|Peru

Encontro nacional em Lima agenda dez dias de protesto contra Boluarte

Decorreu, este fim-de-semana, o Primeiro Encontro Nacional de Regiões e do Povo Organizado, que decidiu realizar dez dias de protestos contra Dina Boluarte, actual presidente do Peru.

O Primeiro Encontro Nacional de Regiões e do Povo Organizado realizou-se a 1 e 2 de Julho de 2023 em Lima 
Créditos / Escuela Saúl Cantoral

No final dos dois dias de encontro, que decorreu na capital peruana com lemas como «Fora do Peru, tropas yankees», «Que a máfia toda se vá embora» ou «O povo unido vencerá», as organizações sociais, sindicais e políticas presentes decidiram realizar novas jornadas de luta, entre 19 e 28 de Julho, contra o governo de Dina Boluarte.

No encontro, refere a TeleSur, participaram delegados de todas as regiões do Peru, bem como da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), da Assembleia Nacional dos Povos, do Comando Unitário Nacional de Luta, de associações de bairros populares de Lima, entre outras organizações.

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Peruanos retomam as mobilizações contra Boluarte e o Congresso

Milhares de pessoas, convocadas por organizações de esquerda e movimentos sociais, manifestaram-se, este sábado, no centro de Lima contra a presidente golpista e em defesa de eleições antecipadas.

Manifestação em Lima a 24 de Junho de 2023 
Créditos / @romanhelipc

A mobilização deste sábado, na capital peruana, está a ser encarada como o reinício das acções de protesto contra o governo, tendo como exigências a demissão de Dina Boluarte, o fim do seu executivo e a realização de novas eleições gerais, antecipadas, de forma a solucionar a chamada «crise de legitimidade do governo e do Congresso».

Os manifestantes reclamaram igualmente justiça para os mortos durante os protestos anti-governamentais que se seguiram à destituição e à detenção de Pedro Castillo, entre o início de Dezembro de 2022 e Março deste ano.

De acordo com a TeleSur, a marcha, convocada sob a designação «Contra a ditadura do Congresso e o governo cúmplice», conseguiu chegar às sedes do Ministério Público e do Parlamento, instituição que os manifestantes acusam de ter imposto uma «ditadura» ao país sul-americano.

Manifestação em Lima a 24 de Junho de 2023 / @romanhelipc

Tendo-se concentrado na Praça de San Martín, os manifestantes desfilaram depois por ruas e avenidas gritando palavras de ordem contra Dina Boluarte e o Congresso, exibindo faixas e cartazes contra esses mesmos protagonistas e mostrando bandeiras negras do Peru, como sinal de luto pelos mais de 65 falecidos devido à repressão militar e policial.

Entretanto, a marcha deste sábado está a ser vista como uma espécie de preparação para a terceira «Tomada de Lima», anunciada para 19 de Julho próximo e durante a qual se prevê que milhares de pessoas «invadam» a capital, provenientes do Norte, do Centro e do Sul do país – sendo esta última região aquela onde se verificou a resistência mais tenaz a Dina Boluarte.

A Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e a Assembleia Nacional dos Povos já manifestaram o seu apoio a esta nova edição da «Tomada de Lima», tendo afirmado que a presidente golpista se deve demitir até lá para «evitar a agitação social», pois «os peruanos estão determinados a recuperar a democracia».

Sondagem mostra rejeição massiva do governo e do Parlamento

Uma sondagem realizada pelo Instituto de Estudios Peruanos (IEP), publicada no dia subsequente à manifestação de sábado, revela que 80% dos inquiridos rejeitam Dina Boluarte, o índice mais elevado desde que a governante chegou ao poder – que é apoiada por apenas 12% dos inquiridos.

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Jornada de protesto marcada por intensa repressão policial em Lima

Repressão foi a resposta do governo de facto aos milhares que, esta quinta-feira, reafirmaram a exigência de demissão de Boluarte. No dia 18, a embaixadora dos EUA reuniu-se com o ministro da Energia e Minas.

