|Legislação laboral

MDM afirma que reforma laboral exige «combate político, social e institucional»

O Movimento Democrático de Mulheres (MDM) tornou pública a sua posição face ao Anteprojeto de Reforma do Código do Trabalho apresentado pelo Governo, denunciando-o como um ataque sem precedentes aos direitos das mulheres trabalhadoras.

Milhares participaram na Manifestação Nacional de Mulheres promovida pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM), no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Mulher, numa jornada de denúncia dos problemas que afectam as mulheres e de afirmação de força e unidade na defesa e conquista dos seus direitos. Lisboa, 11 de Março de 2023
CréditosManuel de Almeida / Agência Lusa

Num documento intitulado Quando o Estado Ataca os Direitos das Mulheres – Sobre a Proposta de Alteração ao Código do Trabalho, o MDM alerta para a natureza profundamente discriminatória das alterações propostas. Sob o argumento da «flexibilização» das relações laborais e da promoção da natalidade, o Governo apresenta um pacote de medidas que, na prática, enfraquece os direitos da maternidade, penaliza a conciliação entre vida profissional e familiar e institucionaliza novas formas de precariedade.

Para o MDM, esta reforma parte de uma lógica de desconfiança face às mulheres, tratando a proteção à maternidade como privilégio suspeito em vez de direito garantido. Entre os aspetos mais preocupantes está a limitação da licença de amamentação até aos dois anos de idade da criança, sujeita à apresentação obrigatória de atestados médicos semestrais.

No ponto de vista do movimento, esta exigência burocrática é entendida como uma medida punitiva que parte do princípio de que as mulheres abusam dos seus direitos, reforçada por declarações infundadas da própria ministra do Trabalho. Também a eliminação do direito a horários compatíveis com a vida familiar representa, para o MDM, um grave retrocesso. 

Com esta proposta, mães e pais com filhos até 12 anos deixam de poder recusar trabalho nocturno ou ao fim de semana, ficando essa decisão exclusivamente nas mãos da entidade patronal, o que desestrutura por completo a articulação entre trabalho e vida familiar.

A proposta governamental pretende ainda revogar o direito a faltas justificadas e remuneradas por perda gestacional, remetendo-as para o regime genérico de faltas por assistência à família. Ao fazê-lo, ignora a dimensão emocional e social profunda desta vivência, tratando a maternidade como uma questão individual e desprovida de proteção pública. 

Soma-se ainda a extensão da duração dos contratos a termo até nove anos, o que perpetua a instabilidade laboral e afeta de forma particularmente dura as mulheres jovens e mães. A possibilidade de despedimento por recusa do teletrabalho e a retirada de competências à Autoridade para as Condições do Trabalho nos casos de despedimentos ilícitos são, para o MDM, sinais claros de que se pretende criar um ambiente de impunidade patronal e exploração sem escrutínio.

De acordo com o movimento, este conjunto de medidas traduz-se numa política laboral que favorece a exclusão, reforça desigualdades e coloca as mulheres perante uma escolha impossível: ou aceitam trabalhar sem direitos ou arriscam ser descartadas. 

Face a este cenário, o MDM rejeita por completo o pacote legislativo apresentado pelo Governo e denuncia a tentativa de apagar direitos fundamentais conquistados com décadas de luta, exigindo o cumprimento da Constituição e rejeitando uma proposta que fragiliza não só as mulheres, mas toda a sociedade. 

O movimento apela à mobilização de todas as mulheres, das organizações sociais e das forças progressistas para resistir a este retrocesso e afirmar uma política laboral justa, que promova a igualdade e a dignidade para todas e todos. «Pela igualdade na vida, não aceitaremos retrocessos», afirma o Secretariado Nacional do MDM, que reforça a urgência de uma resistência activa e organizada. 
 

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