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|Índia

Covid-19: planeamento e investimento público na base do êxito de Kerala

O estado indiano, com 35 milhões de habitantes, regista 576 casos de coronavírus e 4 mortes. O governo local, liderado por comunistas, e a sua ministra da Saúde têm sido louvados pela contenção da doença.

Centro de detecção em Ernakulam, em Kerala
Centro de detecção em Ernakulam, em Kerala Créditos / National Post

KK Shailaja, ministra da Saúde do estado de Kerala (Sul da Índia), começou a preparar-se para a epidemia de Covid-19 logo a 20 de Janeiro, depois de ter lido que um novo vírus perigoso se estava a disseminar na China.

Três dias depois, ainda antes de o estado ter registado o primeiro caso de Covid-19, a ministra manteve uma reunião com a sua equipa de resposta rápida. No dia seguinte, a 24 de Janeiro, já existia em Kerala uma sala de controlo para lidar com a nova situação e foram dadas ordens ao funcionários da Saúde nos 14 distritos do estado para começarem a fazer o mesmo a nível local, explica o The Guardian.

Quando, a 27 de Janeiro, houve registo do primeiro caso, o estado de Kerala já tinha começado a aplicar o protocolo da Organização Mundial da Saúde: testar, investigar contactos, isolar e apoiar.

Quatro meses volvidos, Kerala regista apenas 576 casos de pessoas infectadas com o novo coronavírus e quatro mortes. O êxito no controlo da pandemia tornou-se conhecido e levou o jornal inglês a falar com a ministra, para tentar perceber como um estado no extremo Sul da Índia, com muito menos recursos que o Reino Unido ou os Estados Unidos, tem um número tão baixo de casos e mortes, por comparação com os países referidos (cerca de 34 mil e 88 mil mortes, respectivamente).

Propagação, medidas de controlo e de apoio social

Em Janeiro, três passageiros provenientes da China que tinham febre à chegada foram hospitalizados – confirmando-se depois que tinham Covid-19 – e os restantes passageiros do avião tiveram de ficar em quarentena. A doença foi então contida, mas, em Fevereiro, uma família local que regressava de Veneza não referiu com precisão o seu trajecto de viagem; posteriormente, as autoridades detectaram seis casos de infecção com o novo coronavírus entre as pessoas que tinham contactado com eles e conseguiram conter novamente a disseminação da doença.

Entretanto, foram chegando ao estado muitos trabalhadores que haviam emigrado para países do Golfo Pérsico, alguns dos quais infectados. A 23 de Março, os aeroportos internacionais de Kerala fecharam e, dois dias depois, a Índia entrou em confinamento.

No pico da pandemia, 170 mil pessoas chegaram a estar sob observação das autoridades de saúde; aqueles que não tinham casa de banho em casa foram alojados às custas do governo local em unidades de isolamento improvisadas. Além disso, 150 mil trabalhadores migrantes de outros estados indianos, que ficaram presos em Kerala por causa do confinamento obrigatório, foram alimentados com três refeições por dia durante seis semanas, estando agora a ser enviados para suas casas de comboio, explicou a ministra ao The Guardian.

O programa de distribuição de alimentos em Kerala, destinado às famílias mais pobres, foi alargado a todos os cidadãos do estado, de devido à pandemia / PCI (M) e Brasil de Fato

Uma ministra comunista de um governo liderado por comunistas

Shailaja Teacher (a professora Shailaja), como é conhecida – por ter sido professora de Ciências no ensino secundário –, nasceu, em 1956, no seio de uma família progressista e com ligações à política. Ao crescer, viu como o Partido Comunista da Índia (Marxista) – PCI (M) – teve um papel destacado nos governos do estado (desde 1957) e assistiu à construção, desde a base, do chamado «modelo de Kerala».

A reforma agrária, o sistema público de saúde descentralizado e o investimento público na educação são marcas desse «modelo». «Cada aldeia tem um centro de saúde primário e há hospitais em todos os níveis de administração, além de dez universidades médicas», refere o The Guardian.

Acrescenta que nenhum estado indiano investiu tanto na saúde primária como Kerala, que tem a mais alta esperança média de vida e a mais baixa taxa de mortalidade infantil da Índia; é também o estado com o nível mais elevado de literacia. A ministra da Saúde afirma: «Se o modelo de Kerala não existisse, a resposta do governo à Covid-19 não teria sido possível.»

Quando o PCI (M) assumiu o poder, em 2016 – liderando uma coligação de esquerda –, empreendeu uma modernização do sistema de saúde. A criação de um registo para doenças respiratórias – que é um problema de primeira ordem na Índia – ajudou muito as autoridades a lidar com o coronavírus, sublinha Shailaja.

Além disso, com o surto, cada um dos 14 distritos do estado teve de dedicar dois hospitais à Covid-19 e cada faculdade médica foi obrigada a reservar 500 camas. Como havia falta de testes – sobretudo depois de a doença atingir em força países mais ricos –, estes foram feitos inicialmente só a doentes com sintomas e aos seus contactos mais próximos, bem como aos trabalhadores mais expostos.

KK Shailaja, ministra da Saúde do estado de Kerala / The Guardian

A «destruidora do coronavírus»

Em 2018, as autoridades de saúde de Kerala detectaram um caso de infecção causado pelo vírus Nipah – encontrado pela primeira vez na Malásia em 1998 e transmitido pelos morcegos da fruta. A rápida contenção do surto, com o isolamento de casos suspeitos, levou a que o número de contágios e mortes fosse muito baixo. Tanto o governo liderado por Pinarayi Vijayan como KK Shailaja foram elogiados pelo seu trabalho.

«O Nipah preparou-nos para a Covid-19 porque nos ensinou que uma doença altamente contagiosa para a qual não existe tratamento ou vacina deve ser levada a sério», afirma a ministra, que goza de muita popularidade e a quem chamam a «destruidora do coronavírus».

Agora, o estado de Kerala está a preparar-se para uma eventual segunda vaga, que poderá chegar com o regresso de mais emigrantes dos países do Golfo quando as fronteiras forem reabertas. «Vai ser um grande desafio, mas estamos a preparar-nos para isso», disse a ministra da Saúde e militante comunista ao The Guardian.

«Há os planos A, B e C (para o pior cenário), que implica requisitar 165 mil camas a hotéis, pensões e centros de conferências», explicou, acrescentando que a aposta passa também pela investigação dos contactos, estando professores a ser treinados para essa tarefa.

Quando a segunda vaga passar – se chegar a haver alguma –, estes professores voltarão para as escolas. E é exactamente isso que ela espera fazer, assim que terminar o seu mandato, depois das eleições do próximo ano. Questionada sobre o segredo para combater a Covid-19, respondeu: «Planeamento adequado.»

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