A Revolta da Marinha Grande está inscrita na História como uma grandiosa etapa da luta da classe operária contra o fascismo seguida por uma violenta repressão. O dia 18 de Janeiro de 1934 marca a tentativa da classe operária tomar o que é seu, numa profunda consciência de que por mais duros que sejam os tempos, a organização da classe operária pode aspirar a tudo.
Este ano comemoram-se os 89 anos desta importante etapa da história do movimento operário português e o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira - STIV, fiéis herdeiros dos construtores da revolta da Marinha Grande, está a organizar as celebrações. Iniciada no sábado passado, amanhã as comemorações terão continuidade de forma a assinalar a data.
A Revolta dos Operários Vidreiros foi um dos momentos altos da luta contra o fascismo. Na Marinha Grande foi erguida uma estátua em memória desta heróica página da luta dos trabalhadores que o executivo do MPM e o PS querem diminuir. A 18 de Janeiro de 1934, como reação ao Decreto-lei nº 23050 do governo fascista de Salazar que impunha uma ofensiva patronal contra os trabalhadores proibindo negociações coletivas, movimentos sindicais e ações de greve. O objectivo da lei era promover os sindicatos fascistas e por sua vez, meter o Estado a controlá-los directamente, procurando enfraquecer a luta consequente dos trabalhadores e acabar com qualquer tipo de contestação social. Desta forma, vendo os seus direitos atacados, aliado à carestia de vida, os opeŕarios da indústria vidreira da Marinha Grande insurgiram-se e partiram para a luta. A Marinha Grande viu a classe operária a tomar as ruas, a assumir o papel de vanguarda da luta dos trabalhadores e a desafiar o regime fascista. Por um conjunto de horas, a terra do vidro e dos moldes foi libertada por breves momentos. Viu-se uma nesga de luz durante a noite fascista, declarou-se um soviete e a classe operária ambicionava o assalto aos céus. É certo que a repressão fascista rapidamente se fez sentir. Não estavam ainda garantidas as condições objectivas para consolidar a vitória, mas também é certo que, o exemplo e a coragem dos trabalhadores servem de exemplo para as lutas de hoje. Em memória a este momento, a 18 de Janeiro de 1984 foi inaugurado um monumento de homenagem da autoria do escultor Joaquim Correia. À data, a Câmara Municipal da Marinha Grande, cuja maioria era APU, decidiu a para além da construção do monumento, quis também dar-lhe centralidade, e colocou-o na rotunda do vidreiro, perto do parque Mártires do Colonialismo e logo à entrada do concelho. A polémica entretanto instalou-se. O anterior executivo de maioria PS avançou para a deslocalização do monumento e já no actual mandato, o novo executivo do movimento independente MPM também com o apoio do PS reiterou a intenção, sempre com oposição da CDU. A deslocalização seria para um local com menor centralidade, argumentando que teria sido a vontade do autor aquando da realização da obra. No entanto, o sítio para onde o monumento poderá ir existe apenas desde 2003. O objectivo parece ser claro e passa pela tentativa de desvalorizar a história e os heroicos participantes no 18 de janeiro de 1934. Apagar a revolta dos operários vidreiros da Marinha é apagar o exemplo de que quando a classe operária se une tudo pode almejar. No passado dia 16 de Novembro, o Movimento Cívico pela manutenção do Monumento evocativo do 18 de janeiro de 1934, juntamente com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira, realizaram uma concentração contra a deslocalização do Monumento. Debaixo de chuva, as condições climatéricas não demoveram os manifestantes e várias forma intervenções, que salientaram que as intenções do MPM e PS são uma tentativa de desvalorizar a história e os heroicos participantes no 18 de janeiro. A concentração realizou-se junto à Rotunda do Vidreiro, seguindo-se uma manifestação até à Câmara Municipal onde foram proferidas intervenções e aprovada uma resolução por unanimidade. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Local|
Câmara Municipal da Marinha Grande quer apagar a histórica Revolta da Marinha
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O dia de amanhã, que contará com Isabel Camarinha, começará logo às 10 horas com uma romagem aos cemitérios Casal Galego e Marinha Grande e com a colocação de flores nas campas dos prisioneiros que participaram na Revolta. Nesse momento será ainda linda uma intervenção de homenagem aos falecidos. Às 11 horas, fazendo jus ao exemplo dado pelos revoltosos, haverá uma manifestação com o mote «Por mais salários, pelo fim da precariedade» com o ponto de partida no cemitério da Marinha Grande.
Já às 12 horas, junto ao Monumento do Vidreiro, para além da actuação do Grupo de percussão Tocándar, haverá também uma cerimónia pública com intervenções sindicais, entre as quais da Secretaria-Geral da intersindical e contará também com a participação da Comissão Executiva da CGTP-IN.
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