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Mercenários dos EUA confirmam disparos contra palestinianos em busca de ajuda

Mercenários norte-americanos contratados operam com total impunidade em zonas controladas por Israel, nos chamados centros de distribuição de ajuda da GHF, revelou uma agência noticiosa.

Palestinianos deslocados numa estrada a caminho de um centro de «ajuda» em Rafah, Sul da Faixa de Gaza, em Junho de 2025 Créditos / MEE

Elementos contratados para garantir a segurança dos espaços da designada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) estão a disparar fogo real, granadas atordoantes e gás pimenta contra civis palestinianos que procuram receber comida na Faixa de Gaza, de acordo com testemunhos e provas de vídeo recolhidos e analisados pela AP.

«Há pessoas inocentes a ser feridas. Gravemente. Desnecessariamente», disse um dos mercenários norte-americanos, tendo-se referido a pessoal contratado não qualificado, não sujeito a investigação, fortemente armado e que parecia ter a liberdade para fazer o que lhe apetecesse nos chamados centros de ajuda financiados pelos EUA.

Falando anonimamente, por receio de retaliações, dois dos mercenários disseram que a força letal é utilizada de forma rotineira, mesmo quando não existem «ameaças».

«Foram disparadas balas em todas as direcções – para o ar, o chão e, por vezes, em direcção aos palestinianos», disse um deles, recordando pelo menos um caso em que uma pessoa foi provavelmente atingida.

Ainda de acordo com a fonte, os mercenários descreveram como o pessoal monitorizava os palestinianos nos portões, como rotulava alguns como «suspeitos» e partilhava esses dados com a ocupação sionista.

Afirmaram que norte-americanos e israelitas visionavam imagens em directo dos centros de distribuição utilizando software de reconhecimento facial.

Imagens filmadas nos locais mostram homens fortemente armados e a discutir, em inglês, como dispersar multidões, enquanto se ouvem disparos nas imediações. «Acho que atingiste aquele», diz uma voz, seguida de celebrações. «Claro que sim, pá!», ouve-se outra voz.

Num outro vídeo, um homem diz: «Estás a sentir o gosto deste gás pimenta? Bleah!», enquanto os palestinianos tossem e vão para trás dos portões de metal.

Cooperação israelo-norte-americana

As cenas foram filmadas em centros de distribuição operados pela fundação norte-americana GHF, com o apoio da ocupação israelita em zonas por ela controladas.

Os jornalistas estão impedidos de aceder aos locais onde actuam os mercenários contratados pela empresa norte-americana UG Solutions, que é acusada de agir com toda a impunidade.

De acordo com registos internos divulgados pela AP, só numa única distribuição, em Junho, os mercenários utilizaram 37 granadas atordoantes, 27 balas de borracha e fumo, e 60 latas de gás pimenta – além de fogo real.

A Safe Reach Solutions (SRS), empresa de logística subcontratada pela GHF – que nega qualquer recolha de inteligência ou utilização de tecnologia biométrica nos espaços de distribuição, mas admitiu estar coordenada com a ocupação –, afirma que o ambiente nesses locais é seguro. No entanto, um relatório interno indica que, num período de duas semanas em Junho, houve ferimentos em 31% das distribuições.

Disparos contra palestinianos após a recolha de ajuda

Os mercenários que falaram sob anonimato disseram que os Palestinianos são muitas vezes atingidos já depois de terem recolhido ajuda. Num dos espaços, os guardas, colocados em torres e sobre montes de lixos, abriram fogo para «dispersar a multidão», mesmo depois de os palestinianos se terem ido embora.

Relatando o que os palestinianos lhe disseram, um afirmou: «Dispararam contra nós de ambos os lados». «Porque é que disparam contra nós?»

Ambos os contratados não identificados que falaram mostraram-se perturbados com o que viram nos espaços geridos pela GHF. «Isto não é ajuda, é uma zona de guerra», disse um deles.

Alertas reiterados

O Ministério da Saúde em Gaza tem denunciado repetidamente as mortes nos locais de distribuição de ajuda implementados no âmbito do esquema israelo-norte-americano – e ontem voltou a registar novos casos.

De acordo com as autoridades de saúde, mais de 600 palestinianos foram ali mortos e mais de 4500 ficaram feridos quando aguardavam por comida ou nas imediações dos centros.

Vários representantes das Nações Unidas criticaram a utilização da fome como arma por parte de Israel. Um deles foi Thameen al-Kheetan, que disse que «pessoas desesperadas e famintas em Gaza continuam a enfrentar a escolha desumana de morrer à fome ou arriscar a vida ao tentar obter comida».

Por seu lado, o comissário-geral da agência da ONU para os refugiados palestinianos (Unrwa), Philippe Lazzarini, denunciou que o mecanismo de ajuda imposto por Israel «humilha e degrada pessoas desesperadas».

Desde o início da agressão israelita à Faixa de Gaza, em Outubro de 2023, pelo menos 57 130 palestinianos foram mortos e 135 173 ficaram feridos, de acordo com os registos das autoridades de saúde.

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