«Por que aconteceram os tumultos? Quem beneficiou com isso?», foram perguntas feitas por Ilma, de sete anos, que resumiram o sentimento dos que se juntaram, no sábado, para exigir justiça para as vítimas da violência que, há dois anos, abalou o Nordeste da capital indiana, de maioria muçulmana. Ilma perdeu o irmão, Arshad Raza, que trabalhava numa loja de arranjo de telemóveis, e foi morto ao regressar a casa.
A concentração de protesto, organizada pelo comité estadual de Déli do Partido Comunista da Índia (Marxista), reclamou investigação e julgamento rápidos para as famílias das vítimas, que ainda estão a reconstruir as suas vidas.
Os presentes defenderam maiores apoios para as famílias no processo de reconstrução, considerando que a compensação que lhes foi dada pelo governo estadual não é suficiente para que voltem a encarreirar o seu sustento com facilidade.
Mallika, mãe de três filhos, contou como não foi capaz de salvar o marido da «multidão sedenta de sangue», que partiu a fechadura da casa e o arrastou para fora.
«Pedi aos agentes da Polícia que estavam do lado de fora de minha casa que salvassem o meu marido, mas ainda nos chamaram nomes. Eles mataram o meu marido à frente dos meus filhos», disse.
Passados dois anos, Mallika ainda está à espera de justiça para Musharraf, que trabalhava como motorista. Traumatizada e com medo, mudou de casa duas vezes, para manter os filhos seguros.
Falando para o Newsclik, Sehba Taban, da Associação Democrática de Mulheres da Índia (AIDWA), disse que, durante o seu trabalho com estas famílias, ficou claro que todas elas eram da classe trabalhadora. «Os ganha-pães eram motoristas, carpinteiros, pintores, etc. As mulheres não têm qualquer qualificação. Em vários casos, os parentes ficaram com o dinheiro das indemnizações e abandonaram as esposas e os filhos», explicou.
PCI(M) não desiste de lutar ao lado das vítimas
Dirigindo-se aos presentes, Brinda Karat, membro do Comité Central do PCI(M), disse que o objectivo destes testemunhos de viva voz não era reavivar o trauma das famílias das vítimas, mas reafirmar que ainda não lhes foi feita justiça.
«Estes testemunhos são necessários para juntar coragem e dizer que não vamos parar com esta luta. Estou aqui para vos dizer que não estão sozinhos nesta luta», disse Karat, lembrando a má investigação, a lentidão dos processos e os entraves colocados à justiça pelo partido no poder.
A título de exemplo, referiu que, num dos 758 casos registados no âmbito da violência de há dois anos, em Bhagirathi Vihar uma casa foi saqueada, vandalizada e incendiada, e o tribunal perguntou à Polícia de Déli se tinha interrogado três culpados. «A Polícia disse que não o podia fazer. É claro que esses culpados estavam associados ao partido no poder», denunciou.
Um juiz que encenou os discursos de dois dirigentes do Partido Bharatiya Janata (BJP, de Modi) numa audiência pública «foi transferido num espaço de horas», disse a dirigente comunista, sublinhando que, quando ela própria e o secretário do PCI(M) de Déli abordaram o tribunal por causa do assunto, não lhes foi concedida qualquer audiência.
No entanto, insistiu Karat, a justiça está consagrada na Constituição indiana. «Vamos lutar para a conseguir», disse.
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