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|Colômbia

ONG alertam para locais de tortura e valas comuns em Cáli

De acordo com um relatório publicado este domingo por três organizações, desde o início da greve geral 120 pessoas desapareceram em Cáli, no departamento colombiano de Valle del Cauca.

ONG reportam a existência de pelo menos 500 desaparecidos desde o início da greve geral na Colômbia, 120 dos quais só na cidade de Cáli 
Créditos / Twitter

As organizações não governamentais (ONG) Equipo Jurídico y Humanitario 21N, Corporación Justicia y Dignidad, e Comisión Intereclesial de Justicia y Paz publicaram este domingo um relatório no qual dão conta de denúncias relativas à existência de locais utilizados por paramilitares e Polícia para a detenção, tortura e, inclusive, o desaparecimento de manifestantes na cidade de Cáli, que tem sido uma das cidades mais dinâmicas na mobilização contra o governo de Iván Duque.

«Desde o passado dia 13 de Maio, as nossas organizações receberam relatos absolutamente escabrosos e delicados que ferem a consciência da humanidade pelo comportamento e as práticas policiais», alerta o informe, citado pela TeleSur.

As ONG afirmam que, desde o dia 2 de Maio, receberam denúncias de que o Centro Administrativo Municipal (CAM) de Cáli é alegadamente utilizado, de forma encoberta, como centro de operações por parte das forças de segurança.

O documento explica que alguns jovens que foram levados para as instalações do CAM terão sido posteriormente transportados para uma zona conhecida como Mulaló, a 30 minutos de Cáli. «Ali, num local previamente preparado estariam a ser descarregados corpos de jovens de bairros populares que participam nas mobilizações e que são dados como desaparecidos», refere o texto.

De acordo com o relatório, alguns dos jovens de Cáli desaparecidos foram executados nos municípios de Guacarí e Buga (a menos de 40 minutos da cidade). Desde 14 de Maio que são conhecidas denúncias sobre a eventual existência de valas comuns em zonas rurais dos municípios de Buga e Yumbo, para onde, aparentemente, estariam a ser levados os corpos de muitos jovens caleños [de Cáli]», apontam os organismos.

Acrescentam que alguns dos sobreviventes «foram encontrados com feridas de armas de fogo em centros de saúde e hoje estão aterrorizados e escondidos».

O relatório revela ainda que terá sido instalada num bairro de Cáli uma casa de pique – local usado para desmembrar corpos –, algo que classifica como «versão mais delicada das operações dos grupos de civis armados protegidos por polícias».

No documento, em que pedem ao Estado colombiano garantias processuais para investigar estas denúncias, bem como o acompanhamento por parte de organizações humanitárias nacionais e internacionais, as três ONG afirmam que os cidadãos têm medo de denunciar os factos arrepiantes perpetrados tanto pela Polícia como por grupos de civis armados apoiados pelas forças de segurança, uma vez que, enquanto testemunhas, «a sua vida, integridade física e liberdade» estão em risco.

Onde estão os desaparecidos?

A exigência do conhecimento do paradeiro das cerca de 500 pessoas desaparecidas na Colômbia desde início da greve geral, a 28 de Abril, foi uma das que marcaram as mobilizações deste domingo, depois da forte repressão policial exercida sobre os manifestantes em vários pontos do país, sobretudo em Cáli, na noite de sábado e madrugada de domingo. Os números são avançados por ONG que reúnem informação acerca da violência policial e parapolicial sobre os manifestantes.

Eduin Mauricio Capaz, indígena do povo Nasa e defensor dos direitos humanos, afirmou na sua conta de Twitter que, entre 1999 e 2003, ir procurar corpos ao Rio Cauca era uma rotina cruel. «Hoje o país está na mesma situação: corpos a boiar, desaparecidos no meio da greve na Colômbia», denunciou.

O partido Comunes também se referiu às imagens de corpos a boiar no Rio Cauca nos últimos dias, indica a Prensa Latina, tendo ainda lembrado que no passado dia 5 de Maio foi encontrado o corpo de Brahian Rojas López, outro jovem dado como desaparecido no âmbito das manifestações da greve geral, em Risaralda.

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