|Saara Ocidental

«A impunidade preside ao Conselho de Direitos Humanos da ONU»

É nestes termos que Khadiyetu El Mokhtar, delegada saarauí na Comunidade de Madrid (Espanha), se refere à eleição de Marrocos, esta quarta-feira, para a presidência do organismo com sede em Genebra.

Nos territórios ocupados do Saara Ocidental, o povo saarauí é alvo de uma repressão brutal por parte das forças marroquinas de ocupação 
Créditos / ecsaharaui.com

Em votação secreta realizada ontem de manhã, a candidatura do Reino de Marrocos para a presidência do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas venceu a da África do Sul por 30 votos contra 17, num ano em que corresponde ao continente africano assumir a presidência do organismo composto por 47 países.

A este propósito, Khadiyetu El Mokhtar sublinha, num artigo ontem publicado, que foi eleito para o cargo «o reino do terror e da ocupação», que tinha pela frente «o país que levou a cabo a luta mais nobre contra o racismo e a opressão».

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Mulheres saarauís condenam «opressão e abusos» nas cidades ocupadas

Expressando «solidariedade incondicional» a todas as mulheres palestinianas, a União Nacional das Mulheres Saarauís (UNMS) destaca a situação que elas mesmas vivem nos territórios ocupados por Marrocos.

As mulheres saarauís denunciam a violência que sofrem nas cidades ocupadas por Marrocos 
Créditos / Sahara Press Service

Num documento emitido por ocasião do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres (25 de Novembro), a UNMS denunciou a violência a que são submetidas as mulheres saarauís nas cidades sob domínio do ocupante marroquino.

O texto chama a atenção para «a opressão e os abusos» que as mulheres saarauís sofrem às mãos das «forças repressivas marroquinas», tendo-se referido, nomeadamente, às «tareias, violações e torturas verbais e morais», bem como à «criminalização e fabrico de acusações contra elas», indica a agência Sahara Press Service (SPS).

Não esquecendo também a situação que vivem as mulheres palestinianas nos territórios ocupados pelas forças israelitas, o organismo criado em 1974 apela às organizações internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas, que garantam «a protecção das mulheres, em especial das saarauís e palestinianas, que são sujeitas a diversos tipos de opressão por parte da ocupação, perante um terrível e vergonhoso silêncio da comunidade internacional».

Ao alertarem para a situação que vivem nos territórios ocupados, as mulheres saarauís chamaram também a atenção para as mulheres palestinianas / Sahara Press Service

De acordo com a SPS, a União Nacional de Mulheres Saarauís exige, além disso, que as organizações humanitárias e de direitos humanos «pressionem Marrocos para que detenha a repressão e as violações dos direitos humanos das mulheres nas Zonas Ocupadas do Saara Ocidental».

«Mulheres de areia. No deserto em busca da liberdade», exposição em Silves

Promovida pela pelo MDM – Movimento Democrático de Mulheres, em conjunto com a Junta de Freguesia de Silves e Câmara Municipal de Silves, a exposição fotográfica «Mulheres de areia. No deserto em busca da liberdade», inaugurada no Mercado de Silves no âmbito do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, estará patente ao público até 17 de Dezembro deste ano. [Sobre a inauguração, mais informação no portal jf-silves.pt.]

Quando da inauguração desta exposição documental em Setúbal, em Julho de 2020, o MDM afirmou a propósito no seu portal: «Ilustra as condições de vida e a trágica realidade do povo saarauí refugiado no deserto há mais de 40 anos.»

O organismo criado em 1974 apela às organizações internacionais, incluindo a ONU, que garantam «a protecção das mulheres, em especial das saarauís e palestinianas» / Sahara Press Service

O Movimento Democrático de Mulheres explicou igualmente que se trata de mostrar «a resistência do povo e o papel essencial da mulher saarauí nos acampamentos de refugiados em Tindouf, na Argélia».

