Reúnem-se, hoje e amanhã, em Haia, nos Países Baixos, os líderes dos 32 países que integram a Organização do Tratado Atlântico Norte (NATO). A mesma NATO que tem vindo a participar, patrocinar ou promover conflitos em vários pontos do globo – sete décadas de mentiras, guerra e sangue, como descreveu José Goulão em 2019, um dos artigos que o AbrilAbril republica na sua primeira página, no âmbito da cimeira da Aliança Atlântica.
Enquanto braço armado do imperialismo, a história da NATO constrói-se de narrativas ficcionadas numa espécie de novilíngua, em que resistência é sinónimo de «terrorismo» e os países anti-imperialistas são classificados de «ameaças». Sempre com um duplo critério, em que a solidariedade e a defesa dos direitos humanos valem, sobretudo, para um dos lados do hemisfério, enquanto se ignoram crimes cometidos pelos aliados. Voltou a acontecer esta segunda-feira, com o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, a rejeitar que os EUA tivessem violado o direito internacional ao bombardearem território iraniano. Porque, nessa novilíngua que diariamente nos apresentam como correcta, em que democracia é um termo cada vez mais arredado da soberania popular, há os bons e os maus, e, como sempre acontece, os maus são os outros. De preferência, aqueles que se pareçam menos connosco ou vivam em apetitosos territórios do ponto de vista dos recursos naturais, mas não só, e onde as guerras são sempre «justas».
Nos maus não entra Israel, que, com o estafado argumento de que está a defender-se, já assassinou mais de 55 mil palestinianos (mais de metade mulheres e crianças) e este mês iniciou nova guerra com o Irão. Tal como não entram os EUA ou a NATO, que em 2021 António Costa apelidou de «essencial para garantir a paz e a segurança a um vasto espaço». De que «paz» e espaço falava o então primeiro-ministro português? A realidade responde. À Jugoslávia, primeira agressão militar a um país soberano no continente europeu, após Segunda Guerra Mundial, a Aliança Atlântica soma crimes de desestabilização, invasão e bombardeamento em países como o Iraque, a Líbia, o Afeganistão e a Síria, sempre em nome dos alegados valores democráticos que diz defender, e que apenas semearam o caos nestes territórios. Estados falhados, milhões de refugiados (que a guerra com o Irão poderá fazer aumentar) e lucros recorde para o complexo militar-industrial, enquanto a clique EUA-UE vai normalizando a violência com a desculpa da democracia e da paz, valores que não defende.
A receita dos senhores da guerra para os males do mundo, que cospem na Carta das Nações Unidas quando patrocinam o genocídio em Gaza (aqui não há indignações com crimes de guerra contra civis), segue na cimeira organizada pelos holandeses, onde em cima da mesa está aumentar a sangria de dinheiro público para o reforço do armamento em nome da alegada segurança, ou não fosse esssa a matriz do projecto imperialista criado em 1949. Cabe aos povos dizer «Não» a esta hipocrisia com cheiro a pólvora e exigir que mais nenhum euro seja canalizado para a guerra. O tempo é de exigir paz, e isso não custa dinheiro.
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