Créditos / @menoscanas

No âmbito da paralisação nacional iniciada a 4 de Janeiro, os «provincianos» que têm andado a denunciar o golpe, a exigir a demissão de Dina Boluarte, o encerramento do Congresso, eleições antecipadas e uma Assembleia Constituinte vieram de regiões como Apurímac, Cusco, Huancavelica, Arequipa, Puno, Ayacucho, entre outras.

Os convocantes chamaram-lhe «Marcha de los Cuatro Suyos» até Lima, num contexto em que também a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e a Assembleia Nacional dos Povos (ANP) convocaram para esta quinta-feira uma jornada de greve e mobilização nacional.

Diversos grupos de manifestantes vindos de fora e os residentes na capital desfilaram de forma pacífica com bandeiras nacionais e indígenas, bem como com cartazes e faixas a patentear as suas exigências. [Vídeo: na Praça 2 de Maio]

A certa altura, refere a TeleSur, elementos da Polícia, que apareceram na manifestação em carros blindados, começaram a lançar bombas de gás lacrimogéneo, sem que se registasse violência ou distúrbios.

Outro facto apontado pela fonte é que o enorme dispositivo policial formava barreiras para impedir a passagem dos manifestantes, dividindo-os.

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Protestos generalizados contra o governo golpista no Peru

O nono dia consecutivo de greves e mobilizações ficou marcado por uma grande manifestação em Lima, detenções de dirigentes sociais em Ayacucho e a demissão do ministro do Trabalho do governo de facto.

Manifestação em Lima, a 12 de Janeiro de 2023 
CréditosJuan Zapata / @WaykaPeru

O número de vítimas mortais nos protestos subsequentes à destituição de Pedro Castillo, a 7 de Dezembro último, subiu para 48, depois de as autoridades de medicina legal terem confirmado a morte de um adolescente – atingido com uma bala na cabeça – no departamento de Puno, ontem à tarde.

Também confirmaram que todas as vítimas do massacre de Juliaca, perpetrado dia 9 naquele departamento andino, faleceram com impactos de bala.

Na véspera, um outro jovem faleceu nos protestos contra o governo de Boluarte, na cidade de Cusco, onde a Polícia reprimiu de forma violenta as manifestações que ali tiveram lugar. Há ainda registo de pelo menos 56 feridos e de mais de uma dezena de detenções.

Ontem, houve manifestações, em ambiente de grande tensão, em vários pontos da região sul-andina, nomeadamente nos departamentos de Puno, Cusco, Moquegua, Madre de Dios, Arequipa, Apurímac, Tacna e Ayacucho.

Protestos em Cusco // Wilson Chillo / @WaykaPeru

Houve ainda cortes de estradas em múltiplas províncias do país sul-americano. Até ao meio-dia, a Superintendência de Transporte Terrestre de Pessoas, Carga e Mercadorias (Sutran) registou 78 bloqueios em dez regiões.

Em Ayacucho, foram detidos três dirigentes sociais, um dos quais dirigente da Frente de Defesa do Povo de Ayacucho, alertou a Coordenadora Nacional de Direitos Humanos, informando que tinham acabado de participar num acto cultural na Casa do Professor.

No passado dia 4 de Janeiro, teve início no Peru uma greve por tempo indeterminado, no âmbito da qual organizações sociais e sindicais exigem a demissão de Boluarte, o encerramento do Congresso, eleições antecipadas já em 2023, uma Assembleia Constituinte, uma nova Constituição, e a libertação do ex-presidente Pedro Castillo, que se encontra detido.

Esta greve dá sequência aos protestos iniciados logo que o Congresso destituiu Castillo, a 7 de Dezembro, e empossou a até então vice-presidente, Dina Boluarte, como nova presidente da República – a que os manifestantes chamam «traidora» e, mais recentemente, «assassina».

Grande manifestação em Lima

Na capital do país, milhares de trabalhadores [vídeo] responderam ao apelo da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e manifestaram-se pelo centro da cidade gritando palavras de ordem contra Boluarte.