A mostra, que é «uma visão feminina sobre este conflito», resulta da «participação de uma delegação do MDM no VIII Congresso da União Nacional das Mulheres Saarauís, em Fevereiro de 2019».

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A activista saarauí afirma que a eleição da «ditadura de Mohamed VI», numa eleição «cujos artífices são 47 países em representação do resto dos países e povos do mundo», fez soar todos os alarmes junto dos diversos colectivos e organizações de defesa dos direitos humanos, em particular junto daqueles que representam os saarauís.

«O movimento de defesa dos direitos humanos e o movimento solidário pró-saarauí em todo o mundo tinha liderado uma campanha internacional contra a candidatura de Marrocos», afirma, lembrando que quem mais empenho nela colocou foram os activistas nos territórios ocupados do Saara Ocidental, como Sultana Khaya, Aminetu Haidar, Elgalia Djimi, Mina Baali, entre outros.

«Hoje, é um dia triste para as pessoas que lutam por implementar a justiça e o respeito pelos direitos humanos em todo o mundo. África não merece um representante nas Nações Unidas que seja conhecido pelos seus massacres e assassinatos de subsaarianos nas fronteiras de Ceuta e Melilha. Também não o merecem os saarauís que lutam há meio século contra uma ocupação militar ilegal do seu território», denuncia.

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Intensifica-se a repressão marroquina no Saara Ocidental ocupado

A acusação é fundamentada no relatório anual que o Colectivo de Defensores dos Direitos Humanos no Saara Ocidental (Codesa) apresentou no final de Julho.

De acordo com o Codesa, os crimes e violações perpetrados por Marrocos contra a população saarauí aumentaram Créditos / Plataforma Cascais

O documento, divulgado no passado dia 28 de Julho em El Aiune, é o primeiro que a organização não governamental realiza desde a sua fundação, em Setembro de 2020, e tem como título «A continuidade dos crimes de guerra e contra a humanidade perpetrados pelas forças de ocupação marroquinas contra os civis saarauís: Que futuro para a descolonização do Saara Ocidental ocupado?».

Segundo foi referido na apresentação, feita em conferência de imprensa, o relatório, que regista violações dos direitos humanos e crimes de guerra cometidos no Saara Ocidental ocupado entre Setembro de 2020 e Dezembro de 2021, «reflecte a gravidade e a escala das violações cometidas pelas forças de ocupação marroquinas contra os civis saarauís».

Depois da retirada de Espanha – a potência colonial – e desde a invasão de Marrocos, em 1975, o território do Saara Ocidental «encontra-se sob cerco militar, bloqueio mediático e o seu povo vive dividido pelo muro de separação militar marroquino», lembra o Codesa.

Em 1991, a ONU mediou um acordo de cessar-fogo – que se manteve em vigor até 13 de Novembro de 2020 – entre as forças marroquinas e a Frente Polisário (movimento que defende a independência do território saarauí) e criou a Missão das Nações Unidas para o Referendo do Saara Ocidental (Minurso), que devia seguir o cessar-fogo e concretizar o referendo de autodeterminação que as resoluções da ONU defendem.

Membros do Codesa / SPS 

No entanto, alerta o Codesa, a população saarauí continua a ser alvo de violações dos direitos humanos e crimes de guerra sem que se vejam sinais claros da parte da comunidade internacional de que vá manter o compromisso de completar o processo de descolonização, prometido em 1991, tendo como base o direito de autodeterminação consagrado no Direito Internacional.

Crimes perpetrados por Marrocos intensificaram-se

De acordo com o relatório, a opressão no Saara Ocidental ocupado aumentou desde que Marrocos violou o acordo de cessar-fogo, em vigor desde 1991, em Novembro de 2020.

Entre Setembro de 2020 e Dezembro do ano passado, o organismo registou 20 execuções extra-judiciais, bem como 121 casos de detenções arbitrárias e raptos de cidadãos saarauís, perpetrados pelas forças marroquinas de ocupação.

