À frente, seguiam os membros da associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos, que este ano escolheu como lema «30 vezes Nunca Mais: Saibam cumprir. Onde estão?».
No meio da multidão, destacavam-se imagens dos que continuam sem aparecer – uma lista de 197 nomes de uruguaios que foram vítimas do terrorismo de Estado.
Além de Montevideu, a Marcha do Silêncio realizou-se noutros pontos do país austral, assinalando o aniversário dos assassinatos, perpetrados em 1976 em Buenos Aires, de Zelmar Michelini, Héctor Gutiérrez Ruiz, Rosario Barredo e William Whitelaw, e evocando o desaparecimento do comunista Manuel Liberoff, a 19 de Maio do mesmo ano, igualmente na capital argentina.
A associação, que organiza a marcha desde 1996, continua a pedir respostas ao Estado, aos governantes e, como disse Elena Zaffaroni na edição do ano passado, a quem tem o «poder de mandar nas Forças Armadas, de exigir, porque a verdade está aí».
Numa entrevista a um canal de TV na véspera da mobilização, a dirigente da Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos voltou a acusar as Forças Armadas uruguaias de se recusarem a prestar informações sobre o paradeiro dos desaparecidos.
«As Forças Armadas nunca colaboraram, nem vão colaborar», disse Zaffaroni ao Canal 10, sublinhando a convicção, há muito expressa pela associação, de que os militares uruguaios mantêm arquivos em segredo e impedem as investigações e o exercício da justiça.
«Cada Marcha do Silêncio é maior que anterior»
Numa entrevista a ladiaria.com.uy, Zaffaroni e outro dirigente destacado da associação, Ignacio Errandonea, abordaram várias questões relacionadas com os desaparecidos na actualidade, sublinhando que o lema «Todos somos familiares» foi apropriado por uma grande parte da sociedade, que não aceita a impunidade para os crimes da ditadura, e que cada edição da marcha é maior que a anterior.
Outro aspecto destacado por Zaffaroni e Errandonea foi «a atitude mais próxima» do actual governo, liderado por Yamandú Orsi, em relação às posições que a associação tem assumido historicamente.
Afirmaram que, numa primeira reunião com membros do colectivo, Orsi deu bons sinais, «fez muitas perguntas» e assumiu alguns compromissos – sendo um deles o de colocar à disposição tudo o que o Estado puder, por via da Secretaria dos Direitos Humanos para o Passado Recente.
Também alertaram para o que se passa na Argentina e em várias partes do mundo, onde vingam discursos negacionistas e que relativizam e justificam o terrorismo de Estado na ditadura.
Neste contexto, destacaram a necessidade de aprofundar a memória, de intensificar a formação, a denúncia e a mobilização popular.
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