Protestos em Cusco // Wilson Chillo / @WaykaPeru

Num comunicado emitido ontem, anterior à manifestação, a CGTP não atribui qualquer crédito ao voto de confiança que o Congresso, «cúmplice dos actos criminosos do regime», deu ao «gabinete ministerial da ditadura cívico-militar-empresarial de Dina Boluarte».

Reafirmando que vai continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores, a central sindical diz que «persistirá na luta democrática, juntamente com os trabalhadores e as organizações sociais de todo o país, pela demissão de Dina Boluarte, eleições antecipadas imediatas e um referendo por uma nova Constituição».

Centenas de polícias, refere a TeleSur, acompanharam a mobilização, formando muralhas humanas em torno dos manifestantes, mas os episódios de repressão, ao contrário de outras ocasiões, foram esporádicos.

Neste contexto, a Federação Sindical Mundial fez um apelo à solidariedade com o povo e os trabalhadores do Peru, lembrando o papel assumido pela direita no país sul-americano, a grande mobilização popular em defesa da democracia e condenando «a criminosa política neoliberal» pela «forte repressão e violência».

Primeiro-ministro defende a «mão-de-ferro»

Confrontado com protestos que teimam em não parar, o primeiro-ministro, Alberto Otárola, afirmou que a presidente do governo de facto – que tem o apoio da Embaixada dos EUA em Lima – não se vai demitir, e defendeu a forma de actuar da Polícia e das Forças Armadas nas manifestações, dizendo que as mortes são da responsabilidade de quem atacou o Estado.

Manifestantes, com bandeiras de luto, em Tacna // Abelardo Chura / @WaykaPeru

Quem deixou de alinhar com esta versão foi o ministro do Trabalho, Eduardo García, ao assumir a impopularidade do Congresso, que as eleições não podem ser só em 2024 e que as mortes dos «irmãos» na região sul-andina são uma «tragédia», indica a Prensa Latina. É o terceiro ministro a abandonar o executivo golpista.

Entretanto, um grupo de juristas revelou que está juntar provas para fundamentar uma queixa contra a presidente Boluarte, que apontam como principal responsável pelo «assassinato» de quase meia centena de manifestantes desde o início dos protestos.

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Com a passagem do dia, alguns grupos conseguiram juntar-se, formando uma enorme multidão a que também se uniu a marcha do movimento sindical, convocada pela CGTP e as organizações que integram a ANP – que classificaram como «contundente» a adesão à paralisação nacional esta quinta-feira.

Entretanto, encurralados pelas barreiras policiais e pelo gás lacrimogéneo, alguns grupos atiraram pedras à Polícia, e o centro de Lima tornou-se o cenário de uma «batalha campal», refere a Prensa Latina.

No resto do país, ontem multiplicaram-se as mobilizações de protesto e as greves, e o número de bloqueios nas estradas chegou a 127, em 44 províncias.

Entretanto, os responsáveis da Saúde do governo regional de Arequipa confirmaram que, esta quinta-feira, uma pessoa foi morta a tiro, quando um grupo de manifestantes tentava tomar de assalto o aeroporto local.

O número de pessoas mortas pelas forças de segurança desde o início dos protestos no Peru, a 7 de Dezembro de 2022, sobe para 44, de acordo com os dados da Provedoria de Justiça.

A estes, juntam-se outros nove em acções ou incidentes ligados aos protestos, pelo que se registam pelo menos 53 mortes durante as manifestações contra o Congresso e a presidente da República, Dina Boluarte, que assumiu o cargo quando o Parlamento destituiu Pedro Castillo.

Boluarte volta a acusar os manifestantes

Respondendo na TV à grande mobilização, que quebrou pela força, a presidente de facto do Peru reafirmou que não se vai demitir, disse que o seu governo está unido e voltou a catalogar as manifestações como acções de vandalismo e de delinquência, responsáveis pela agitação social no país sul-americano.

Embaixadora norte-americana no Peru, Lisa Kenna, e ministro da Energia e Minas, em Lima, a 18 de Janeiro de 2023 / @MinemPeru

Disse ainda que é preciso diálogo e, em simultâneo, ameaçou os manifestantes com «todo o peso da Lei» em todo o país.

