A 29 de Março teve início o julgamento do ex-agente da Polícia de Minneapolis Derek Chauvin, que é acusado do assassinato de George Floyd, a 25 de Maio do ano passado, em Minneapolis. Desde então, no espaço de 20 dias, pelo menos 64 pessoas morreram às mãos das forças da ordem em todo o país, e as pessoas negras e latinas representam mais de metade dos mortos, afirma o diário norte-americano The New York Times (NYT).
O diário explica que se registou um aumento no número de mortes provocadas pelas forças policiais nesta fase, sublinhando que, até sábado passado, a média era superior a três mortes por dia.
Apenas sete horas antes de os procuradores terem aberto o caso contra Chauvin, um agente policial matou um menor de 13 anos em Chicago. Um dia depois, vários agentes dispararam fatalmente contra um homem de 32 anos em Jacksonville, na Florida, nota o periódico, que enumera múltiplos casos.
«Em todos os dias que se seguiram, até ao final do depoimento, uma outra pessoa foi morta pela Polícia nalgum lugar dos Estados Unidos», afirma, destacando a «exaustão mental e emocional» que prevalece tanto em membros das comunidades como em pessoal das forças de segurança – «a sensação de que o país não consegue resolver esta situação».
Milhares de pessoas protestaram esta terça-feira em Minneapolis (EUA) contra a detenção policial violenta de George Floyd, um afro-americano de 46 anos que veio a falecer num hospital. Com o joelho, um agente da Polícia pressionou o pescoço de Floyd contra o solo durante vários minutos, apesar de o detido estar algemado e ter afirmado mais que uma vez que não conseguia respirar. Levado para um hospital, foi dado como morto na segunda-feira. A detenção violenta foi filmada por um transeunte e publicada nas redes sociais, rapidamente gerando revolta a nível nacional. Quatro agentes foram despedidos pelo papel que desempenharam no caso, que está a ser investigado, segundo revelam os portais da CBS e do Star Tribune. Ontem ao fim da tarde, milhares de pessoas juntaram-se na capital do estado norte-americano do Minnesota, na Avenida de Chicago, perto do local onde George Floyd foi violentamente detido por «suspeita de falsificação». Dali seguiram em manifestação de protesto, num trajecto de cerca de três quilómetros, até uma das estações da Polícia de Minneapolis, que, de acordo com a CBS Minnesota, se encontrava rodeada pela Polícia de intervenção. Em vídeos publicados nas redes sociais, vê-se os agentes a recorrer a gás lacrimogéneo, granadas de fumo e balas de borracha contra os manifestantes. Um repórter do Star Tribune, que foi publicando informações sobre a mobilização à medida que ia decorrendo, mostrou imagens de pessoas a usarem leite depois de serem atingidas com gás lacrimogéneo e a utilizarem carros de compras de um supermercado como barreira de protecção. Esse mesmo repórter afirmou ter sido atingido por uma bala de borracha enquanto fazia a cobertura dos protestos, que foram maioritariamente pacíficos, embora alguns manifestantes tenham expressado a sua revolta lançando tijolos e pedras aos carros da Polícia ou partindo janelas. O presidente do município de Minneapolis, Jacob Frey, que não comentou os protestos, lamentou o que se passou com Floyd, classificando a situação como «horrível». Antes, no Twitter, escreveu que «ser negro na América não devia ser uma sentença de morte». Ao longo da marcha, o alerta de Floyd «I can't breathe» (não consigo respirar) tornou-se um grito de revolta dos manifestantes, que sublinharam que não basta o despedimento dos agentes envolvidos e exigiram o seu «rápido processamento judicial». «Isto vai acontecer outra vez se não viermos para a rua fazer frente a isto», disse o manifestante e «activista comunitário» Al Flowers ao Star Tribune. Como muitos outros presentes no protesto, exigiu o julgamento dos agentes. «[O Floyd] não se estava a mexer. Não estava a fazer nada… Eles mataram-no», disse Linda Bias, residente em Minneapolis. «Onde ele morreu foi aqui mesmo», disse Charles McMillian, outro habitante, ao apontar para os balões e as flores que se amontoavam em memória de Floyd na Avenida de Chicago. McMillian, de 60 anos, disse que a morte de Floyd fazia lembrar a de Eric Garner, que morreu em 2014, depois de ser asfixiado por um agente da Polícia de Nova Iorque que o tentava prender. Então, os gritos de Garner «Não consigo respirar» ecoaram por todo o país, em manifestações contra a brutalidade e o racismo da Polícia nos EUA. De acordo com os dados divugados pelo The Washington Post, em 2019 mais de mil pessoas foram mortas pela Polícia nos Estados Unidos, sendo os afro-americanos os mais visados. O grupo The Sentencing Project analisa em profundidade as «disparidades raciais» na actuação policial nos EUA, sendo que os afro-americanos adultos e jovens têm mais probabilidades de ser detidos ou ir parar à prisão. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
«Não consigo respirar»: grandes protestos em Minneapolis após morte de afro-americano
Revolta, frustração e exigência de condenação
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«Quantas perdas mais temos de lamentar?», perguntou Miski Noor, co-directora executiva do grupo Black Visions, sediado em Minneapolis, numa declaração após a morte recente de Daunte Wright, de 20 anos. A dor da morte de George Floyd «ainda está vincada nas nossas mentes e mesmo assim a história continua a repetir-se», prosseguiu. «A nossa comunidade atingiu o ponto de ruptura», alertou.
Muitas mortes às mãos da Polícia ocorreram à medida que o julgamento decorria em Minneapolis, e poucas chamaram tanto a atenção do país, neste período, como a de Daunte Wright, que teve lugar a cerca de 15 quilómetros do tribunal onde Derek Chauvin estava a ser julgado. Uma agente matou-o, alegando ter confundido a sua arma com o taser. Seguiram-se fortes protestos.
Abigail Cerra, advogada na área dos direitos civis em Minneapolis e membro da Comissão de Supervisão da Conduta da Polícia de Minneapolis, disse ao jornal que não era claro se os agentes o tinham mandado parar por causa de uma carta caducada, um problema para muitos automobilistas no estado do Minnesota durante a pandemia de Covid-19.
Mas há dois aspectos no caso que, disse, são irritantemente familiares: Daunte Wright era negro e a Polícia, que o devia entregar em segurança aos tribunais, onde as violações da lei devem ser julgadas, na verdade executou uma pena de morte. «É só mais um exemplo de um delito sem importância que escala para a letalidade», disse Cerra.
1100 pessoas mortas por ano desde 2013
Desde 2013, cerca de 1100 pessoas foram mortas todos os anos pela Polícia, de acordo com os dados recolhidos pela organização Mapping Police Violence, que estuda estas mortes, incluindo as não provocadas por armas, como no caso de George Floyd.
Philip Stinson, professor da área de Justiça Criminal na Bowling Green State University que estuda a morte de civis por membros das forças de segurança, afirmou que o aspecto mais espantoso das estatísticas sobre a letalidade da força policial é quão pouco os números mudaram desde que os investigadores começaram a rastreá-los de forma abrangente, há uma ou duas décadas.
Desde que, na sexta-feira, um juiz absolveu um ex-polícia das acusações relacionadas com o assassinato de um afro-americano, em 2011, registaram-se intensos protestos na cidade norte-americana de St. Louis e mais de 80 pessoas foram detidas. Durante o dia, têm havido grandes mobilizações, de um modo geral não violentas, de acordo com órgãos de comunicação local e mensagens divulgadas via Twitter, a que a Prensa Latina e a RT fazem referência. À noite, os protestos têm sido mais violentos, com diversos grupos a provocar danos consideráveis no centro da cidade, localizada no estado do Missouri, junto à fronteira com o de Illinois. No domingo, cerca de mil pessoas juntaram-se em frente ao Departamento da Polícia, fazendo ouvir palavras de ordem como «Parem de nos matar». Já esta manhã, mais de 100 pessoas concentram-se frente à Câmara Municipal. Bruce Franks Jr, representante estadual no Congresso pelo Partido Democrata, afirmou à comunicação social que «a paz não é uma opção», mas que havia «uma diferença entre ser-se pacífico e não-violento», em alusão aos protestos das últimas noites. Para Franks o cerne da questão está em «perturbar» e em «tornar as pessoas desconfortáveis». Mais pacíficos ou mais violentos, os protestos regressaram às ruas de St. Louis na sexta-feira passada, depois de um juiz ter absolvido um ex-polícia das acusações relacionadas com os factos ocorridos em Dezembro de 2011. Então, o ex-agente e um colega perseguiram Anthony Lamar Smith durante quase cinco quilómetros, suspeitando que o afro-americano estava envolvido no tráfico de drogas. No final da perseguição, a viatura do suspeito foi alcançada e, quando este tentou acelerar em fuga, foi atingido por cinco disparos. O ex-agente afirmou que tinha agido em legítima defesa, por julgar que Lamar Smith ia pegar numa pistola. No entanto, a análise forense revelou que apenas o ADN do ex-membro das forças policiais estava presente na arma junto a Smith. O polícia foi acusado pelo Ministério Público de a ter colocado na cena do crime e de homicídio de primeiro grau. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Quarto dia de protestos em St. Louis, após absolvição de agente
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Apesar de os vídeos gravados em telemóveis e nas câmaras corporais tornarem mais difícil esconder os erros humanos e os abusos de autoridade por parte da Polícia – e com a comunicação social a amplificar a indignação pública –, apenas 1,1% dos agentes que matam civis são acusados de homicídio ou homicídio involuntário, disse Stinson citado pelo NYT.
No entanto, muitas vítimas de violência policial e as suas famílias não têm qualquer registo videográfico em que se apoiar.
Os agentes de Daly City, na Califórnia, não estavam a usar câmaras quando se envolveram numa luta com Roger Allen, de 44 anos, com este sentado num carro com um pneu furado, a 7 de Abril. Os agentes disseram que Allen tinha consigo, no seu colo, o que parecia ser uma arma. Afinal, era uma pressão de ar, mas Allen foi atingido no peito durante a disputa.
Talika Fletcher, de 30 de anos, disse que está a lutar para aceitar o facto de o seu irmão mais velho, que era como uma figura paterna, se ter juntado à lista terrível de homens negros que morreram às mãos das forças de segurança.
«Nunca pensei que que o meu irmão se tornasse um cardinal [hashtag]», afirmou, tendo acrescentado ter poucas esperanças de que a dinâmica entre os negros e a Polícia seja melhor quando o seu filho de 14 meses, Prince, crescer. «O ciclo não vai mudar», disse.
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