Carlos Moedas e Alexandra Leitão, candidatos à Câmara Municipal de Lisboa (CML), estavam mesmo convencidos de que iam ser favas contadas. Quando já estava decretada a corrida a dois, um desastre: os confortáveis debates frente a frente, apenas um contra o outro (tão ao gosto dos nossos comentadores do espectáculo político), foram travados pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), que repôs a justiça (e a lei) e forçou a comunicação social a incluir todas a forças políticas com vereadores eleitos na autarquia – sendo a CDU a única candidatura excluída.
Nem mesmo a opção absurda de incluir o Chega (sem que nenhum critério o justificasse) alterou o resultado dos dois primeiros debates (na SIC e no Observador): «Ferreira venceu. Moedas pouco melhor que Leitão», declarou o Observador («João Ferreira ganha de novo e Leitão perde para Moedas», repetiram dias mais tarde); «Com Moedas à defesa, João Ferreira impôs-se no debate de Lisboa e levou Alexandra Leitão ao prolongamento», concluiu o Expresso; o podcast da equipa de política do Público é peremptório no título escolhido – «A vitória de João Ferreira».
Nos dias que se sucederam aos debates, a discussão que prevaleceu entre os comentadores e utilizadores das redes sociais foi a prestação do candidato da CDU à Câmara Municipal de Lisboa, amplamente reconhecido como aquele que melhor conhece e melhores soluções tem para a cidade (ainda que o preconceito ideológico os impeça de votar neles, como Pedro Mexia tão bem reconheceu numa edição do Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer, o antigo Governo Sombra).
Foi uma estocada difícil de aguentar para os candidatos Carlos Moedas e, principalmente, Alexandra Leitão, perdida numa campanha cujas principais bandeiras giram em torno de mais videovigilância e de proteger o legado do PS no último mandato do PSD/CDS («PS deu condições a Carlos Moedas para governar e não se arrepende disso», afirmou a candidata da coligação PS/PAN/Livre/BE no debate no Observador). Pedro Anastácio, actual vereador do PS na CML (que viabilizou alguns dos orçamentos de Moedas) tentou ensaiar um último argumento, em desespero de causa: «Um voto em Ferreira, é um voto em Moedas». Sem sucesso.
Na véspera do debate na TSF, agendado para esta segunda-feira, 22, (anunciado a 6 de Setembro), tanto Moedas como Leitão informaram a rádio de que não tencionavam comparecer, ficando ainda na dúvida se o debate marcado para dia 23 na CNN também será boicotado pelo desinteresse destes candidatos em discutir o actual estado da cidade e da vida das pessoas que nela vivem.
Em comunicado, a CDU Lisboa considerou que «os debates sobre o estado da cidade e as soluções propostas de cada força política que se apresenta a eleições são úteis para debater ideias, esclarecer os eleitores», ressalvando que a coligação dos comunistas e ecologistas mantém a «disponibilidade para comparecer à hora marcada, fosse para a realização do debate ou entrevista, respeitando o direito ao esclarecimento dos eleitores».
Moedas, com o legado deixado na Câmara Municipal de Lisboa, faz melhor em falar o menos possível, mas é de estranhar a ausência de Alexandra Leitão, aparentemente tão empenhada em derrubar este executivo PSD/CDS-PP. É que, embora Leitão tenha cancelado o debate (público e nacional) sobre a cidade na TSF, a candidata do Partido Socialista, PAN, Livre e Bloco de Esquerda encontrou tempo na sua agenda para uma talk «member's only» paga e «sujeita a reserva prévia», conduzida e organizada pelo director da ECO, no clube privado JNcQUOI, detido pela família Amorim.
De que tem medo, afinal, Alexandra Leitão, uma candidata que «quer uma Lisboa mais justa, mais acessível e mais verde — mas com ambição para atrair talento, investimento e turismo de qualidade»?
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