Num comunicado emitido esta terça-feira, o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) destaca «a urgência do fim imediato do bloqueio a Gaza, a urgência do cessar-fogo total e permanente, a urgência da entrada irrestrita da ajuda humanitária, sob a coordenação das Nações Unidas».
«Gaza é o único território do mundo em que toda a população enfrenta níveis extremos de insegurança alimentar», declara o organismo solidário português, que classifica «a fome que assola» o enclave palestiniano como «uma catástrofe inteiramente devida a decisões do Estado de Israel», como «o resultado directo e deliberado de uma política sistemática de punição colectiva» e como «parte integrante do genocídio que o Estado sionista está a levar a cabo».
Neste sentido, o texto denuncia a destruição intencional, por parte de Israel, de «infra-estruturas civis essenciais à sobrevivência da população», nomeadamente «padarias, armazéns de alimentos, instalações de dessalinização de água, hospitais, escolas e centros de distribuição de ajuda, a rede eléctrica e de transportes».
Denuncia igualmente o bloqueio total que Israel impõe «à entrada de alimentos, combustível, medicamentos e água potável», numa violação «gritante» do direito internacional humanitário. «A consequência directa e propositada desta política é a fome em massa», sublinha.
Consequências devastadoras de uma política que atinge em especial as crianças
«A fome causa um sofrimento físico extremo e conduz a uma morte silenciosa», afirma o MPPM ao lembrar que «centenas de pessoas, especialmente crianças, pereceram já, vítimas desta política cruel» com consequências «devastadoras», e que «a desnutrição severa das crianças compromete o futuro de gerações».
«O uso da fome como arma de guerra é uma forma de punição colectiva condenada pelo direito internacional. Configura, segundo numerosos especialistas, um crime de guerra», lê-se no texto.
Neste contexto, o MPPM destaca que «a fome em Gaza é uma política de extermínio deliberado», que prossegue «de forma particularmente inumana a política de limpeza étnica prosseguida desde sempre por Israel».
Esta, sublinha, manifesta-se igualmente na «anunciada intenção da construção de uma "cidade humanitária", na verdade, um gigantesco campo de concentração para centenas de milhares de pessoas, antecâmara para a sua expulsão».
Impedimentos ao trabalho da Unrwa
No comunicado emitido esta terça-feira, o organismo solidário lembra ainda que a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (Unrwa), «historicamente responsável por grande parte da distribuição de alimentos, foi impedida por Israel de operar na Faixa de Gaza», facto que compromete «gravemente a assistência a mais de um milhão de pessoas que dependem desses serviços para sobreviver».
Em vez disso, surgiram os centros de distribuição da chamada «Gaza Humanitarian Foundation», «cinicamente apresentada por Israel e pelos EUA como um mecanismo de ajuda alternativa» e que o MPPM afirma serem, tal como denunciado pelos palestinianos e por organizações de direitos humanos, «uma armadilha mortal para multidões de pessoas desesperadas que procuram obter alimentos para as suas famílias». Nesses centros, cerca de mil palestinianos foram já mortos pelas balas israelitas.
«A passividade não pode ser uma opção»
«Perante um crime desta magnitude, a passividade não pode ser uma opção», sublinha o MPPM, que defende a responsabilização dos «autores do crime e os seus cúmplices».
Neste sentido, considera «intolerável a inacção e, pior ainda, a cumplicidade de que Israel continua a gozar por parte dos Estados Unidos da América, da União Europeia [UE] e de diversos países "ocidentais"».
«É ultrajante que os chefes da diplomacia da UE tenham, uma vez mais, recusado suspender o Acordo de Associação com Israel», denuncia o texto, que classifica como «inaceitável» o facto de o governo português, «não obstante as provas avassaladoras dos crimes cometidos por Israel, continu[ar] a recusar tirar as necessárias ilações para a sua relação com o Estado-pária de Israel».
«Não é mais aceitável que os Estados se refugiem em fúteis apelos e declarações — como a Declaração de Bissau da CPLP, um exemplo perfeito de hipocrisia diplomática — em vez de assumirem que é imperioso sancionar Israel pelos seus crimes», afirma o MPPM, ao sublinhar que «Gaza não pode esperar mais».
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