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Apeadeiro 2020: os trabalhadores tomam nas suas mãos o destino das suas vidas

Os trabalhadores da Apeadeiro 2020 estavam há 15 dias em greve e vigília em Lisboa. No Porto, há 10. O AbrilAbril foi a Santa Apolónia acompanhar uma noite da vigília e procurou transmitir a coragem de quem luta pelo que é seu.

Créditos / AbrilAbril

Com salários em atraso, os trabalhadores da Apeadeiro 2020 não vergam. Com salários em atraso, partiram para altos patamares de luta e, não olhando a sacrifícios, fazem a greve a tempo indeterminado e as vigílias de forma a denunciar a situação. Conscientes de que tudo produzem, os trabalhadores da empresa que tem a concessão dos bares dos comboios da CP sabem que a tudo têm direito. Por isso mesmo, não desarmam. Com vários anos de serviço, sabem que nunca falharam, aparecem sempre ao trabalho, cumprindo sempre com as suas obrigações: se a empresa está em mau estado, não é por culpa de quem todos os dias dá a cara aos clientes.

A visita que o AbrilAbril fez à vigília, em Santa Apolónia, foi combinada num espaço de um dia. Bastou um contacto com a Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (Fesaht/CGTP-IN) para que o dirigente sindical averiguasse, de imediato, juntos dos trabalhadores que estão no local se seria possível acompanhar uma noite da vigília. Os trabalhadores, prontamente, aceitaram. Querem dar a conhecer o que estão a sentir e aquilo por que estão a passar. É sempre mais fácil escrever à distância, seguindo relatos sobre o que estava acontecer, mas o contacto directo permite captar um amplo conjunto de sentimentos.

Dificilmente imaginávamos, a caminho da vigília, como seria o ambiente. Se não estaria um ambiente tenso, em que os trabalhadores se começasse a dar por derrotados, se o desânimo imperava. Não sabíamos como seríamos recebidos. Afinal de contas, eramos apenas alguém que queria fazer uma peça sobre a sua situação e passar a noite com eles. Podia ser estranho, não sendo comum. 

Antes de partirmos, Luís Trindade, da Fesaht, deu-me o contacto do Luís Baptista, o delegado sindical da empresa. Ao telefone, garantiu que «toda a malta está na boa», até porque querem «dar a conhecer a sua história». Mal cheguei, o Luís fez questão de me apresentar a todos. A conversa fluiu naturalmente. Havia já um reconhecimento do AbrilAbril pelas notícias que eram dadas sobre questões laborais e isso ajudou a que, rapidamente, pudesse começar a colocar algumas perguntas. 

A solidariedade de classe faz-se sempre sentir nas horas de maior aperto.

Cheguei a Santa Apolónia por volta das 23 horas, hora da troca de turno. Para garantir que no acampamento improvisado em frente à estação estão sempre trabalhadores, foi feita uma escala. O primeiro turno é das 7h até às 15h, o segundo turno até às 23h, e o terceiro, noite dentro, termina, novamente, às 7h. Assim se assegura que todos possam ir para casa descansar, tratar da sua vida pessoal, estar com os filhos e ganhar ainda mais força anímica para o que ainda falta lutar.

No local estão com três tendas. Duas delas grandes, de jardim. Ambas tinham mesas, serviam como locais para os trabalhadores se abrigarem do frio ou da chuva, conviverem, e guardarem os alimentos que iam sendo doados. A terceira tenda, de campismo, servia para dormir, caso o cansaço se abatesse sobre corpos exaustos. 

Corriam já nas redes sociais diversos apelos para a entrega de comida, de forma a ajudar os trabalhadores a aguentarem na vigília. O Luís disse-nos que, naquele dia, já tinham recebido doações da União de Sindicatos de Lisboa, do Sindicato de Trabalhadores em Arquitectura (STARQ) e do Sindicato dos Trabalhadores Civis das Forças Armadas, Estabelecimentos Fabris e Empresas de Defesa (STEFFAs/CGTP-IN). Perguntei se alguém tinha feito doações a título individual: sim, vários. A título de exemplo, por lá já tinham passado os funcionários do CESP/CGTP, uma trabalhadora do IBIS, sindicalizada no Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria, Turismo, Restauração e Similares do Sul (SHS/CGTP), bem como uma ex-dirigente sindical. A solidariedade de classe faz-se sempre sentir nas horas de maior aperto.

Estas doações acabam, no entanto, por ter um significado bem mais profundo. Para além de garantir que existem mantimentos para as longas 24, sobre 24, horas em que estão em vigília, garante também que os trabalhadores levem comida para casa.

Marcelo Preto, um dos trabalhadores que estava de turno nessa noite, mostrou-me uma fotografia do seu frigorífico. Já procurou ajuda social para poder comer e nessa fotografia estavam apenas uns bifes, uns ovos e pouco mais. Marcelo trabalha no armazém, a sua companheira também trabalha na Apeadeiro 2020 na parte dos bares dos comboios. Ela é o que os trabalhadores comumente apelidam de «trabalhadora de linha». O depoimento do Marcelo foi um dos mais duros: tanto ele, como a companheira, são imigrantes, com quatro filhos, a mais nova com apenas quatro anos. Marcelo conta que a filha tinha feito anos no passado mês e ele não teve sequer dinheiro para lhe comprar um bolo de aniversário.  

Com este tipo de testemunhos percebemos que 130 são os trabalhadores com salários em atraso, mas são muito mais as pessoas a passarem por dificuldades. Por cada trabalhador, por cada homem e mulher que se vê privado do seu rendimento, está por detrás um companheiro ou companheira, um filho ou uma filha. Facilmente compreendemos que os números de pessoas afectadas pela gestão danosa da Apeadeiro 2020 se multiplicam. Cento e trinta passa a ser o número de famílias afectadas por tudo isto, centenas são pessoas as a ser afectadas.

Numa situação semelhante está Rute Meireles. A Rute é actualmente chefe de bordo e trabalha nos bares da CP há 26 anos. Diz que tem «mais anos de vida com este trabalho do que sem ele», algo que revela bem a sua dedicação com as várias empresas que foram explorando a concessão. Mãe solteira, faz o turno da noite para durante o dia acompanhar o seu filho.

Com o mesmo tempo de casa, também estava presente o Fernando, também ele pai de quatro filhos. Quando o Fernando entrou para os bares da CP já o pai dele lá trabalhava. Ao contar isto, a Rute foi buscar um álbum de fotografias para o mostrar o pai do Fernando. Pelo álbum, pelas fotografias onde o sorriso era sempre figurante e pela maneira como falavam do trabalho antigamente e das suas histórias, a sensação que dava era que o elo entre eles era quase familiar. 

Este foi um dos momentos marcantes. A primeira greve que estes trabalhadores tinham feito, dizia o Luís Batista, tinha sido há 20 anos, para conquistar o primeiro Acordo de Empresa. Os tempos foram passando e, dizia o Fernando, já por ele passaram umas 8 a 9 concessionárias. As empresas foram indo, os trabalhadores ficando. Fica claro que quem faz o serviço são eles: são eles que geram a mais-valia, são eles a empresa, independentemente dos patrões que se cruzem pelo caminho. No meio das conversas surgiu uma frase que traduz o tal elo que o companheirismo da luta está a renovar: «graças a esta greve e a esta vigília estamos a conhecermo-nos mais e melhor», soltou o Fernando. 

Enquanto ia falando com eles, e eles iam mostrando no albúm de fotografías a farda que antigamente tinham, dizendo que até na qualidade e beleza da mesma houve uma desvalorização. Enquanto essa conversa se dava, o mais velho dos trabalhadores presentes, o Valente, ia acendendo a grelha para preparar umas bifanas e entremeadas. Por volta da meia-noite fazia-se o lanche para aguentar o que ainda tinham pela frente. O mais novo, o Daniel, de apenas 26 anos, dizia que «na primeira noite, o tempo passava mais rápido, mas que de noite para noite parecia que 10 minutos iam se transformando em horas». O cansaço era evidente e após, o lanche, o Marcelo foi para a tenda tentar descansar alguma coisa.

