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|Um outro Mundial

O coração de Eriksen e o apelo dinamarquês

A 12 de Junho de 2021, o coração de Christian Eriksen parou. Um ano depois, Eriksen já encanta nos terrenos da Premier League e vai voltar a liderar a seleção da Dinamarca no Mundial do Catar.

Christian Eriksen usou uma braçadeira arco-irís em 2017, durante a qualificação para o Mundial de 2018, em apoio às pessoas LGBTI+ 
Christian Eriksen usou uma braçadeira arco-irís em 2017, durante a qualificação para o Mundial de 2018, em apoio às pessoas LGBTI+ Créditos / @Squawka

A 12 de Junho de 2021, em Copenhaga, o coração de Christian Eriksen parou. Estava no centro do relvado, numa partida entre a sua seleção e a da Finlândia, a contar para o Euro 2020. O mundo inteiro assistiu à queda da estrela dinamarquesa, à união e ao desespero dos seus colegas e familiares, temendo uma tragédia televisionada. O jogo, no entanto, continuou. A Dinamarca, com Christian Eriksen já consciente e a recuperar numa cama de hospital, seguiu heroicamente até às meias-finais, acabando como uma das surpresas da prova.

Passou mais de um ano e Christian Eriksen já voltou a encantar nos terrenos da Premier League, primeiro ao serviço do Brentford, agora com o Manchester United. Vai voltar a ser ele a liderar a seleção da Dinamarca no Mundial do Catar. Uma seleção que tentou, pela via diplomática, abrir espaço para várias manifestações na defesa dos direitos humanos neste país.

Nas últimas conferências de imprensa, jogadores, treinador e dirigentes não deixaram de transmitir a sua mensagem. O patrocinador do equipamento quase apagou os símbolos do mesmo, tentando expressar a sua indignação perante os acontecimentos que rodeiam esta competição. Ao entrar em campo, a Dinamarca não estará calada perante as injustiças que outros tentam defender.

Karim Benzema, o ausente

O Mundial que iria ser o de Karim Benzema, o melhor jogador do mundo, já não será. Uma lesão roubou ao avançado do Real Madrid uma oportunidade que esperava desde o início da sua carreira. O seu único Mundial foi jogado no Brasil, em 2014. Uma longa ausência da seleção, devido a uma participação num esquema de chantagem sobre um colega, retirou expressão internacional a um jogador que sempre brilhou ao serviço do seu clube.

«A diversidade apresentada pela seleção campeã do mundo em 1998 nunca foi vivenciada com tranquilidade social num país (...) que também foi vendo crescer a expressão da extrema-direita na sua realidade política.»

A história de Benzema é um pouco a história da França nas últimas décadas. A diversidade apresentada pela seleção campeã do mundo em 1998 nunca foi vivenciada com tranquilidade social no país. Acusações de diferença de tratamento dado a descendentes de africanos nos escalões de formação, problemas de integração de jovens de ascendência magrebina nas seleções, são situações que se sentem num país que, neste período, também foi vendo crescer a expressão da extrema-direita na sua realidade política.

Não ter Karim Benzema neste Mundial é, para além disso, só mais um problema para Didier Deschamps. As lesões já haviam deixado de fora Presnel Kimpembe, Christophe Nkunku e N’Golo Kanté, todos com boas perspetivas de serem titulares. Paul Pogba, outra das estrelas, também fica de fora devido a problemas físicos, num ano em que os seus conflitos familiares extrapolaram para o público e demonstraram um entorno problemático para um jogador que ainda não encontrou tranquilidade na sua carreira. A caminhada da França até este Mundial é uma aventura feita de imensos labirintos.

A casa saudita

O primeiro Mundial num país árabe e muçulmano não se realizará no gigante regional, a Arábia Saudita, mas no pequeno e disruptor Catar. O crescimento, no quadro mundial, das influências das forças cataris tem utilizado o desporto como meio para expressar a sua existência perante um vizinho que tem adotado diferentes estratégias para o controlar. Entre 2017 e 2021, o embargo imposto pelos sauditas colocou tudo em causa, não só a realização deste Mundial mas a própria subsistência do país. O Catar, ainda assim, resistiu.

Nessa prova de força dos cataris nasceu uma nova atitude dos sauditas, cada vez mais envolvidos em negócios e ações diplomáticas com os seus vizinhos. Não será, por isso, de espantar que os jogos da Arábia Saudita passem a imagem de ser jogados em casa. Num grupo de enorme exigência, e com uma estreia frente à Argentina de Messi, o sucesso desportivo da equipa saudita parece um objetivo difícil de concretizar. Mas a transformação deste Mundial, um ano depois do Estado da Arábia Saudita ter adquirido o Newcastle United, da Premier League, numa oportunidade de demonstração de força saudita em território catariano não será desperdiçada.

O futebol é, aqui, apenas um meio para alcançar outros fins.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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