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A Colômbia, premiada pela «democracia»

A «democracia colombiana» foi distinguida com o World Peace and Liberty Award 2021, da Associação Mundial de Juristas. Iván Duque recebeu o prémio, em Barranquilla, das mãos do rei espanhol.

ONG reportam a existência de pelo menos 500 desaparecidos desde o início da greve geral na Colômbia, 120 dos quais só na cidade de Cáli 
ONG reportam a existência de pelo menos 500 desaparecidos desde o início da greve geral na Colômbia, 120 dos quais só na cidade de Cáli Créditos / Twitter

No texto associado à distinção, afirma-se que «a Colômbia [é] um exemplo do êxito da democracia não apenas na América Latina, mas também entre todas as nações do mundo».

O texto refere ainda que a Colômbia tem «um dos períodos mais longos de governos civis eleitos de maneira democrática na América Latina e uma sociedade civil que honra os direitos da liberdade de expressão», noticia o portal forbes.co.

De acordo com a jurista norte-americana Hilarie Bass, que leu o documento, trata-se de um país que «evita qualquer tipo de discriminação, seja por questões de género, raça, religião».

O prémio à «paz e liberdade» foi entregue no início deste mês, na cidade caribenha de Barranquilla, onde decorreu o XXVII Congresso da World Jurist Association, que se apresenta como organização não governamental defensora dos direitos humanos e do Estado de Direito.

Na sessão de encerramento de um evento em que, além do rei espanhol, estiveram figuras como o súbdito Albert Rivera (ex-presidente do Ciudadanos) ou o secretário-geral da Organização de Estados Americanos, Luis Almagro, o presidente da associação de juristas, o advogado espanhol Javier Cremades, disse que «a Colômbia se tornou, sem qualquer dúvida, no melhor país da região». E acrescentou: «A Colômbia é uma das poucas estrelas que brilham no firmamento da liberdade.»

Iván Duque e o rei espanhol Felipe VI, na entrega do prémio à «democracia colombiana», em Barranquilla  Créditos

«O prémio e a mentira»

Num texto intitulado «Colômbia: o prémio e a verdade», publicado dia 7 no portal do canal libanês Al Mayadeen, o jornalista cubano Omar Rafael García Lazo afirma que «nos seus anos de existência a Colômbia não conheceu a democracia, nem sequer a liberal burguesa». E, lembrando guerras e violências de diferente tipo, diz que o país sul-americano «não conheceu sequer a paz».

Para fundamentar a «tibieza» da «democracia colombiana» e da distinção atribuída, García Lazo recorre a dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), alguns deles já desactualizados, porque mais dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos foram assassinados no país desde que o texto foi escrito.

Segundo o Indepaz, só este ano foram mortos 164 (1278 desde a assinatura do acordo de paz), além de 44 ex-combatentes das FARC que subscreveram esse acordo. Ainda este ano, entre Abril e Junho, 80 pessoas perderam a vida no contexto da brutal repressão policial e militar sobre os protestos que abalaram o país – num cenário de elevada pobreza, desigualdade, precariedade, corrupção e repressão institucionalizada – militar, paramilitar e narcotraficante.

Na recepção do prémio, Duque esteve a milhas desta realidade, afirmando que a «democracia colombiana será um farol no hemisfério». O rei espanhol também andou por outras paragens. O Indepaz regista quase 90 massacres em 2021, com um saldo superior a 300 vítimas no país, mas Felipe VI diz que a «democracia colombiana se mantém sólida».

Rei espanhol, presidente colombiano e demais figuras ilustres da associação de juristas também parecem não ter dado grande importância a um relatório recente do Banco Mundial, de acordo com o qual o país sul-americano é o segundo com maior nível de desigualdade na América Latina.

Para a noção de «democracia» desta associação também parecem não contar os dados oficiais do Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE), de acordo com os quais quase metade dos trabalhadores colombianos (48%) tem trabalhos informais.

O mesmo organismo revelou, em Abril deste ano, que há na Colômbia 21 milhões de pessoas em situação de pobreza (42,5% da população) e mais de sete milhões em pobreza extrema (com rendimentos inferiores a 128 euros por mês).

Ainda assim, ao que parece, reina «a paz e a liberdade» em Nariño, Cauca e Valle, e daí até La Guajira, Colômbia afora. Os «pecados» moram ao lado, na Venezuela e nas suas amigas Nicarágua e Cuba.

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