Os apoios e os interesses norte-americanos

Do que Boluarte não falou foi do forte apoio que a embaixadora norte-americana no país, a ex-CIA Lisa Kenna, deu ao golpe e ao governo golpista.

O jornalista Ben Norton, no portal geopoliticaleconomy.com, lembra que o Peru tem largas reservas de cobre, ouro, zinco, prata, chumbo, ferro e gás natural, e que Kenna se tem reunido regularmente com figuras de proa do governo de facto peruano.

No passado dia 18, teve uma reunião com o ministro da Energia e Minas, tendo discutido oportunidades de «investimento» e planos para «desenvolver» e «expandir» as indústrias extractivas.

Além dos EUA, recorda o jornalista norte-americano, a Europa também tem muito interesse nos recursos peruanos, estando a importar, nomeadamente, gás natural liquefeito para substituir o gás russo, no contexto do boicote imposto pela UE à importação de energia russa por causa da guerra entre a NATO e a Rússia na Ucrânia.

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Quanto ao Parlamento, que é alvo de vários questionamentos, é visto de forma negativa por 91%, contra 6% que o aprovam.

Sobre a actuação do governo golpista liderado pela presidente Boluarte, a sondagem do IEP mostra que 67% entendem que é má (36%) ou muito má (31%). Em sentido inverso, 6% pensam que a actuação do governo é boa e 1% afirma que é muito boa.

Comparando o governo de Boluarte com o de Castillo, apenas 19% consideraram que o de Boluarte é melhor, enquanto 51% defenderam que é pior que o de Pedro Castillo, que se encontra em prisão preventiva, acusado da alegada prática dos crimes de rebelião e conspiração.

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As reivindicações passam pela demissão de Boluarte, o encerramento do Congresso, a realização imediata de eleições presidenciais e parlamentares, e o início de um processo com vista à assembleia constituinte.

Também se exige a libertação dos detidos nos protestos e justiça para os civis mortos durante a repressão militar e policial das mobilizações que tiveram lugar no país entre o início de Dezembro do ano passado e Março de 2023.

Jornada Nacional de Mobilização Popular Permanente em Lima

O novo ciclo de manifestações será designado Jornada Nacional de Mobilização Popular Permanente e terá Lima como epicentro, convergindo para ali representantes de organizações regionais, sindicais, agrárias, entre outras.

Previamente, o nome indicado era «Tomada de Lima», mas os organizadores decidiram alterá-lo porque a imprensa de direita recorre à designação para caracterizar as mobilizações como violentas.

Em declarações à Prensa Latina, Jorge Pizarro, um dos representantes deste movimento, disse que a reunião procurou elaborar uma plataforma de luta unitária, deixando de lado questões que carecem de consenso, de modo a tornar mais eficaz o protesto, que culmina a 28 de Julho, dia da independência nacional.

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No Peru, exige-se o julgamento dos responsáveis pelos massacres

Familiares de vítimas da repressão no país sul-americano realizaram, este sábado, um encontro nacional em Juliaca, tendo denunciado a impunidade prevalecente e exigido a demissão de Dina Boluarte.

CréditosWilson Castillo / @WaykaPeru

Participantes no Primeiro Encontro Nacional Cidadão de Vítimas do Regime de Dina Boluarte, realizado este sábado na cidade de Juliaca (departamento de Puno), decidiram continuar a reclamar que sejam julgados os responsáveis pelos massacres cometidos no Peru durante as mobilizações para reivindicar a demissão de Boluarte, eleições gerais antecipadas e o encerramento do Congresso.

Familiares das vítimas da repressão e delegados provenientes dos departamentos de Apurímac, Cusco, Ayacucho e Puno criticaram a impunidade que impera em torno das mortes dos manifestantes e exigiram renúncia da presidente de facto, refere a TeleSur.

Na mesma ocasião, sublinharam que, enquanto dezenas de pessoas continuam na cadeia por participarem em mobilizações, até agora não foram julgados quaisquer responsáveis directos ou autores políticos dos assassinatos dos manifestantes.

