ONG alerta para solidariedade selectiva com desvio de fundos para a Ucrânia

As repercussões mundiais da actual «crise ucraniana» – que já se sentem no aumento dos preços de bens, alimentação e energia – poderiam minar os fundos de ajuda dos países doadores, destinados a pessoas que estão noutros «pontos quentes» humanitários, refere a organização não governamental (ONG) numa nota de imprensa.

Neste sentido, o organismo indica que a União Europeia (UE) reduziu para mais de metade os fundos humanitários para Timor-Leste. Outros doadores adiantaram que vão cortar em 70% a ajuda oficial para o desenvolvimento do Burkina Faso, e outros países da África Ocidental estão a receber notícias semelhantes.

Evelien Van Roemburg, directora do gabinete da Oxfam na UE, sublinhou que a população do Iémen e da Síria, os milhões que passam fome na África Oriental e Ocidental ou as pessoas que estão em acampamentos no Bangladesh «não devem ser penalizados» por causa dos cuidados que o povo da Ucrânia deve ter.

Citada no portal da ONG, Van Roemburg denuncia que «todos os dias ouvimos falar de super-iates e mansões apreendidos», enquanto multimilionários de todas as nacionalidades crescem de forma «obscena» com a especulação, a evasão fiscal e o aumento vertiginoso dos lucros corporativos e dos preços das acções.

«Rejeitamos qualquer afirmação de acordo com a qual ajudar um refugiado da Ucrânia ou um agricultor faminto da Somália seja uma escolha», acrescentou.

Os países nórdicos prometeram 300 milhões de euros – quase por inteiro a Noruega – para ajudar a Ucrânia, mas isto equivale a 40% dos fundos de ajuda orçamentados pela Noruega e, se não houver um reforço, haverá grandes cortes noutros programas, indica a nota.

«Risco de catástrofe» no Iémen

Também esta semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para situação humanitária no Iémen, após sete anos de cerco e guerra de agressão liderada pelos sauditas – com apoio dos EUA –, e num contexto de falta de fundos para a ajuda humanitária.

Apesar de a ONU ter classificado a situação no Iémen como a maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, após quase sete anos seguidos de «morte, destruição, deslocações, fome… numa escala massiva», o secretário-geral revelou que o organismo e os seus parceiros foram obrigados a «redimensionar ou encerrar» dois terços dos programas vitais no país árabe devido a falta de fundos.

De acordo com o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, são necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, este ano, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen.