No passado dia 23, o WikiLeaks divulgou o e-mail que um especialista da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) enviou a esta organização das Nações Unidas a 22 de Junho de 2018, pouco mais de dois meses e meio depois de um suposto ataque químico na cidade síria de Douma (arredores de Damasco), anunciado ao mundo pelos chamados Capacetes Brancos.
O autor da mensagem – que integrava a missão de investigação da OPAQ no terreno e cuja identidade não é revelada – dirigiu-se a Robert Fairweather, chefe de gabinete no organismo, ao seu adjunto, Aamir Shouket, e outros membros da missão.
De acordo com o autor da mensagem, a versão redigida do relatório distorce os factos que ele e os seus colegas observaram no terreno. «Muitos dos factos e observações traçados na versão completa estão ligados de forma confusa», denuncia, acrescentando que, por via «da «omissão selectiva de [factos], foi introduzido no relatório um elemento de parcialidade, que mina a sua credibilidade». Afirmou ainda que alguns elementos «cruciais» que podem ser apreciados na versão redigida «se transformaram em algo de bastante diferente por comparação com o texto original».
Divergências «particularmente preocupantes»
O «ataque a Douma» de 7 de Abril de 2018 foi quase de imediato atribuído às forças do Exército Árabe Sírio, tomando como base as informações divulgadas pelos terroristas no terreno e a organização pretensamente humanitária dos Capacetes Brancos – amplamente desmascarada pelas ligações à Al-Qaeda e às potências ocidentais.
EUA, Reino Unido e França nem sequer esperaram que a equipa de investigação das Nações Unidas chegasse ao local: decidiram que Bashar al-Assad era culpado, que os «cilindros com cloro» tinham sido atirados do ar, e lançaram vários ataques contra o país levantino uma semana depois, a 14 de Abril.
O informe redigido pela OPAQ parece apoiar estas conclusões favoráveis aos agressores à Síria, mas o autor do e-mail destaca diversos elementos «particularmente preocupantes» no documento.
Sobre a frase, incluída no relatório, de que a equipa de especialistas dispunha de «provas suficientes» de que «cloro ou outro químico que contém cloro» foi usado na zona, o autor da carta sublinhou que houve apenas provas de que as amostras recolhidas naquele território «entraram em contacto com um ou mais químicos que contêm o átomo do cloro reactivo», e afirmou que podiam ser diversas substâncias, incluindo o hipoclorito de sódio, que é «o ingrediente principal da lixívia doméstica». «Apontar propositadamente o gás de cloro como uma das possibilidades não é ingénuo», sublinhou.
A versão redigida do informe da OPAQ refere que o gás provinha provavelmente de cilindros, embora na versão original os especialistas tivessem destacado que essa era apenas uma das possibilidades e que não havia provas suficientes para a defender. «Isto é um dos maiores desvios do relatório original», escreveu o autor do e-mail.
Incoerência entre vídeos e testemunhos
Uma das «provas» do «ataque», amplamente divulgadas pelas televisões mundo afora, foi um vídeo em que, alegadamente, se podiam ver sintomas das pessoas afectadas. No entanto, destaca o autor da mensagem, há uma «incoerência» entre o que se mostra e os relatos das «testemunhas», aquilo que elas disseram ter visto naquele dia.
Esta divergência foi abordada no informe original, mas aparentemente eliminada da versão redigida pela OPAQ. «A omissão desta secção do relatório […] tem um impacto seriamente negativo no relatório, já que a secção está inextricavelmente legada ao agente químico identificado», disse.
Além disso, refere, a versão redigida não tem a parte em que se procedia à análise da localização e do estado dos cilindros que alegadamente continham o químico, bem como a «eventual inconsistência» da informação que apontava para o lançamento dos cilindros a partir do ar, tendo em conta os danos causados nas áreas circundantes.
Neste sentido, o especialista considera que, após as alterações sofridas, o relatório «já não reflecte o trabalho da equipa» e solicita a publicação da versão completa.
O especialista em temas internacionais Abu Faisal Sergio Tapia comentou a publicação do WikiLeaks, tendo afirmado que o relatório final da OPAQ «se ajusta aos interesses do Reino Unido, dos EUA e da França», que a 14 de Abril de 2018 bombardearam a Síria, refere a Prensa Latina.
Por seu lado, Damasco e Moscovo defendem que o caso de Douma foi uma «montagem» para justificar os ataques do Ocidente, num momento em que as forças do Exército Árabe Sírio e seus aliados materializavam grandes avanços e conquistas na luta contra os grupos terroristas na cidade da província damascena.
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