No mesmo período, ataques marroquinos fizeram com que pelo menos 264 cidadãos saarauís ficassem feridos, tendo sido ainda registadas 139 situações de cercos a casas.

Para além das várias situações de repressão sistemática a que a população saarauí é submetida nos territórios ocupados – também com recurso à utilização de drones e fogo real, tortura e violação –, o relatório destaca a situação dos presos políticos nas cadeias marroquinas.

De acordo com o Codesa, os prisioneiros saarauís vêem negado o respeito pelos seus direitos fundamentais, vivendo em «condições duras» e enfrentando, entre outras coisas, «represálias, maus-tratos e discriminação».

São ainda reportadas situações como a «solitária», a recusa de visitas, negligência médica, falta de comida e de condições sanitárias.

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Saarauís acusam o governo espanhol de «espezinhar a legalidade»

O Gabinete Permanente da Frente Polisário afirma que, com o seu posicionamento recente, o governo de Sánchez favorece a «tese expansionista e agressiva» de Marrocos.

Milhares de manifestantes protestaram em Tenerife e Las Palmas (na foto), nas ilhas Canárias, região autónoma espanhola ao largo da costa africana, a 26 de Março de 2022, contra o reconhecimento pelo governo de Madrid da soberania de Marrocos sobre o Saara Ocidental, contra todas as resoluções da ONU
Manifestação nas ilhas Canárias, a 26 de Março de 2022, contra o apoio do governo de Sánchez ao plano de Marrocos para o Saara Ocidental CréditosI. Durán / La Provincia

«A posição do primeiro-ministro espanhol em apoio da tese expansionista e agressiva de Marrocos» foi condenada este domingo pelo Gabinete Permanente da Frente Polisário, indica o Sahara Press Service (SPS).

Um comunicado subsequente à reunião do gabinete, celebrada no domingo e presidida por Brahim Ghali, secretário-geral da Frente Polisário, sublinha que se trata de «um passo na direcção de espezinhar a legitimidade internacional e os direitos legítimos do povo saarauí, consagrados na Carta e nas resoluções das Nações Unidas».

Neste contexto, o documento enaltece a «solidariedade esmagadora por parte dos povos de Espanha, das suas forças políticas, sindicais e da sociedade civil, que insistiram na responsabilidade jurídica, política e moral do Estado espanhol para com o povo saarauí, à qual não pode renunciar de forma unilateral».

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A «traição» de Sánchez não altera a vontade de luta do povo saarauí

A Frente Polisário qualificou como «traição» o apoio do governo espanhol ao plano de autonomia marroquino. Brahim Ghali sublinhou que a natureza jurídica do conflito e a vontade de luta do povo se mantêm.

Créditos / @NestorRego

Em declarações à TV argelina, este domingo, o presidente saarauí e secretário-geral da Frente Polisário, Brahim Ghali, afirmou que a «estranha e surpreendente posição» expressa pelo governo espanhol «não altera a natureza jurídica do conflito do Saara Ocidental, nem atribui soberania ao Estado de ocupação marroquino sobre o território».

Ghali disse ainda que a decisão do governo liderado por Sánchez, que qualificou como «imoral e vergonhosa», «não afecta minimamente a vontade do povo saarauí de prosseguir a sua justa e legítima luta» pela soberania sobre «todo o território nacional».

À luz do direito internacional, o Saara Ocidental não é marroquino, acrescentou, frisando que a decisão sobre a soberania cabe exclusivamente ao povo saarauí.

O chefe de Estado louvou ainda a «solidariedade dos povos de Espanha» com a «justa causa» saarauí e disse esperar «uma acção urgente», para «corrigir este novo erro» e para que o «Estado espanhol assuma as suas responsabilidades», que «não desaparecem com o tempo».

«Traição ao compromisso da sociedade espanhola»

Na sexta-feira passada, o governo espanhol, sintonizado com as teses de Rabat, indicou que o plano de autonomia de Marrocos para o Saara Ocidental, apresentado em 2007, é «a base mais séria, realista e credível» para a resolução do conflito.