«A nossa força reside na nossa unidade»

A determinada altura da noite procurava ir sistematizando os apontamentos que ia tirando e apareceu o Luís Batista numa das tendas de jardim. O Luís já ia no segundo turno seguido e estava visivelmente cansado. Ao sentar-se numa cadeira procurou tapar-se com uma manta e reclinar-se para descansar. No dia seguinte ia apanhar o Alfa Pendular às 7 horas com destino ao Porto para ir a uma reunião com a administração da CP, mediada pelo Ministério do Trabalho. Em conversa dizia-me que a empresa era rentável, que só ele, no Verão, contou 37 mil euros feitos nos comboios com destino a Faro. Sobre perspectivas para a reunião afirmou não as ter, apesar dessa vir a ser a terceira. Importa dizer que, a par de quererem ver a sua situação regularizada, uma das suas grandes reivindicações é serem integrados na CP e fazerem com que esta assuma o serviço. 

Continuamos a falar sobre a luta que estava a ser desenvolvida. Contou-me que o dono da Apeadeiro 2020, José Alegria, tinha aberto,há pouco tempo um café em Estarreja. Passado pouco tempo transmitiu aos trabalhadores dos bares da CP que não tinha condições para lhes pagar os salários. Todos contam isto de forma incrédula. Questionam-se como foi possível o «Senhor Alegria», que é trabalhador da CP, ter ganho o concurso de concessão, também ele promovido pela CP, sem apresentar garantias. Conta-se que, um mês antes, tinha aberto a empresa com apenas cinco mil euros de capital social. 

Por entre a conversa, Luís Baptista disse algo que muitos opinadores, uns mais verbalistas que outros e que mimetizam análises, deveriam ouvir: «o que aqui vês não é como nos livros. Para termos esta forma de luta tivemos vários plenários e várias discussões. É por via da discussão que fazemos acontecer». Foi dando então exemplos: antes de fazerem greve tiveram um processo de discussão, quando partiram para a vigília também tiveram um processo de discussão, e quando se foram manifestar para a porta do café do patrão, em Estarreja, também o fizeram com base na discussão. Segundo ele, foi graças à discussão que conseguiram ter praticamente 100% de adesão à greve, não tivessem tido nos últimos 2 meses mais de 10 plenários. «A nossa força reside na nossa unidade», vinca o Luís.

Num cenário hipotético, perguntei-lhe como seria se, no dia seguinte, vissem os salários repostos e o principal problema fosse resolvido. A sua resposta também é demonstrativa do grau de consciência que os trabalhadores foram ganhando com o decorrer da luta: «Caso tudo se solucione, caso venha uma nova empresa, é uma luta que acaba, mas uma nova luta começa - a luta por um novo Acordo de Empresa».

A situação não é fácil, mas a resolução é. Uns trabalhadores dizem, com razão, que a sua integração na CP seriam umas migalhas para a empresa ferroviária. A verdade é que, de muitos lados, o silêncio face ao que estes trabalhadores estão a passar é ensurdecedor. A Rute questionava «Eu sei que o PCP, e acho que o Bloco também, já apresentaram perguntas ao Governo sobre a nossa situação, e eles [CP e Governo PS] recusam-se a responder. Porquê? Parece que não existimos. Mas olha, quem passa por aqui sabe que existimos e nós vamos continuar». 

Com o decorrer da noite os trabalhadores presentes na vigília iam-se concentrando numa das tendas grandes. Uns em busca de um espaço abrigado para se sentarem e descansarem, outros em busca de convívio. Nessa mesma tenda estava uma mesa de campismo e vários cantis, garrafas de águas e aperitivos diversos para ir escondendo a fome que aparece naturalmente com o avançar das horas. Entre todos os objectos que, dada a pouca luminosidade, se tornavam difíceis de apontar, saltava à vista a silhueta de um copo de plástico com água a um terço que carregava dois cravos. É escusado escrever sobre o simbolismo dos cravos, é algo que salta naturalmente à vista. 

Enquanto confraternizaram com os cravos no centro da mesa, a Rute trouxe uma coluna. Meteu primeiro uma música da Daniela Mercury, destoando um pouco do cenário montado, o que foi jocosamente apontado pelo Fernando. A Rute rapidamente retorquiu: a música era alegre, já bastavam os problemas que tinham e que naquele momento precisavam era de alegria. Incorporando a tarefa de DJ, a Rute não hesitou em passar à próxima música, mudando para a Vamos ao Trabalho dos Peste e Sida e animados acompanharam o refrão cantado por João San Payo. Ouviu-se repetidamente «Ao trabalho, ao trabalho». 

