A Guarda Costeira interceptou este domingo 57 etíopes e egípcios que seguiam numa embarcação de madeira, 40 milhas náuticas a norte do porto líbio de Zuara, grupo no qual se incluíam 17 mulheres e nove crianças.
Numa outra operação de salvamento, levada a cabo na passada terça-feira, foram resgatados 278 indivíduos, a bordo de quatro lanchas pneumáticas, provenientes na sua maioria do Sudão e também do Chade, do Egipto, da Nigéria, do Benim e da Eritreia, noticia a Prensa Latina.
Há mais de 15 dias que 500 migrantes permanecem em dois barcos de regaste no Mar Mediterrâneo, à espera de um porto seguro onde desembarcar. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) instou recentemente os governos europeus a permitir o desembarque imediato dessas pessoas.
«Muitos são sobreviventes de abusos horríveis em Líbia e vêm de países que geram refugiados. Todos eles necessitam de ajuda humanitária e alguns manifestaram já a sua vontade de pedir asilo», refere o ACNUR num comunicado, sublinhando que se trata de «uma corrida contra-relógio» e que «deixar em alto mar […] pessoas que fugiram da guerra e da violência na Líbia seria infligir mais sofrimento ao seu sofrimento».
Segundo a informação divulgada esta sexta-feira pela Organização Internacional para as Migrações, pelo menos 844 migrantes e refugiados morreram ou desapareceram este ano no Mar Mediterrâneo quando tentavam chegar à Europa.
A via entre Líbia e Itália-Malta é a mais mortífera (579 vítimas), no Mediterrâneo Central, e os estados-membros da União Europeia não chegam a um acordo sobre as políticas de acolhimento.
«Horrores inimagináveis» ao atravessar a Líbia
Num relatório divulgado no final de Dezembro de 2018, a ONU denunciou as «violações massivas de direitos humanos» dos migrantes e refugiados quando atravessam a Líbia em busca de uma vida melhor.
Publicado conjuntamente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), o documento revela com detalhe uma série de «terríveis violações e abusos cometidos tanto por funcionários estatais como por grupos armados e traficantes de pessoas».
Com base em entrevistas e em visitas efectuadas a centros de detenção na Líbia, os funcionários registaram os «horrores inimagináveis» por que passam os migrantes e refugiados «desde que entram em território líbio, durante o tempo que ali permanecem e – quando conseguem sobreviver – nas tentativas de atravessar o Mar Mediterrâneo».
Entre os «horrores referidos», contam-se casos de execução extrajudicial, torturas, detenções arbitrárias, violações em grupo, escravidão e trabalho forçado, denunciam ambos os organismos das Nações Unidas, sublinhando que «o clima de anarquia» que se vive actualmente no país africano é «terreno fértil para as actividades ilícitas, como o tráfico de pessoas e o contrabando».
«Aqueles que conseguem chegar à costa e, no final, tentam empreender a perigosa travessia do Mediterrâneo são interceptados de forma crescente pela Guarda Costeira da Líbia, que os leva de volta para a Líbia, onde muitos são novamente submetidos ao esquema de abusos de que acabaram de escapar», alerta o relatório.
Um país que «não é seguro», destruído pela NATO
As Nações Unidas consideram que a Líbia não é um «país seguro». Mais que isso, a Líbia é, desde a intervenção promovida em 2011 pelos EUA, a França, o Reino Unido e seus aliados contra o governo de Muammar Khadafi, um Estado falhado, destruído, onde diversos grupos armados passaram a lutar entre si pelo controlo de território e de recursos.
Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias passou a sofrer de escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas.
Foi neste país do Norte de África que algumas forças políticas redescobriram «o flagelo» da escravatura e, «horrorizadas», a existência de «redes de tráfico» que maltratam os «migrantes», afligidos por «cenários de guerra».
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