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«Gaza é uma jaula onde as pessoas são condenadas a morrer»

Um pediatra norte-americano que trabalhou como voluntário em hospitais de Gaza denunciou os ataques deliberados aos palestinianos nos centros de distribuição de ajuda geridos pela GHF com apoio dos EUA.

Imagem aérea (captada por um drone) da destruição em Rafah, no Sul da Faixa de Gaza Créditos / PressTV

Ahmed Yousaf fez declarações a uma cadeia árabe na Jordânia, esta terça-feira, horas depois de ter regressado da Faixa de Gaza, onde esteve duas semanas e meia a trabalhar nos hospitais al-Aqsa, em Deir al-Balah, e al-Shifa, na Cidade de Gaza.

O médico disse ter sido testemunha de «incidentes com muitas vítimas» devido aos tiroteios israelitas nos pontos de distribuição de comida geridos pela GHF (Gaza Humanitarian Foundation), com o apoio dos Estados Unidos, quase diariamente.

Os rapazes e jovens chegavam com ferimentos muito específicos, «quase como um padrão diário», declarou à cadeia árabe.

«Num determinado dia, digamos segunda-feira, recebíamos 40 a 60 doentes a uma determinada hora, e todos baleados nas pernas, na zona pélvica ou na virilha, num determinado dia, um padrão semelhante», disse.

«E, no dia seguinte, víamos a parte superior do corpo, o tórax, o padrão torácico, e havia dias em que víamos apenas ferimentos na cabeça e ferimentos de bala na parte superior do pescoço. E a sensação, pelo menos para mim, era de que o atirador naquele dia iria escolher a forma como iria mutilar ou matar as pessoas», acrescentou.

«Não havia discriminação em relação à idade», disse.

As observações do voluntário norte-americano são as mais recentes da parte de pessoal médico na Faixa de Gaza a acusar as forças de ocupação israelitas e os mercenários dos EUA de atingir deliberadamente os palestinianos em busca de ajuda nos centros da GHF.

Várias organizações humanitárias acusaram esses locais de distribuição de serem «desumanizados» e uma forma orquestrada de mantança. Só na terça-feira, fontes médicas e testemunhas no enclave revelaram que 19 pessoas tinham sido mortas nos locais da GHF.

Desde que esta operação «humanitária» foi montada por Israel e os EUA, no final de Maio, mais de 1800 palestinianos foram mortos quando esperavam por ajuda e mais de 13 400 ficaram feridos.

Pelo menos 500 crianças hospitalizadas devido à fome

O Ministério da Saúde em Gaza revelou, esta terça-feira, que há 500 crianças nos hospitais do enclave em virtude da fome e da má-nutrição provocadas pelo bloqueio israelita.

A mesma fonte, citada pela agência iemenita Saba, disse que, desde o início do ano, mais de 28 mil pessoas no território sofreram de desnutrição.

Por seu lado, Juliette Touma, porta-voz da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (Unrwa), disse a uma cadeia de TV que uma em cada cinco crianças no território palestiniano «está malnutrida».

A funcionária disse que «a fome se espalha muito depressa» e que os trabalhadores da agência passam fome e desmaiam quando estão de serviço.

Na sua conta de Twitter (X), a Unrwa lembra que Israel impede há mais de cinco meses a organização humanitária de fazer entrar comida, medicamentos e outros materiais vitais no enclave.

Nesse sentido, insiste na necessidade de um cessar-fogo urgente para permitir a entrada «segura, regular e em grande escala» de ajuda.

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