A música seguinte, radicalmente diferente a nível de ritmo, foi o Homem do Leme dos Xutos e Pontapés. Se as primeiras músicas têm o efeito natural de animar, esta nem tanto, mas dizia a Rute que tinha sido com essa música que fizeram a viagem até Estarreja para se manifestarem à porta do café do «Senhor Alegria». Enquanto a coluna passava a música, iam falando por vídeo-chamada com os colegas que estavam na vigília do Porto. Além de perguntarem como estavam eles, mostravam quem estava presente naquele turno. Em simultâneo, num momento de alegria, começaram a cantar o refrão da música e os colegas do Porto acompanhavam. À distância preocupam-se uns com os outros, sentem que em ambos os lados a luta é a mesma e a perseverança de uns serve de incentivo a outros. 

A última música foi a Sem Eira Nem Beira, também dos Xutos e Pontapés, cantada pelo baterista Kalú. A música, por si só, retrata o período final do governo PS de José Sócrates e traduz a perspectiva de um trabalhador do que sente um trabalhador ante as injustiças. Foi talvez a música mais cantada. Em uníssono cantaram o primeiro verso: «Anda tudo do avesso / Nesta rua que atravesso / Dão milhões a quem os tem / Aos outros um passou-bem». Seguiram com mais força para o segundo: «Não consigo perceber / Quem é que nos quer tramar / Enganar, despedir / E ainda se ficam a rir». Chegaram ao terceiro com um espírito de auto-identificação e esperança: «Eu quero acreditar / Que esta merda vai mudar / E espero vir a ter / Uma vida bem melhor». O quarto verso foi o mais audível e a interpretação era fácil: «Mas se eu nada fizer / Isto nunca vai mudar / Conseguir, encontrar / Mais força para lutar». 

Este pequeno momento reforçava os laços de quem ao longo de 15 dias de greve sentiu o companheirismo a cada segundo. O sacrifício, a confrontação com dificuldades comuns, as histórias partilhadas, os mesmo objectivos e as horas que passavam acordados reforçava a unidade. 

«Nunca faltei, nunca roubei um café, nunca os deixei ficar mal... E é esta a paga.»

Por volta das 5h30, já em Santa Apolónia, o silêncio reinava e a Rute e o Luís dormiam sentados nas cadeiras. Os restantes foram para outra tenda, e o Valente fala com umas pessoas que por lá tinham passado. Nessa tenda para onde foram, o Fernando falava com o Daniel e outra colega que dizia, em jeito de desabafo, que só queria que isto tudo acabasse para poder pagar a faculdade à filha. O decorrer da conversa levou a que me contassem a sua realidade laboral. Dizia o Daniel que tinha passado para o armazém porque já não aguentava mais os horários «da linha». Contava que quando «fazia linha», apesar de ter um horário de oito horas, fazia muito mais, pois, muitas das vezes ficava seis horas à espera do comboio em que ia fazer serviço para voltar para Lisboa. As oito horas de trabalho facilmente se multiplicavam. «Saía de casa às 6 horas e era o Fernando que me ia buscar para eu não me atrasar, e só chegava a casa perto das 20 horas. Para quê?», questionava o Daniel que respondeu de imediato à pergunta que o próprio fez: «Para levar pouco mais que o salário mínimo para casa, é o que é». 

Fernando pegou no testemunho e decidiu também expor a sua indignação: «Trabalho aqui há 26 anos, ainda tu nem tinhas nascido (apontando para o Daniel). Nunca faltei, nunca roubei um café, nunca os deixei ficar mal... E é esta a paga. Se a empresa está assim não é por culpa nossa. E nós avisamos várias vezes». Por entre os relatos das dificuldades surge o desabafo central: «é casa, é carro, é tudo… como é que vamos pagar as nossas despesas?»