A decisão foi muito criticada em Espanha, onde existe um amplo movimento de solidariedade com o Saara Ocidental. Mais de uma dezena de partidos solicitaram a presença do primeiro-ministro espanhol no Parlamento, exigindo-lhe explicações sobre uma «marcha atrás» também criticada por parceiros da coligação governamental.

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A paz no Saara Ocidental é possível se «for aplicada a legitimidade internacional»

A possibilidade da paz no Saara Ocidental depende da aplicação da legitimidade internacional, permitindo o exercício do direito à autodeterminação, afirmou o presidente saarauí, Brahim Ghali.

Brahim Ghali, presidente da RASD (imagem de arquivo)
Créditos / sudhorizons.dz

«É absolutamente impossível esperar a paz e a estabilidade na região a menos que a legitimidade internacional, plasmada na Carta das Nações Unidas, e na Acta de Fundação da União Africana [UA], seja implementada», afirmou Ghali este domingo, na abertura do IX Congresso da União Geral dos Trabalhadores Saarauís.

«Isso permitiria ao povo saarauí exercer o seu direito inalienável à autodeterminação e à independência», acrescentou, citado pela Sahara Press Service (SPS).

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«No Saara Ocidental há uma guerra a sério»

Entrevistado pela RT, o delegado da Frente Polisário em Espanha afirma que Marrocos nega a existência da guerra em função dos seus interesses. Também fala do apoio dos EUA e da inoperância da Minurso.

Soldados da Frente Polisário no Saara Ocidental, em Setembro de 2016
CréditosZohra Bensemra / RT

Há pouco mais de um mês, no Saara Ocidental, as forças militares marroquinas dissolveram uma manifestação de cidadãos saarauís que bloqueavam a chamada «passagem de El Guerguerat», o que levou a Frente Polisário (movimento de libertação nacional do Saara Ocidental) a acusar o Reino de Marrocos de violar o cessar-fogo em vigor desde 1991 e a declarar a guerra a Marrocos, que ocupa ilegalmente o território saarauí há 45 anos.

Voltava assim a intensificar-se um conflito que permanecia há alguns anos em estado latente, marcado pela ocupação, o saque permanente dos recursos saarauís – levado a cabo num território rico em minerais e pesca –, a brutal repressão sobre o povo saarauí, num contexto de cumplicidade internacional e inoperância da Missão das Nações Unidas para o Referendo do Saara Ocidental (Minurso), que foi incapaz de concretizar o referendo de autodeterminação que as resoluções da ONU defendem como via para se chegar a bom porto.

A Frente Polisário, pela voz do seu líder, Brahim Ghali, denunciou que a operação militar marroquina em El Guerguerat «minou seriamente não só o cessar-fogo e os acordos militares relacionados, mas também qualquer possibilidade de alcançar uma solução pacífica e duradoura para a questão da descolonização do Saara Ocidental».

Uma guerra silenciada

Abdullah al-Arabi, delegado da Frente Polisário em Espanha, encara o episódio de El Guerguerat como «o detonante que fez com que agora haja no Saara Ocidental uma guerra pura e dura», refere a RT.

Para al-Arabi, «ficou claro que o cessar-fogo foi quebrado» e que a Minurso «já não tem qualquer papel no terreno, uma vez que o seu objectivo era realizar um referendo de autodeterminação e 29 anos depois não foi capaz de o fazer».

O representante em Espanha da Frente Polisário também critica o silêncio de Marrocos sobre o conflito e sua natureza bélica: «Marrocos está a tentar negar a existência da guerra», diz al-Arabi, que desafía a Minurso – ainda no terreno – a «dizê-lo também». Al-Arabi denuncia que este organismo «está a esconder a realidade», em vez de «assumir o seu papel e elaborar um relatório para comunicar a situação real à ONU e à comunidade internacional em geral».

