Eleição para secretário-geral da ONU expõe tensões inter-imperialistas

Manobras de bastidores levam a mudança de apoio na corrida à sucessão de Ban Ki-moon

O governo búlgaro retirou o apoio a Irina Bokova para o cargo de secretário-geral da ONU, transferindo-o para a vice-presidente da Comissão Europeia, Vitalina Georgieva. Diplomata russa fala em pressões da Alemanha.

Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Foto de arquivo
CréditosJC McIlwaine / ONU

O primeiro-ministro da Bulgária anunciou esta manhã a candidatura da vice-presidente da Comissão Europeia, Vitalina Georgieva, para o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas. A decisão implica a retirada do apoio à actual directora-geral da UNESCO, a agência da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura.

A decisão do governo búlgaro surge após semanas de especulação em torno desta possibilidade, particularmente após a reunião do G20, que decorreu há duas semanas em Hangzhou (China). A chanceler alemã, Angela Merkel, tentou discutir com responsáveis russos a transferência de apoio de Bokova para Georgieva, de acordo com Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa.

Zakharova, em delarações à Tass, afirmou que «foi dito clara e frontalmente à senhora Merkel que a nomeação, por parte de um país, de um candidato à posição de secretário-geral da ONU é uma decisão exclusiva e soberana desse país, e que qualquer tentativa de influenciar, directa ou indirectamente, decisões desse tipo não são aceitáveis».

Georgieva é comissária europeia desde 2010, primeiro com a pasta da Ajuda Humanitária e Protecção Civil. Em 2014, com a designação de Jean-Claude Juncker para presidente da Comissão Europeia, assumiu a vice-presidência para o Orçamento e Recursos Humanos. Antes de assumir estas funções, a economista fez carreira no Banco Mundial, chegando a vice-presidente da instituição.

Bokova é diplomata de carreira e assumiu o cargo de directora-geral da UNESCO em 2009. A passagem da búlgara pela organização ficou marcada pela admissão da Palestina como membro da UNESCO, em 2011, que teve como resposta norte-americana a suspensão total do financiamento à agência da ONU. A representante russa na UNESCO, Eleanora Mitrofanova, revelou à Sputniknews que os EUA «não transferem dinheiro há quatro anos» para o orçamento da organização, o que a coloca «em crise». De acordo com a responsável, a UNESCO despediu cerca de 400 trabalhadores nesse período, «um número enorme para uma organização internacional».

O próximo passo do complexo sistema de nomeação para o cargo de secretário-geral da ONU é dia 5 de Outubro, data em que os membros do Conselho de Segurança da ONU poderão «encorajar», «desencorajar» ou manifestar que não têm opinião sobre cada candidatura. Os membros permanentes – China, Estados Unidos da América, Federação Russa, França e Reino Unido – têm direito de veto, o que significa que qualquer candidatura que tenha a oposição de um destes países está condenada. De acordo com informações oficiosas, o português António Guterres foi o melhor colocado nas cinco votações informais já realizadas.

O nome que for consensualizado para suceder a Ban Ki-moon pelos 15 membros do Conselho de Segurança – para além dos cinco membros permanentes, Angola, Egipto, Espanha, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Senegal, Ucrânia, Uruguai e Venezuela – será proposta à Assembleia Geral da ONU, onde os 193 membros da organização são chamados a votar.

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