|Elevador da Glória

Moedas atira debate sobre responsabilidades para depois das autárquicas

Reportagens recentes mostram que os trabalhadores da Carris alertaram para a deficiente segurança do Elevador da Glória, desmentindo Carlos Moedas, que adiou debate sobre responsabilidades para 13 de Outubro.

CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), recusou, ontem, o pedido da oposição para uma reunião extraordinária esta quinta-feira, 25, sobre a tragédia do Elevador da Glória, decidindo agendá-la para o dia seguinte às eleições autárquicas, para «não partidarizar» o tema.

Mas esta é uma tragédia com responsáveis políticos e que poderia ter sido evitada. Após o acidente, Carlos Moedas alegou que nunca lhe foi dado conhecimento de problemas acerca da segurança dos ascensores, remetendo as responsabilidades para a empresa municipal que tutela. Mas uma reportagem televisiva, poucos dias após a tragédia, dava conta de um pedido de reunião que a Comissão de Trabalhadores da Carris fez chegar ao presidente da Câmara de Lisboa, em Novembro de 2023, no qual denunciava a «manutenção dos veículos», mas também questões de trabalho e higiene e segurança.

Outra das questões colocadas prende-se com a externalização da manutenção dos típicos elevadores lisboetas. Poucos dias após o acidente, a Comissão Coordenadora das Comissões de Trabalhadores da Região de Lisboa (CIL) defendeu que os serviços de manutenção da Carris devem ser executados por trabalhadores da empresa, e não por empresas externas, «que só visam o lucro». Ao mesmo tempo, reivindicou a análise das «decisões políticas adoptadas pela gestão da Carris e pela Câmara Municipal de Lisboa», recordando os quatro milhões de euros que o Município retirou à Carris, no Orçamento para 2024, e a transferência de montante igual para a Web Summit. Esta era, portanto, uma «tragédia anunciada», como se percebe também numa reportagem divulgada recentemente pela TVI. O trabalho realizado a partir do depoimento de dois guarda-freios e de um ex-trabalhador da Main – empresa responsável pela manutenção dos ascensores da capital, evidencia negligência (as revisões eram «visuais» e «de boca»), falta de manutenção (o verdugo «estava num estado que pareciam lâminas») e precariedade das condições de trabalho. 

O requerimento apresentado este domingo pelo PS, que concorre à Câmara de Lisboa em coligação com BE, Livre e PAN, e cuja cabeça de lista (Alexandra Leitão) alegou indisponibilidade para participar no debate na TSF, como fez também o candidato (Carlos Moedas) do PSD, CDS-PP, IL, para uma reunião extraordinária esta quinta-feira, 25 de Setembro, foi recusado pelo presidente Carlos Moedas, que decidiu empurrá-la para 13 de Outubro.

O objectivo era obter «esclarecimentos sobre falsidades, omissões e incongruências» no âmbito do acidente do Elevador da Glória, sob gestão da empresa municipal Carris, que descarrilou no dia 3 de Setembro, num acidente que provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, após se saber da ocorrência de acidentes anteriores, em Outubro de 2024 e Maio deste ano, «publicamente negados pelo presidente do Conselho de Administração (CA) da Carris e pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas que a própria Carris veio agora confirmar.

Também o PCP considerou que há informações contraditórias quanto ao apuramento de responsabilidades sobre o acidente com o Elevador da Glória e exigiu «o cabal esclarecimento» por parte do presidente da autarquia, inclusive sobre o concurso público lançado em 2022, «face ao preço anormalmente baixo apresentado pela empresa MNTC, Lda., que veio a ganhar o concurso para a execução de trabalhos de manutenção dos ascensores e elevador operados pela Carris».

De acordo com o PCP, as recentes reportagens televisivas testemunham, contrariando o que foi afirmado e garantido pelo presidente da Câmara e pelo CA da Carris, «a existência de evidências, inclusivamente documentais, que provam a apresentação, em momentos oportunos, de fundamentados alertas por parte de organizações representativas dos trabalhadores da Carris sobre um deficiente funcionamento de sistemas de segurança do elevador», suscitando questões sobre a qualidade da manutenção efectuada.

Assim, os vereadores comunistas propuseram uma audição dos representantes das organizações representativas dos trabalhadores, uma nova audição do CA da Carris, para «clarificar as contradições» relativamente a aspectos do processo de manutenção, e uma audição com membros do anterior CA sobre as opções tomadas em concursos anteriores a 2022.


Com agência Lusa

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