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Pontos de distribuição de ajuda em Gaza são «campos de morte»

Autoridades palestinianas e organizações internacionais insistem no alerta: os palestinianos estão a ser mortos à fome. A MSF denuncia que os «locais de distribuição» são um «novo horror» e «campos de morte».

Um grupo de palestinianos é levado para o Hospital Nasser, em Khan Yunis, depois de ter sido atingido a tiro por forças de ocupação quando procurava comida Créditos / PressTV

De acordo com as autoridades palestinianas na Faixa de Gaza, o regime sionista está a matar à fome, lentamente, mais de dois milhões de pessoas, incluindo um milhão de menores.

Um comunicado divulgado este domingo pelo gabinete de imprensa alerta para os efeitos do bloqueio prolongado ao território, imposto por Israel, que impede a entrada de bens essenciais.

As crianças e as pessoas doentes são particularmente atingidas por esta «política sistemática de fome planeada», acusa o texto divulgado no Telegram e a que a PressTV faz referência.

Mais de 40 mil crianças com menos de um ano sofrem de desnutrição grave, enquanto mais de 100 mil crianças e doentes estão em risco de vida, por falta de comida, acrescenta o texto.

Também a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (Unrwa) reitera os alertas para a situação de fome no enclave, afirmando que «as pessoas em Gaza estão a viver em condições desumanas», que a fome se está a disseminar depressa e que a maior parte das crianças vistas pelas equipas de saúde está «magra, fraca e em risco de vida».

MSF: o «novo horror» dos chamados centros de distribuição

Um responsável da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) chamou a atenção para o número crescente de palestinianos feridos a tiro nos pontos de distribuição de ajuda geridos por Israel em conjunto com os EUA.

Em declarações que a PressTV recolheu, o médico Mohamed Abu Mughaiseb, coordenador médico adjunto da MSF, caracterizou esses chamados pontos de distribuição como perigosos, frisando que «lugares que deveriam ajudar palestinianos famintos se tornaram campos de extermínio».

De acordo com o responsável, desde o lançamento, no final de Maio, dos locais geridos pela chamada Gaza Humanitarian Foundation (GHF) – por iniciativa israelita com o apoio dos EUA –, o número de feridos palestinianos triplicou.

Dados divulgados pelo Ministério palestiniano da Saúde em Gaza apontam para 1924 palestinianos mortos e mais de 14 mil feridos enquanto procuravam ajuda nestes espaços.

Sistema de saúde mal funciona

O médico destacou ainda o facto de o sistema de saúde no enclave, que já era precário, hoje quase não funcionar, ao cabo de 22 meses e meio de ofensiva israelita.

«Aquilo que resta do sector é apenas um esqueleto frágil e que agora enfrenta um novo horror», disse Mughaiseeb ao referir-se ao número crescente de feridos que ali chegam e para os quais as infra-estruturas de saúde não têm resposta.

«Vemos membros decepados, infecções graves, ossos estilhaçados e artérias rotas, que exigem cirurgias urgentes e cuidados intensivos», afirmou, para destacar que a capacidade de realizar esses procedimentos foi drasticamente comprometida pela ofensiva em curso.

Neste contexto, apelou a um cessar-fogo imediato e à entrada sem restrições de ajuda humanitária no território, frisando que, sem estas medidas, «não haverá nada para salvar, nem hospitais, nem pacientes, nem futuro».

Mais mortes

Esta segunda-feira, as autoridades de saúde na Faixa de Gaza informaram que mais cinco pessoas haviam falecido devido à fome, elevando para 263 o número de mortos por fome ou problemas relacionados. Destas, 112 são crianças.

A Wafa, que divulgou a notícia, deu também conta de mais mortos e feridos palestinianos, esta segunda-feira, nos chamados pontos de distribuição de ajuda, bem como resultantes de bombardeamentos israelitas em vários pontos do enclave.

Desde Outubro de 2023 até este domingo, pelo menos 61 944 palestinianos foram mortos e 155 886 ficaram feridos como resultado da ofensiva israelita. O número de vítimas sob os escombros é indeterminado.

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