Como já tinha referido em «Acervos e coleções de arte», nem sempre se tem sido valorizado os diversos acervos públicos de arte existentes no nosso país, quer por falta do registo e inventariação das obras que os constituem, como pela falta da sua atualização e divulgação através de ciclos de programação de exposições ou outras atividades pedagógicas com o público em geral e com as escolas. Salientamos, no entanto, uma vez mais, que existem alguns casos dignos de serem referidos como excelentes exemplos. O município do Seixal tem vindo a realizar há alguns anos diversas exposições de divulgação do seu vastíssimo acervo artístico, que é constituído por artistas de reconhecimento nacional, mas tendo também como preocupação a representação de artistas locais.
O Acervo Artístico da Câmara Municipal do Seixal tem sido consolidado de modo regular a partir de 1993 com a abertura da Galeria de Exposições Augusto Cabrita/Fórum Cultural do Seixal, integrando mais de sete centenas de obras de diferentes técnicas e materiais de suporte, tais como a pintura, escultura, azulejaria, fotografia, aguarela, desenho, serigrafia, litografia, gravura, estampa e medalha contemporânea, e compreende um período de produção que vai desde os anos 20 do século passado até aos nossos dias. No âmbito do «Ciclo de Apresentação do Acervo Artístico Municipal» do Seixal, teremos agora mais uma oportunidade de visitar a exposição «Património Industrial – Da Pré-industrialização à Industrialização no Concelho do Seixal» na Galeria Municipal de Corroios1, da autoria do fotógrafo Luís Filipe Azevedo2, até 19 de março. Como o próprio título da exposição indica, podemos ver diversos registos e testemunhos de locais, de trabalhadores e realidades que, entretanto, desapareceram, mas que continuam a referência para o futuro. Ver artigo e consulta do catálogo em AbrilAbril.
O Pavilhão Branco, integrado nas Galerias Municipais de Lisboa3, apresenta a exposição «Strange Attractor» com os artistas Geum Beollae, Isabel Carvalho, Joana Escoval e Nobuko Tsuchiya, até 6 de março.
Segundo o texto da curadora Margarida Mendes, «esta exposição reúne quatro artistas que exploram o pendor transformador do mundo natural», em que os seus trabalhos «se cruzam num circuito elemental desenhado no Pavilhão Branco, em ressonância com a envolvência do jardim circundante».
As esculturas de Nobuko Tsuchiya, «que por vezes se assimilam a máquinas orgânicas, incorporam estranhos moldes feitos de resina, algodão e outros materiais que são manipulados até ficarem inidentificáveis…». As instalações da artista sul-coreana Geum Beollae integram «objetos do quotidiano que refletem a sua linhagem familiar desdobrando-se em múltiplas narrativas» da sua memória pessoal. Joana Escoval recorre nas suas esculturas a filamentos metálicos que atravessam raízes de árvores e ramos de oliveira e de onde também emergem penas de pavão «numa ode sedutora ao mundo natural». Isabel Carvalho apresenta esculturas em gesso cujas formas são inspiradas em estruturas orgânicas, numa «relação com o corpo humano como parte do processo da sua modelagem, deixando impresso no gesso a gestualidade do seu toque».
A Galeria de Exposições do Fórum Cultural de Ermesinde4, apresenta a exposição «Céu Aberto» de Angelina Nogueira5, até 13 de março. Tempo, memória e arquivo são conceitos predominantes no seu trabalho, através de uma procura da confirmação destes por meio da imagem e da ação, utilizando nesta exposição uma instalação de vários painéis de tecido, banhados a gesso e revestidos a pó de lousa. A artista assinala que «este trabalho recorre ao estudo de imagens do espaço de uma pedreira e a memórias de infância do mesmo espaço, refletindo sobre a sua verticalidade e amplitude através da colocação em causa destes mesmos conceitos. Ideias como leveza e suspensão causam o conflito com conceitos sobre o fechamento e dureza do espaço envolvente».
Angelina Nogueira tem uma prática artística muito experimental, salientando aqui alguns dos seus projetos. Na sua abordagem à estética colaborativa, a artista integrou tecidos cedidos por pessoas da comunidade «para uma reinterpretação instalativa», onde, segundo a artista, o seu foco era apresentar as «histórias e afetos que cada peça acolhe, remetendo ao universo feminino e à sua relação com a matéria têxtil», pretendendo aqui também, neste processo de acumulação de objetos, realizar uma «reflexão sobre temáticas como o trabalho, a tradição ou o território com base na premissa do património individual e coletivo inerente». No projeto «Detrame» a artista apresentou uma reflexão em torno da «performatividade da subtração e acumulação como ato cíclico e transformador» em que a sua ação se resumia na apresentação de um tecido sobre uma mesa e logo de seguida a artista propunha-se em o desfazer num processo de retirar fio a fio ao mesmo tempo que era projetado um vídeo em que o mesmo tecido era «rasgado em grande escala». Em «Monstruário - Sempre soube que a primeira recordação era tua», apresentado em 2017 no Espaço Campanhã do Porto, a artista apresenta este projeto como «uma instalação composta por fragmentos de pedra lousa e imagens manipuladas em contraluz…».