Por seu lado, Marrocos «não quer que se fale da guerra porque ainda tenta conseguir apoios que garantam a sua soberania sobre um território que está a ocupar pela força e de forma ilegal», disse à RT. Já a Frente Polisário tem feito um esforço no sentido informar sobre os confrontos militares com Marrocos, sobretudo através da agência de notícias oficial da República Árabe Saarauí Democrática (RASD), a Sahara Press Service (SPS).

A importância da passagem de El Guerguerat

O representante da Frente Polisário lembra que esta passagem não é uma simples passagem fronteiriça cuja utilização tivesse sido bloqueada, por capricho, por civis saarauís há cerca de dois meses. Trata-se de uma estrada construída por Marrocos numa zona designada, segundo um acordo supervisionado pela ONU, como «zona de contenção» do conflito.

Quando tal acordo foi firmado, em 1997, a estrada não existia, da mesma forma que o texto não contemplava a abertura de nenhuma passagem fronteiriça. Foi a própria Minurso que denunciou a actividade marroquina na zona, em 2001, advertindo que a construção de uma estrada ali poderia ser uma «violação do acordo de cessar-fogo».

Em 2016, Marrocos insistiu na construção da passagem de El Guerguerat e decidiu asfaltar a estrada – algo que a «Frente Polisário tentou impedir, mas a ONU interveio». «Pediu-nos que nos retirásse-mos para evitar uma escalada de tensão na zona, e nós acedemos com a condição de a ONU enviar uma comissão técnica para analisar a situação, coisa que nunca fez», explica al-Arabi.

Entretanto, Marrocos aproveitou para acabar de asfaltar a estrada, que passou a ser, de facto, uma «passagem fronteiriça» [com a Mauritânia], nunca foi apoiada pela comunidade internacional, mas cujo papel na guerra iniciada em 13 de Novembro último não costuma ser explicado.

A agravante do apoio dos EUA a Marrocos

Recentemente, Donald Trump reconheceu a alegada soberania de Marrocos sobre o território do Saara Ocidental. Se os negócios dos EUA, da UE e de outros países e blocos com o Reino marroquino eram às claras, este passo ninguém tinha dado. Em troca, Rabat reestabeleceu por completo, também às claras, as suas relações diplomáticas com Israel.

Para Abdullah al-Arabi, a declaração de Trump «faz parte de uma campanha orquestrada por Marrocos há muitos anos, sobretudo nos últimos sete ou oito, que consiste em tentar impor o reconhecimento da sua soberania sobre o território saarauí».

«Marrocos – disse al-Arabi à RT – não tem qualquer interesse na realização do referendo de autodeterminação, nem em alcançar uma solução política: o que quer é impor o facto consumado e, para isso, precisa do reconhecimento de alguma potência».


Ainda assim, admite que este apoio os surpreendeu. Nenhum país se tinha demarcado da resolução oficial da ONU que define o Saara Ocidental como território não autónomo e que tem um processo de descolonização por resolver.

«Não imaginávamos que os EUA pudessem pronunciar-se contra algo tão básico, tão claro e tão nítido como essa questão, que figura na agenda da ONU desde 1960, 15 anos antes da ocupação ilegal do território», disse o representante saarauí, referindo-se à invasão militar que Marrocos levou a cabo em 1975, conhecida como «Marcha Verde».

A decisão da Casa Branca «é totalmente errada e não está de acordo com o direito internacional», e contribui ainda para «elevar a tensão na região do Norte de África» e «afastar a perspectiva de qualquer solução», afirmou o delegado da Frente Polisário.

«Um presente envenenado»

Se Marrocos celebra o apoio de Washington como triunfo diplomático sem precedentes, a Frente Polisário faz uma leitura política diferente. Al-Arabi explica que as relações diplomáticas entre Marrocos e Israel sempre existiram; aquilo que a decisão do presidente norte-americano fez foi obrigar a torná-las públicas.

