos 43,8 anos observados na mesma altura pelo conjunto da população activa e longe também dos 43,6 registados uma década antes.

Para Miguel Lucas Pires, professor na Universidade de Aveiro e com investigação na área do Direito da Administração Pública, o envelhecimento destes trabalhadores, tendo «raízes antigas», agravou-se no período da troika e tenderá a agudizar-se com as medidas em vigor.

Após as fortes restrições à contratação durante os anos em que o País esteve sob a alçada da troika, o que impediu a entrada de pessoas mais novas, outras medidas, como o aumento da idade da reforma em função da esperança média de vida ou a possibilidade de se trabalhar além dos 70 anos, têm contribuído para travar o rejuvenescimento da Administração Pública.

No próximo ano, quem quiser reformar-se na idade normal da reforma terá de esperar até aos 66 anos e sete meses, mais um mês do que este ano. Esta é a consequência do facto de a esperança média de vida aos 65 anos ter subido em 2020 para os 19,69 anos, o que compara com os 19,61 anos registados em 2019.

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Fenprof: É urgente rejuvenescer a classe docente

Os professores exigem negociações com o Governo sobre o envelhecimento da classe docente, que representa «um problema para o futuro da profissão», disse o secretário-geral da Fenprof.

CréditosMário Cruz / Lusa

Em declarações à Lusa, no dia em que se realizou o segundo protesto de um conjunto de quatro previstos para o mês de Maio, Mário Nogueira defendeu que, desde o início da legislatura, «o ministro da Educação bloqueou completamente o diálogo e as negociações com as organizações sindicais no sentido de resolver problemas que afectam muito os professores, portanto as escolas e, logo, os alunos».

O protesto, realizado esta quinta-feira em frente ao Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para coincidir com o dia e local em que se realizava o Conselho de Ministros, teve como foco a aposentação e envelhecimento da classe docente.

Nos últimos 20 anos, aumentou o fosso entre os docentes com menos de 30 anos e os que já ultrapassaram os 50 anos, segundo a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência: mais de 85% dos docentes têm acima de 40 anos e 50% já passaram os 50 anos, enquanto os docentes que têm até 30 anos de idade não chegam a 0,3%.

«Os mais velhos não se conseguem aposentar e os mais novos não conseguem entrar na profissão. Este problema continuará a agravar-se a cada ano que passa. Dentro de poucos anos haverá falta de professores jovens e poderá acontecer o mesmo que noutros países, ter de se contratar docentes com menos qualificações, o que significa um grande retrocesso [na educação]», alertou o dirigente do Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS/CGTP-IN), Manuel Nobre. 

Para o dirigente do SPZS é necessário dialogar com o Governo para se encontrar uma medida equilibrada que permita «evitar o desgaste acelerado» dos professores que estão a trabalhar até aos 66 anos de idade desde a troika.

Apesar das exigências de negociação por parte dos docentes, o Governo foi acusado de continuar a não dar respostas.

«No ano passado entregámos, por duas vezes, propostas fundamentadas ao Ministério da Educação e este ano voltámos a repetir por duas vezes para darem acesso a um processo negocial. O Ministério até hoje não se preocupou em agendar uma reunião», afirmou Vítor Bento, professor em Almeirim, também presente no protesto.

«Há um bloqueio negocial para qualquer matéria incluindo esta [aposentação e envelhecimento]. Nós temos propostas, nós queremos negociar, mas o Ministério da Educação acha que está tudo bem e vai deixando envelhecer cada vez mais o corpo docente», sublinhou por seu lado Ana Simões, educadora de infância de Olhão.

Para a Federação Nacional de Professores (Fenprof/CGTP-IN), as soluções para o envelhecimento da classe docente passam por tornar mais atractiva a profissão para os jovens, pela aprovação de um regime específico de aposentação dos docentes, pela aposentação voluntária, sem penalização por idade, dos docentes com 40 anos de serviço e de descontos, pela aplicação do regime de pré-reforma e pela consideração de serviço não contabilizado para carreira. 

A Fenprof, em conjunto com outros sindicatos de professores, tem agendados mais dois protestos em Maio que se vão realizar novamente às quintas-feiras (dias 20 e 27), dias em que se reúne o Conselho de Ministros. 

No próximo protesto, dia 20 de Maio, os professores vão manifestar-se por melhores condições de trabalho e eliminação de abusos e ilegalidades nos horários.


Com agência Lusa

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Segundo o especialista ouvido pela Lusa, a fraca atractividade da política remuneratória da Função Pública, em particular para as carreiras mais qualificadas, e da progressão nas carreiras são aspectos que não contribuem para que o cenário se altere. No caso da Tabela Remuneratória Única (TRU) lembra que as únicas alterações que se têm verificado têm sido na sua base e por força da actualização do salário mínimo nacional.

«E a questão da progressão na carreira que é muito lenta», acrescenta, acentuando que «é preciso que o trabalhador tenha dez pontos na avaliação de desempenho» para progredir, o que faz com que muitas vezes «isso aconteça apenas ao fim de sete, oito, nove ou dez anos».

Tal como a Federação Nacional de Professores (Fenprof/CGTP-IN) tem alertado, este bloqueio nas progressões não se repercute apenas no salário, tendo também implicações negativas no cálculo da futura pensão de aposentação. 

A valorização salarial e a progressão nas carreiras (bem como a sua reposição) foram algumas das reivindicações da manifestação nacional da CGTP-IN, do passado sábado, em Lisboa. Em matéria de aumentos salariais, em que os trabalhadores da Administração Pública andam a marcar passo há mais de uma década, a proposta do Governo não ia além dos 0,9%, de acordo com a inflação prevista.

Na semana passada, a ministra da Administração Pública, Alexandra Leitão, admitiu actualizar o valor se a inflação for mais alta, o que na prática significa que os trabalhadores não perdem poder de compra, mas também não ganham.   


Com agência Lusa

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