De acordo com informações preliminares, Mohammed Isaar, um indivíduo de 26 anos, muçulmano e com deficiência mental, foi atado a um poste de electricidade, no passado dia 26, num bairro do Nordeste da capital indiana, sendo acusado de ter roubado prasad (oferta sagrada) num templo hindu local.
Em seguida, foi espancado com paus até à morte. A agressão brutal durou horas, refere o periódico Telegraph India, com base nos filmes divulgados nas redes sociais, que mostram o ataque a ocorrer de dia e já de noite.
Uma fonte policial disse à imprensa que foram efectuadas várias detenções (pelo menos seis) de pessoas por alegada ligação ao linchamento, estando a ser investigadas imagens de câmaras na via pública e filmes realizados em telemóveis para fundamentar as acusações.
«Uma investigação preliminar revelou que a vítima tinha problemas mentais e não conseguia dar respostas satisfatórias quando confrontada pelos agressores. Amarraram-no a um poste e espancaram-no brutalmente com paus», disse outro agente.
A Polícia deu início a investigações num processo de homicídio, na sequência da queixa apresentada pelo pai de Isaar, Abdul Wajid, vendedor de fruta com 60 anos de idade e residente no bairro.
Alerta para uma «tendência perturbadora»
A Plataforma Nacional para os Direitos dos Deficientes (NPRD, na sigla em inglês) condenou de forma veemente o linchamento de Mohammed Isaar.
«Incidentes de abusos, ataques físicos e assassinatos de pessoas com deficiência estão a ser reportados de forma regular. No entanto, isto adquiriu uma dimensão muito mais perigosa, com as pessoas com deficiência a tornarem-se alvo pela sua identidade religiosa», afirma a plataforma no documento.
Este é o terceiro caso de assassinato do género, em 2023, relatado pela imprensa nacional, indica o texto da NPRD, que se refere ao de Mohammad Faiyaz, jovem muçulmano com deficiência mental, que foi espancado até à morte por uma multidão, a 25 de Fevereiro, no estado de Bihar; e, no mesmo estado, ao de Zahiruddin, condutor de camiões de 55 anos, com deficiência, linchado por uma multidão de «vigilantes de vacas».
Estes casos não são episódios isolados, alerta a NPRD, sublinhando que resultam de «uma campanha de ódio tóxica e sustentada que tem vindo a alastrar».
A Plataforma Nacional para a Defesa dos Deficientes na Índia não nomeia os responsáveis por essa campanha. Já o Partido Comunista da Índia (Marxista) fá-lo: «Este governo, o BJP [Bharatiya Janata Party, de Narendra Modi] e a RSS [Rashtriya Swayamsevak Sangh, organização paramilitar, nacionalista hindu, de extrema-direita] disseminaram propaganda de ódio venenosa», lê-se numa mensagem divulgada no Twitter, na qual também se exige uma acção célere da Polícia.
A este propósito, a NPRD defende que, depois das detenções efectuadas, o caso deve ter continuidade e deve haver um julgamento justo. Além disso, a organização sublinha a importância de se pagar uma compensação adequada à família da vítima, ajudando-a a lidar com a perda e o trauma.