«Obrigaram a torná-las públicas em troca deste presente, que é um presente envenenado, porque a nível interno não vai ser fácil gerir a questão; a nível da opinião pública árabe tão-pouco; e, a nível dos apoios à causa palestiniana em Marrocos, vai dar muitas dores de cabeça», entende o delegado da Polisário.

«Marrocos apostou na busca de um impacto mediático de grande calibre», disse al-Arabi à RT, sublinhando que as consequências deste movimento internacional «vão ser desastrosas tanto para Marrocos como para a região do Norte de África e os interesses económicos da Europa, fundamentalmente de França e Espanha».

No que respeita a este último país, al-Arabi considera «preocupante e decepcionante a atitude de todos os seus governos ao longo dos últimos 45 anos, em especial nos últimos sete ou oito», sobre a questão da independência do Saara Ocidental.

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Falando no campo de refugiados de Dakhla, o secretário-geral da Frente Polisário e presidente da República Árabe Saarauí Democrática (RASD) pediu às Nações Unidas e à UA que acelerem o cumprimento dos requisitos do plano de paz UA-ONU de 1991, na medida em que se trata do único acordo assinado pelas duas partes em conflito e apoiado pelo Conselho de Segurança da ONU.

Brahim Ghali acusou Marrocos de, «com o beneplácito de França, actuar com impunidade e prosseguir com as suas práticas coloniais e tentativas de impor a política de factos consumados pela força no Saara Ocidental ocupado», refere a fonte.

Conferência solidária celebrada nas Canárias foi um «êxito»

Abdullah al-Arabi, delegado da Frente Polisário em Espanha, considerou um «êxito» a 45.ª edição da EUCOCO – Conferência Europeia de Apoio e Solidariedade com o Povo Saarauí, que decorreu em Las Palmas nos dias 10 e 11 de Dezembro.

Em declarações à agência SPS, al-Arabi destacou a participação no evento tanto em termos quantitativos como qualitativos, «com mais de 200 delegados de 23 países e intervenções de primeiro nível».

Abdullah al-Arabi, representante da Frente Polisário em Espanha / eldiarioalerta.com

Em seu entender, estes elementos mostram que «a causa saarauí continua a gozar de boa saúde no que à solidariedade e êxitos políticos e jurídicos se refere».

O facto de a conferência solidária se ter celebrado em «circunstâncias excepcionais» e cumprido «as expectativas» foi destacado pelo dirigente, que sublinhou igualmente a dimensão simbólica e política de se ter realizado nas Canárias, a menos de 100 quilómetros dos territórios ocupados.

Abullah al-Arabi instou o movimento solidário a «continuar a defender a luta do povo saarauí porque é a luta pela paz, a justiça, o direito internacional e os direitos humanos».

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Abdullah al-Arabi, delegado da Frente Polisário em Espanha, denunciou este sábado que a aposta de Espanha na autonomia do Saara Ocidental é uma de muitas traições sofridas pelo povo saarauí nos últimos 46 anos, e sublinhou que, acima de tudo, «trai o compromisso e a solidariedade da sociedade espanhola», refere o Sahara Press Service (SPS).

«Espanha está a tentar impor a escolha de uma das partes como única solução para o conflito do Saara Ocidental», disse al-Arabi, frisando que se trata de uma mudança de posição relativamente às Nações Unidas e também «a um consenso que existiu na política externa espanhola nos últimos 46 anos».

O governo espanhol está a «pagar uma portagem para tentar recuperar as suas relações com Marrocos», acusou o delegado da Frente Polisário, explicando que não se opõe a esse bom relacionamento, mas que tal não pode acontecer à custa do «sacrifício do povo saarauí».

ONU pede respeito pela legalidade internacional

A Organização das Nações Unidas indicou este domingo que, para se alcançar uma saída pacífica para o conflito na antiga colónia espanhola, é necessário apoiar o processo político traçado pelo organismo.