O Museu Municipal de Faro6 apresenta a exposição «Corpo, Cavalo, Figura» de Sérgio Romero Linares7, até 6 de março. A exposição é organizada pela associação Artadentro em colaboração com o Museu Municipal de Faro, exibindo pintura e desenho do artista sevilhano Sergio Romero Linares. O curador Vasco Vidigal, acerca desta exposição, afirma que «temos a oportunidade de admirar uma obra em que, como tantas vezes aconteceu, Sérgio Romero Linares recupera fórmulas do passado, atualizando-as de modo a servir exigências do presente».
As referências para esta exposição poderão ser encontradas no «período Barroco e, sobretudo, na obra de Francisco de Zurbarán — o uso que Linares faz do negro, recorda-nos o exarcebar do claro/escuro caravagesco que veio a ser conhecido por Tenebrismo e que, a par dos valencianos Francisco Ribalta e José de Ribera, teve em Zurbarán o seu expoente sevilhano. Contudo, as suas obras de técnica refinada, retratando pessoas ou, como nesta mostra, também cavalos, recusam a agitação barroca para se concentrarem na densidade emotiva de um momento especial, sabiamente composto e revelado pelo artista», acrescenta ainda Vasco Vidigal.
- 1. Galeria Municipal de Corroios - Rua Cidade de Leiria, 1 A 2855–133 Seixal. Horário: Terça-feira a sábado das 15 às 19 horas. Encerra aos domingos, feriados, segundas-feiras e mês de agosto.
- 2. Luís Filipe Azevedo desenvolve a sua atividade profissional como fotógrafo desde 1989 e em 1990 iniciou a realização e participação em inúmeras exposições individuais e coletivas, tanto a nível nacional como internacional. Foi fotógrafo editor oficial da exposição mundial EXPO´98. Atualmente desenvolve trabalhos de autor nas áreas da pesquisa experimental e conceptual nos projetos LIKEMYBOOK, ILIKEMYMOVIE, SAZEV Atelier de Fotografia e OVO LIVING&FOOD. É membro representado na Galeria Diferença, no Centro Português de Fotografia e na Royal Academy of Arts London.
- 3. Galerias Municipais-Pavilhão Branco - Jardim do Palácio Pimenta Campo Grande, Lisboa. Horário: Terça a domingo: 10h-13h e 14h-18h.
- 4. Galeria de Exposições do Fórum Cultural de Ermesinde - R. Fábrica da Cerâmica, 4445-428 Ermesinde. Horário: 3ª a 5ª: 09h-12:30h; 14h-17:30h: 6ª:09h-12:30h; 14h-17:30h; 21-23:00h; Sábado: 15h-19h; 21h-23:00h e Domingo: 15h-18h. Encerra à segunda-feira e feriados.
- 5. Angelina Nogueira vive e trabalha no Porto, é licenciada em Artes Plásticas e Intermédia pela Escola Superior Artística do Porto, mestre em Práticas Artísticas Contemporâneas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e pós-graduada em Performance pela mesma instituição. Trabalha essencialmente nos domínios da instalação, vídeo e performance e realizou e apresentou trabalhos seus em diversas exposições individuais e coletivas desde 2014, tendo colaborado ativamente desde 2015 com o projeto SINTOMA- grupo de investigação e experimentação em Performance da Faculdade do Porto.
- 6. Museu Municipal de Faro - Praça Dom Afonso III 14, 8000-149 Faro. Horário: 3ª. a 6ª das 10h00 às 18h00 / Sáb. e Dom. das 10h30 às 17h00 (última entrada 30 minutos antes de fechar).
- 7. Sérgio Romero Linares (Sevilha, 1991), foi bolseiro Erasmus na Accademia di Belle Arti de Roma, Italia em 2013/14 e, em 2015, é Graduado em Bellas Artes pela Facultad de Bellas Artes de la Universidad de Sevilla. A sua obra, que obteve já vários prémios, integra várias colecções institucionais particulares e públicas, tem sido exibida em Espanha, Itália, Estados Unidos e chega agora a Faro.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui