Apoiantes da causa saarauí, membros de várias organizações do movimento solidário com o Saara Ocidental e representantes de organizações políticas e sindicais espanholas juntaram-se, esta sexta-feira, frente à sede do Ministério espanhol dos Negócios Estrangeiros, em Madrid, para denunciar a mudança radical de atitude do governo liderado por Pedro Sánchez relativamente à ocupação marroquina do Saara Ocidental, há precisamente um ano.
Convocada pela Coordenadora Estatal de Associações Solidárias com o Saara (CEAS), a concentração serviu para reforçar a solidariedade com o povo saarauí e apoiar as suas legítimas reivindicações de autodeterminação e soberania, refere o Sahara Press Service (SPS).
A ocasião foi igualmente aproveitada para condenar as «violações flagrantes e contínuas dos direitos humanos», bem como «a repressão desencadeada contra activistas saarauís e as suas famílias» nos territórios ocupados.
A «traição de Sánchez», há um ano
Há precisamente um ano, ficou-se a saber que o governo espanhol, sintonizado com as teses de Rabat, defendia o plano de autonomia de Marrocos para o Saara Ocidental, apresentado em 2007, como «a base mais séria, realista e credível» para a resolução do conflito.
Tratou-se de uma mudança no posicionamento histórico assumido pelos diferentes governos do Estado espanhol, de apoio ao direito do povo saarauí a decidir o seu futuro.
A decisão assumida por Sánchez foi muito criticada em Espanha, onde mais de uma dezena de partidos solicitaram a presença do primeiro-ministro espanhol no Parlamento, exigindo-lhe explicações sobre uma «marcha-atrás» que foi também criticada por parceiros da coligação governamental.
Num Estado onde existe um amplo movimento de solidariedade com o Saara Ocidental, sucederam-se então as mobilizações contra o «posicionamento inqualificável» de Sánchez, nas quais se acusou a «cúpula do PSOE» de agir com «falsidade» contra os seus próprios votantes e simpatizantes.
Abdullah Arabi, delegado da Frente Polisário em Espanha, disse então que a aposta de Espanha na autonomia do Saara Ocidental era uma das muitas traições sofridas pelo povo saarauí em mais de quatro décadas e meia, e sublinhou que, acima de tudo, «traía «o compromisso e a solidariedade da sociedade espanhola».
«Espanha está a tentar impor a escolha de uma das partes como única solução para o conflito do Saara Ocidental», disse Arabi, frisando que se trata de uma mudança de posição relativamente às Nações Unidas e também «a um consenso que existiu na política externa espanhola nos últimos 46 anos».
«Não estamos de acordo, em nosso nome não queremos consumar a vergonha»
Assinalando esta «traição», Xavier Serra, presidente da CEAS, afirmou: «Um ano depois, queremos voltar a dizer que nós, o movimento solidário com o povo saarauí, não estamos de acordo, em nosso nome não queremos consumar a vergonha.»
Sublinhando que não se opõe a relações normais com Marrocos, «mas exigindo, como a qualquer outro Estado, que respeite os direitos humanos e o direito internacional», Serra reafirmou o apoio do movimento solidário «à justa causa do povo saarauí e ao seu direito de autodeterminação e independência».
A Pedro Sánchez, disse que «nem nós, nem a população em geral, nem a maioria dos partidos políticos, incluindo militantes do seu próprio partido, estão de acordo com a sua posição».
«Exigimos que regresse à senda da legalidade internacional, exigimos a realização do referendo e que Espanha assuma as suas responsabilidades com o povo saarauí, seguindo e auspiciando o processo de descolonização pendente até à autodeterminação e à independência», afirmou.