Em votação secreta realizada ontem de manhã, a candidatura do Reino de Marrocos para a presidência do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas venceu a da África do Sul por 30 votos contra 17, num ano em que corresponde ao continente africano assumir a presidência do organismo composto por 47 países.
A este propósito, Khadiyetu El Mokhtar sublinha, num artigo ontem publicado, que foi eleito para o cargo «o reino do terror e da ocupação», que tinha pela frente «o país que levou a cabo a luta mais nobre contra o racismo e a opressão».
A activista saarauí afirma que a eleição da «ditadura de Mohamed VI», numa eleição «cujos artífices são 47 países em representação do resto dos países e povos do mundo», fez soar todos os alarmes junto dos diversos colectivos e organizações de defesa dos direitos humanos, em particular junto daqueles que representam os saarauís.
«O movimento de defesa dos direitos humanos e o movimento solidário pró-saarauí em todo o mundo tinha liderado uma campanha internacional contra a candidatura de Marrocos», afirma, lembrando que quem mais empenho nela colocou foram os activistas nos territórios ocupados do Saara Ocidental, como Sultana Khaya, Aminetu Haidar, Elgalia Djimi, Mina Baali, entre outros.
«Hoje, é um dia triste para as pessoas que lutam por implementar a justiça e o respeito pelos direitos humanos em todo o mundo. África não merece um representante nas Nações Unidas que seja conhecido pelos seus massacres e assassinatos de subsaarianos nas fronteiras de Ceuta e Melilha. Também não o merecem os saarauís que lutam há meio século contra uma ocupação militar ilegal do seu território», denuncia.
Para a representante da Frente Polisário na Comunidade de Madrid (Estado espanhol), «com esta eleição, a ONU e a comunidade internacional premeiam os países que violam de forma sistemática os direitos humanos dos saarauís e, do mesmo modo, do povo marroquino».
Neste contexto, diz que «não é descabido pensar que o regime marroquino possa solicitar a substituição da incompetente Missão das Nações Unidas para a realização do Referendo no Saara Ocidental (MINURSO), já que o referendo não se celebra, para assim poder continuar a massacrar o povo saarauí com a autorização oficial da ONU sob a presidência do Conselho de Direitos Humanos».
«Bem-vindos ao 2024 em que Marrocos, força de ocupação ilegal de um país africano e único país do continente que não ratificou a Carta Africana dos Direitos Humanos1, preside ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas», afirma.
- 1. De acordo com o Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos, 54 dos 55 estados-membros da União Africana (UA) ratificaram ou aderiram à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, com excepção de Marrocos.
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