Neste momento entra na tenda o Valente e diz logo que ganhava mais quando foi para os bares da CP do que agora. Dizem-me logo que o Valente só gostava de fazer os turnos da noite. Perguntei o porquê e ele disse que assim podia chegar a casa às 11 horas e desse forma conseguia fazer o almoço à mulher. O Fernando riu-se dessa confidência, mas o Valente não se ficou e perguntou a todos: «com os vossos horários, quantas refeições é que fizeram para a vossa família?». Ficaram todos pensativos e é fácil entender a razão. É nas refeições que se consegue falar com a família, fazer o apanhado do dia, contar o que de bom aconteceu, mas também o menos bom. A importância de uma refeição extravasa o simples acto da alimentação.

Às 6 horas chegou Fátima Silva à vigília. A Fátima tem 34 anos de casa, é a mais antiga trabalhadores, o que lhe atribui uma espécie de aura de matriarca. É quase uma mãe para todos e os trabalhadores que, de forma afectiva, a tratam por «mãe preta». Mal chegou perguntou-me se os «meninos» me tinham tratado bem e se se tinham comportado de forma adequada. Ao cumprimentar cada um ia dizendo que cada um era pior que o outro. Prontamente procurou saber como estavam e pegou nos que estavam acordados para lhes ir pagar um café. O café que para muitos seria o primeiro do dia, era o combustível necessário para continuarem.

À conversa com a Fátima, ela disse-me que entrou para ali uma menina e com 34 anos de casa é a primeira vez que deixou de receber. Ia reiterando que nunca tinha visto uma coisa assim e que já tinham sido feitas várias greves por aumentos salariais, mas nunca uma greve para receber o salário. As acusações de má gestão iam-se multiplicando e dava um exemplo concreto: sabendo que os trabalhadores estão em greve, a administração da empresa encomendou propositadamente umas sandes para perderem a validade e dessa forma poderem culpar os trabalhadores pelo prejuízo. Contava-me que o clima era nocivo e que já perto do final do ano passado os trabalhadores iam ouvindo, recorrentemente «em Janeiro vão ter uma surpresa». A surpresa, segundo ela, era não haver dinheiro para pagar salários. Para a Fátima, tudo foi premeditado. 

Perguntei-lhe qual seria para ela a solução e ela diz logo que seria a integração na CP, o que lhes daria maior estabilidade e melhoraria a qualidade do serviço. «Hoje só peço trabalho para todos», é o que conclui fazendo todo o balanço da situação e as possíveis soluções. 

Já perto das 7 horas, Luís Baptista tinha que apanhar o Alfa Pendular rumo ao Porto, para a tal reunião. Foi acompanhado pela Fátima e pelo Fernando até à plataforma. A cena parecia uma despedida de um filme, mas foi mais importante que isso: o Luís ia negociar a vida real. Após a despedida, de volta à vigília, Fernando solta um desejo: «Só espero que ele traga boas notícias para baixo». A Fátima esperançosa respondeu um «não te preocupes filho, temos que acreditar que vai trazer». 

Quando cheguei ao local da vigília novamente, depois de acompanhar o Luís até ao comboio, já lá estavam quatro novas trabalhadoras para o novo turno que iria começar. Os que estavam em final de turno apresentaram-nos e uma das trabalhadoras agradeceu o facto do AbrilAbril ter estado ali e pediu de forma emocionada para darmos a conhecer aquela história. 

Prometi fazer o meu melhor. Consigo dizer que o exemplo que todos estes trabalhadores dão, vai muito além além do que eles acham. Com esta luta é dado o exemplo de quem já quase tudo perdeu, mas não perdeu o mais importante. Não perderam a família, não perderam a dignidade, não perderam a esperança, não perderam os sonhos, não perderam a oportunidade de lutar pelo seu futuro. Lutam por tudo o que não perderam, lutam por tudo que têm a ganhar, lutam por si, lutam pelas suas famílias e lutam pelos seus colegas. A cada segundo, a cada minuto, a cada hora, a cada dia que a sua luta avança, mesmo muitos não tendo essa noção, a sua consciência de classe vai-se desenvolvendo e a palavra «trabalhador» ganhando cada vez mais peso. O que os trabalhadores da Apeadeiro 2020 estão a fazer vai muito além de uma greve e de uma vigília. Está a ser dado um exemplo a toda a classe trabalhadora. 

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