Na entrevista que o Daily Mail divulgou este domingo e cujo conteúdo está acessível na íntegra no portal da agência SANA, Bashar al-Assad acusa o Ocidente de ter defendido a guerra na Síria desde o início, «apoiando os terroristas que começaram a fazer explodir tudo, a matar tudo e todos, e a cortar cabeças».
Referindo-se concretamente à luta contra o Daesh (o autoproclamado Estado Islâmico), disse que tem sido o Exército sírio a assumir a parte principal dessa luta, com o apoio dos russos e dos iranianos.
Acrescentou que «mais ninguém faz o mesmo, nem sequer de forma parcial», e acusou a aliança militar ocidental liderada pelos norte-americanos de, «na verdade, andar a ajudar o Daesh».
A propósito da presença de tropas estrangeiras em território sírio, o chefe de Estado caracterizou a intervenção norte-americana e britânica como «ilegal» e «ilegítima», e como «uma violação da soberania da Síria – um país soberano». Usou estes termos para a diferenciar da presença militar russa e da iraniana em território sírio, em ambos os casos «legítimas» porque dão sequência a convites feitos por Damasco.
Destacou as boas relações que o seu país mantém «com a Rússia há mais de seis décadas» e o facto de, nesse período, os russos «nunca se tentarem impor, mesmo quando há divergências». Em última instância, «a decisão sobre o que se passa ou o que se vai passar na Síria é uma decisão síria», frisou.
O governante sírio demitiu como infundadas as teses sobre uma suposta coordenação israelo-russa na Síria. «A Rússia nunca se coordenou com ninguém contra a Síria, tanto a nível político como militar, e isso é uma contradição», disse, para perguntar em seguida como é que os russos «podiam estar a ajudar o Exército sírio a avançar e, ao mesmo tempo, estar a trabalhar com os inimigos [da Síria] para destruir o seu Exército».
Ataque químico em Douma: uma «mentira» encenada a três
Sobre o alegado ataque químico em Douma, na região damascena de Ghouta Oriental, Bashar al-Assad afirmou que foi encenado conjuntamente pelos EUA e os seus «satélites» França e Reino Unido.
A este propósito o presidente sírio dirigiu fortes acusações ao Reino Unido, lembrando que este país «apoiou publicamente» e «gastou muito dinheiro» com os Capacetes Brancos, que são «uma ramificação da Al-Qaeda e da al-Nusra em várias partes da Síria», e foram a organização directamente envolvida na encenação e divulgação do ataque químico em Douma, a 7 de Abril último.
«Foi uma mentira; sobretudo depois de libertamos aquela área, os nossos serviços confirmaram que o ataque nunca ocorreu», disse al-Assad, sublinhando que muitos jornalistas visitaram a região após a libertação e não encontraram sinais de ataque algum.
«Não houve qualquer ataque; é aqui que a mentira começa. Mais uma vez, a questão não era o ataque […], mas minar o governo sírio, da mesma forma que eles [EUA, França, Reino Unido] precisavam de mudar e derrubar o governo sírio no início da guerra», disse.
O chefe de Estado sírio sublinhou que irá libertar todo o território do seu país, por mais ameaças que sejam proferidas pelos inimigos da Síria. Questionado sobre o tempo de tal empreendimento, respondeu que sempre disse que o «conflito poderia estar resolvido num ano».
O que complica a questão é «ingerência externa»: «Quanto mais avançamos, mais o Ocidente apoia os terroristas», denunciou, salientando que os EUA, o Reino Unido e a França «irão tentar prolongar» a guerra e tornar «mais distante a solução dos sírios».