Entre as várias decisões tomadas no encontro nacional, conta-se o anúncio da realização de uma marcha até à capital, Lima, para reclamar maior celeridade nas investigações sobre factos da repressão policial e militar, que provocou a morte a mais de 60 manifestantes.

Familiares de vítimas no encontro celebrado em Juliaca // Wilson Castillo / @WaykaPeru

Segundo refere a TeleSur, os participantes expressaram ainda o repúdio pelas «manobras do governo e da imprensa dominante para silenciar o encontro», bem como para impedir que nele participassem organizações de defesa dos direitos humanos.

Ainda no sábado, realizou-se uma mobilização na Praça de Armas de Juliaca, para evocar as 19 vítimas mortais da repressão nessa cidade, a 15 de Janeiro último, assim como os manifestantes que foram mortos, a 10 de Dezembro de 2022, em Ayacucho.

As manifestações no Peru contra o governo de facto mantêm-se desde 7 de Dezembro último, quando o então presidente, Pedro Castillo, foi destituído e preso, e Dina Boluarte foi empossada.

Milhares de pessoas vieram para as ruas, exigindo a demissão de Dina Boluarte, o encerramento do Congresso, a criação de uma Assembleia Constituinte e uma nova Constituição.

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Jornada de protesto marcada por intensa repressão policial em Lima

Repressão foi a resposta do governo de facto aos milhares que, esta quinta-feira, reafirmaram a exigência de demissão de Boluarte. No dia 18, a embaixadora dos EUA reuniu-se com o ministro da Energia e Minas.

Créditos / @menoscanas

No âmbito da paralisação nacional iniciada a 4 de Janeiro, os «provincianos» que têm andado a denunciar o golpe, a exigir a demissão de Dina Boluarte, o encerramento do Congresso, eleições antecipadas e uma Assembleia Constituinte vieram de regiões como Apurímac, Cusco, Huancavelica, Arequipa, Puno, Ayacucho, entre outras.

Os convocantes chamaram-lhe «Marcha de los Cuatro Suyos» até Lima, num contexto em que também a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e a Assembleia Nacional dos Povos (ANP) convocaram para esta quinta-feira uma jornada de greve e mobilização nacional.

Diversos grupos de manifestantes vindos de fora e os residentes na capital desfilaram de forma pacífica com bandeiras nacionais e indígenas, bem como com cartazes e faixas a patentear as suas exigências. [Vídeo: na Praça 2 de Maio]

A certa altura, refere a TeleSur, elementos da Polícia, que apareceram na manifestação em carros blindados, começaram a lançar bombas de gás lacrimogéneo, sem que se registasse violência ou distúrbios.

Outro facto apontado pela fonte é que o enorme dispositivo policial formava barreiras para impedir a passagem dos manifestantes, dividindo-os.

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Protestos generalizados contra o governo golpista no Peru

O nono dia consecutivo de greves e mobilizações ficou marcado por uma grande manifestação em Lima, detenções de dirigentes sociais em Ayacucho e a demissão do ministro do Trabalho do governo de facto.

Manifestação em Lima, a 12 de Janeiro de 2023 
CréditosJuan Zapata / @WaykaPeru

O número de vítimas mortais nos protestos subsequentes à destituição de Pedro Castillo, a 7 de Dezembro último, subiu para 48, depois de as autoridades de medicina legal terem confirmado a morte de um adolescente – atingido com uma bala na cabeça – no departamento de Puno, ontem à tarde.

Também confirmaram que todas as vítimas do massacre de Juliaca, perpetrado dia 9 naquele departamento andino, faleceram com impactos de bala.

Na véspera, um outro jovem faleceu nos protestos contra o governo de Boluarte, na cidade de Cusco, onde a Polícia reprimiu de forma violenta as manifestações que ali tiveram lugar. Há ainda registo de pelo menos 56 feridos e de mais de uma dezena de detenções.