Stéphane Dujarric, porta-voz da ONU, convidou todas as partes a apoiar os esforços do enviado pessoal para o Saara Ocidental, Staffan de Mistura, que visam retomar o processo de negociação directa entre as partes em conflito.

Dujarric, refere a TeleSur, reiterou a importância de manter o pleno compromisso das partes com o processo político liderado pela ONU, em linha com a resolução aprovada pelo Conselho de Segurança em Outubro último, que prevê o direito de autodeterminação do povo do Saara Ocidental.

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A reunião do Gabinete Permanente foi convocada horas depois de a Frente Polisário ter anunciado, no sábado, que suspendia os contactos com o actual governo espanhol, em virtude da declaração de apoio do governo de Pedro Sánchez ao plano marroquino de autonomia, «tendente a legitimar a anexação pela força dos territórios do Saara Ocidental e, por conseguinte, a confiscar os inalienáveis direitos do povo saarauí à autodeterminação e independência».

A Frente Polisário afirma que a suspensão se irá manter enquanto o actual governo de Espanha não se abstiver de «instrumentalizar a causa saarauí, como parte das contrapartidas e compensações vergonhosas nas suas vendas e transacções com o ocupante marroquino».

Nesse sentido, a Frente Polisário exige ao executivo espanhol que adira aos princípios da legalidade internacional, ao abrigo da qual o povo saarauí vê garantido «o direito à autodeterminação e o respeito pelas fronteiras internacionalmente reconhecidas do seu território».

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Pelos menos 59 presos viram-se forçados a recorrer à greve de fome por períodos prolongados como forma de luta contra os maus-tratos nas cadeias.

Outro aspecto destacado pelo documento são as longas distâncias a que os presos se encontram de suas casas, uma forma que as forças de ocupação usam para os castigar, separando-os do seu meio familiar e social. De acordo com o documento, 70% dos presos saarauís estão a pelo menos 460 quilómetros de casa e 80% a 320 quilómetros.

Saque dos recursos naturais, com cumplicidades

O Codesa denuncia igualmente que as autoridades marroquinas aproveitaram a declaração do estado de «emergência sanitária», associado à Covid-19, como forma de aumentar a opressão sobre o povo saarauí, dentro e fora das cadeias.

Refere-se igualmente à continuidade do saque dos recursos naturais do Saara Ocidental por parte de Marrocos, com a «cumplicidade explícita» de organizações internacionais e países, incluindo a União Europeia e vários dos seus estados-membros.

Na parte das recomendações, o organismo solicita às Nações Unidas que assuma as suas responsabilidades para que o povo saarauí possa exercer o direito fundamental à autodeterminação; sublinha a necessidade de proteger a população civil, nomeadamente por parte do Comité Internacional da Cruz Vermelha, e lembra as responsabilidades políticas e morais do Estado espanhol, enquanto antiga potência colonizadora, relativamente aos crimes cometidos por Marrocos contra o povo saarauí.

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Para a representante da Frente Polisário na Comunidade de Madrid (Estado espanhol), «com esta eleição, a ONU e a comunidade internacional premeiam os países que violam de forma sistemática os direitos humanos dos saarauís e, do mesmo modo, do povo marroquino».

Neste contexto, diz que «não é descabido pensar que o regime marroquino possa solicitar a substituição da incompetente Missão das Nações Unidas para a realização do Referendo no Saara Ocidental (MINURSO), já que o referendo não se celebra, para assim poder continuar a massacrar o povo saarauí com a autorização oficial da ONU sob a presidência do Conselho de Direitos Humanos».

«Bem-vindos ao 2024 em que Marrocos, força de ocupação ilegal de um país africano e único país do continente que não ratificou a Carta Africana dos Direitos Humanos1, preside ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas», afirma.

  • 1. De acordo com o Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos, 54 dos 55 estados-membros da União Africana (UA) ratificaram ou aderiram à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, com excepção de Marrocos.

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