Ontem, houve manifestações, em ambiente de grande tensão, em vários pontos da região sul-andina, nomeadamente nos departamentos de Puno, Cusco, Moquegua, Madre de Dios, Arequipa, Apurímac, Tacna e Ayacucho.

Protestos em Cusco // Wilson Chillo / @WaykaPeru

Houve ainda cortes de estradas em múltiplas províncias do país sul-americano. Até ao meio-dia, a Superintendência de Transporte Terrestre de Pessoas, Carga e Mercadorias (Sutran) registou 78 bloqueios em dez regiões.

Em Ayacucho, foram detidos três dirigentes sociais, um dos quais dirigente da Frente de Defesa do Povo de Ayacucho, alertou a Coordenadora Nacional de Direitos Humanos, informando que tinham acabado de participar num acto cultural na Casa do Professor.

No passado dia 4 de Janeiro, teve início no Peru uma greve por tempo indeterminado, no âmbito da qual organizações sociais e sindicais exigem a demissão de Boluarte, o encerramento do Congresso, eleições antecipadas já em 2023, uma Assembleia Constituinte, uma nova Constituição, e a libertação do ex-presidente Pedro Castillo, que se encontra detido.

Esta greve dá sequência aos protestos iniciados logo que o Congresso destituiu Castillo, a 7 de Dezembro, e empossou a até então vice-presidente, Dina Boluarte, como nova presidente da República – a que os manifestantes chamam «traidora» e, mais recentemente, «assassina».

Grande manifestação em Lima

Na capital do país, milhares de trabalhadores [vídeo] responderam ao apelo da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e manifestaram-se pelo centro da cidade gritando palavras de ordem contra Boluarte.

Protestos em Cusco // Wilson Chillo / @WaykaPeru

Num comunicado emitido ontem, anterior à manifestação, a CGTP não atribui qualquer crédito ao voto de confiança que o Congresso, «cúmplice dos actos criminosos do regime», deu ao «gabinete ministerial da ditadura cívico-militar-empresarial de Dina Boluarte».

Reafirmando que vai continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores, a central sindical diz que «persistirá na luta democrática, juntamente com os trabalhadores e as organizações sociais de todo o país, pela demissão de Dina Boluarte, eleições antecipadas imediatas e um referendo por uma nova Constituição».

Centenas de polícias, refere a TeleSur, acompanharam a mobilização, formando muralhas humanas em torno dos manifestantes, mas os episódios de repressão, ao contrário de outras ocasiões, foram esporádicos.

Neste contexto, a Federação Sindical Mundial fez um apelo à solidariedade com o povo e os trabalhadores do Peru, lembrando o papel assumido pela direita no país sul-americano, a grande mobilização popular em defesa da democracia e condenando «a criminosa política neoliberal» pela «forte repressão e violência».

Primeiro-ministro defende a «mão-de-ferro»

Confrontado com protestos que teimam em não parar, o primeiro-ministro, Alberto Otárola, afirmou que a presidente do governo de facto – que tem o apoio da Embaixada dos EUA em Lima – não se vai demitir, e defendeu a forma de actuar da Polícia e das Forças Armadas nas manifestações, dizendo que as mortes são da responsabilidade de quem atacou o Estado.

Manifestantes, com bandeiras de luto, em Tacna // Abelardo Chura / @WaykaPeru

Quem deixou de alinhar com esta versão foi o ministro do Trabalho, Eduardo García, ao assumir a impopularidade do Congresso, que as eleições não podem ser só em 2024 e que as mortes dos «irmãos» na região sul-andina são uma «tragédia», indica a Prensa Latina. É o terceiro ministro a abandonar o executivo golpista.

Entretanto, um grupo de juristas revelou que está juntar provas para fundamentar uma queixa contra a presidente Boluarte, que apontam como principal responsável pelo «assassinato» de quase meia centena de manifestantes desde o início dos protestos.

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Entretanto, encurralados pelas barreiras policiais e pelo gás lacrimogéneo, alguns grupos atiraram pedras à Polícia, e o centro de Lima tornou-se o cenário de uma «batalha campal», refere a Prensa Latina.

No resto do país, ontem multiplicaram-se as mobilizações de protesto e as greves, e o número de bloqueios nas estradas chegou a 127, em 44 províncias.

Entretanto, os responsáveis da Saúde do governo regional de Arequipa confirmaram que, esta quinta-feira, uma pessoa foi morta a tiro, quando um grupo de manifestantes tentava tomar de assalto o aeroporto local.

O número de pessoas mortas pelas forças de segurança desde o início dos protestos no Peru, a 7 de Dezembro de 2022, sobe para 44, de acordo com os dados da Provedoria de Justiça.

A estes, juntam-se outros nove em acções ou incidentes ligados aos protestos, pelo que se registam pelo menos 53 mortes durante as manifestações contra o Congresso e a presidente da República, Dina Boluarte, que assumiu o cargo quando o Parlamento destituiu Pedro Castillo.

Boluarte volta a acusar os manifestantes

Respondendo na TV à grande mobilização, que quebrou pela força, a presidente de facto do Peru reafirmou que não se vai demitir, disse que o seu governo está unido e voltou a catalogar as manifestações como acções de vandalismo e de delinquência, responsáveis pela agitação social no país sul-americano.

Embaixadora norte-americana no Peru, Lisa Kenna, e ministro da Energia e Minas, em Lima, a 18 de Janeiro de 2023 / @MinemPeru

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Do que Boluarte não falou foi do forte apoio que a embaixadora norte-americana no país, a ex-CIA Lisa Kenna, deu ao golpe e ao governo golpista.

O jornalista Ben Norton, no portal geopoliticaleconomy.com, lembra que o Peru tem largas reservas de cobre, ouro, zinco, prata, chumbo, ferro e gás natural, e que Kenna se tem reunido regularmente com figuras de proa do governo de facto peruano.

No passado dia 18, teve uma reunião com o ministro da Energia e Minas, tendo discutido oportunidades de «investimento» e planos para «desenvolver» e «expandir» as indústrias extractivas.

Além dos EUA, recorda o jornalista norte-americano, a Europa também tem muito interesse nos recursos peruanos, estando a importar, nomeadamente, gás natural liquefeito para substituir o gás russo, no contexto do boicote imposto pela UE à importação de energia russa por causa da guerra entre a NATO e a Rússia na Ucrânia.

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Denunciando a existência de um golpe, as manifestações voltaram a ganhar intensidade no início de Janeiro, tendo como epicentro as regiões sul-andinas do país.

Seguiu-se aquilo a que os manifestantes chamaram a «tomada de Lima», a 19 de Janeiro, e um período de grandes manifestações na capital – que foram fortemente reprimidas.

Os protestos contra o golpe ainda continuam no Peru – embora com menor intensidade. Também se mantém em actualização o registo de vítimas mortais da repressão. Esta sexta-feira, faleceu Manuel Quilla Ticona, de 36 anos, que tinha sido hospitalizado depois de participar em mobilizações em Lima.

Os seus familiares afirmam que foi detido pela Polícia e torturado, e exigem justiça. Foi enterrado este domingo na província de Huancané (região de Puno), de onde era natural.

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As delegações do interior comprometeram-se a enviar delegações de manifestantes até Lima. No caso de Puno, bastião da resistência contra o governo golpista, afirmaram que iriam enviar mil por cada uma das 13 províncias do território sul-andino.

Nos protestos, também se exigirá a saída do país das tropas dos Estados Unidos, cuja entrada foi aprovada pelo Congresso e o Executivo, tendo sido sublinhado no encontro que a chegada dos primeiros contingentes de tropas não é um acaso, precisamente quando se reactivam os protestos populares no país.

Na sequência do golpe de Estado contra Castillo, a 7 de Dezembro último, o Peru foi palco de grandes protestos contra o governo de Boluarte, que os organizadores responsabilizam pelas cerca de 70 mortes de civis então ocorridas.

Segundo revelou Pizarro, a organização das mobilizações que se avizinham considera a possibilidade de pedir observadores internacionais, para evitar consequências como as da repressão registada durante as manifestações realizadas entre Dezembro e Março.

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