Mensagem de erro

User warning: The following module is missing from the file system: standard. For information about how to fix this, see the documentation page. in _drupal_trigger_error_with_delayed_logging() (line 1143 of /home/abrilabril/public_html/includes/bootstrap.inc).

|artes plásticas

Reflexões sobre dramas, sentidos ambíguos e lugares desconfortáveis

«Representações do Povo» no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira, «Lugar Verdadeiro» de Jaime Silva no Palácio da Justiça do Porto e ciclo «Ficcionar o Museu» no CIAJG em Guimarães.

<em>Ao Povo Alentejano</em>, Jorge Pinheiro, 1980
Exposição «Representações do Povo» no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira, até 10 de abrilCréditos

O Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, criado em 1990, surgiu como um Centro de Documentação sobre o movimento neorrealista português, evoluindo «inicialmente em torno da área arquivística e bibliográfica», tendo no entanto, evoluído posteriormente para o enriquecimento do seu acervo com novas coleções museológicas, destacando os espólios literários e editoriais, arquivos documentais e iconográficos, obras de arte, bibliotecas particulares e com uma biblioteca especializada na temática neorrealista. Além de integrar uma Biblioteca, os Arquivos Documentais, um auditório, uma livraria e um Serviço educativo, o Museu do Neo-Realismo possui também um espaço expositivo distribuído por 4 pisos. Os pisos 2 e 3 são ocupados pela exposição permanente «Batalha pelo Conteúdo – movimento neo-realista português», dirigida ao público em geral, que procura recuperar a memória da herança cultural específica de um dos mais marcantes e ativos movimentos da história da cultura contemporânea da segunda metade do século XX em Portugal. Os pisos 0 e 1 possuem 3 espaços expositivos, onde são realizadas exposições temporárias, documentais e de artes plásticas.

O Museu do Neo-Realismo1 abriu recentemente ao público a exposição «Representações do Povo», com a coordenação de Raquel Henriques da Silva, a diretora do museu, que poderá visitada até 10 de abril. Nesta exposição são expostas seis conjuntos de obras, de seis artistas, Domingos António Sequeira, Rafael Bordalo Pinheiro, Augusto Gomes, Tereza Arriaga, Graça Morais e Jorge Pinheiro, para os quais foram convidados respetivamente seis comissários, Carlos Silveira, Pedro Bebiano Braga, Laura Castro, João Bonifácio Serra, Joana Baião e Raquel Henriques da Silva.

Salientamos nas obras expostas a representação do «dramático refúgio da população dos arredores de Lisboa na Capital, espoliada de alimentos e haveres», quando da invasão das tropas francesas comandadas pelo General Massena, em 1810, em Domingos António Sequeira, bem como as caricaturas de Rafael Bordalo Pinheiro nas quais o artista satirizou diversas personalidades portuguesas, assim como o «retrato psicológico» de Graça Morais que apresenta uma reflexão sobre o ser humano, a partir de muitos dramas vividos por mulheres de Trás-os-Montes e por toda a humanidade. Numa dimensão política e de intervenção social, podemos ainda assinalar como Jorge Pinheiro representou o «período de desocupação da reforma agrária, quando a Guarda Nacional Republicana, interveio de forma brutal e acabou por assassinar dois jovens trabalhadores agrícolas», ou como Augusto Gomes apresenta a importância do papel das mulheres na comunidade piscatória de Matosinhos.

Exposição individual «Lugar Verdadeiro» de Jaime Silva no Palácio da Justiça do Porto, até 8 de abril CréditosJosé Rosinhas /

O Tribunal da Relação do Porto apresenta nos Passos Perdidos do 5.º piso do Palácio da Justiça2 a exposição individual «Lugar Verdadeiro», de Jaime Silva3, até 8 de abril. Jaime Silva, com um longo percursos artístico, depois de ter participado nas intervenções performativas do Grupo Puzzle entre 1975-1981, juntamente com Graça Morais, Albuquerque Mendes, Armando Azevedo, Carlos Carreiro, Dario Alves, João Dixo, Pedro Rocha e Pinto Coelho, contribuiu, de acordo com muitos críticos de arte contemporânea, para uma nova geração de artistas preocupados com o retorno do ato de pintar, característico nos inícios dos anos oitenta do século XX, colocando nas suas obras de grande dimensão uma forte e enérgica dinâmica na pincelada, afirmando, assim, o seu interesse por explorar a espontaneidade, a ambiguidade e a corporalidade na arte.

No texto de Introdução ao Catálogo da Exposição Antológica do artista Jaime Silva, em 2013, Laura Castro afirmou «que o percurso artístico deste autor se pauta por inicial rutura com os “modelos históricos e estéticos, técnicos e académicos”, assumindo uma parafiguração irónica ou até grotesca, que progressivamente dará lugar aos grandes desenhos … que pela “vertigem do acto e a força”, são da maior importância na obra deste artista».

Jaime Silva vem agora, nesta exposição, apresentar cerca de vinte telas de dimensões várias, com experiências que passam por uma delicada estruturação, onde a «sobreposição de camadas de tinta e de aberturas de janelas (…) resultam de ações performativas do pintar sobre a tela, e também resultam de atos de reflexão sobre questões filosóficas. (...)», como nos apresenta José Rosinhas, o curador da exposição, lembrando ainda que «Jaime Silva materializa pinturas que tenham um impacto visual imediato e impetuoso através da escala, formas angulares e cor. Tintas acrílicas, e áreas de texturas são usadas para criar efeitos subtis e brilhantes. As composições retilíneas fazem lembrar Barnett Newman (1905 - 1970) e Peter Halley (1953)».

Ciclo «Ficcionar o Museu» no CIAJG em Guimarães, até 10 de abril CréditosCIAJG /

O CIAJG- Centro Internacional das Artes José de Guimarães é um centro de arte contemporânea em Guimarães. A base do seu projeto cultural é a coleção do artista José de Guimarães, composta por arte africana, arte pré-colombiana, arte antiga chinesa, e um conjunto representativo da sua obra. A partir de formas culturalmente diversas de conhecer o mundo, expressas na coleção, o CIAJG realiza uma programação regular de exposições, artes performativas e programas públicos.

«Ficcionar o Museu» é o tema do presente ciclo de exposições do CIAJG4 que se articulação com o trabalho e as coleções de José de Guimarães e poderá ser visitado até 10 de abril. Deste ciclo destacamos as exposições de Virgínia Mota, Ana Vaz, Pedro Henriques e Priscila Fernandes, assumindo-se, de acordo com o texto da exposição, «como um convite a refletir sobre os usos e potências da imaginação através do trabalho de vários/as artistas».

Como forma de complexificar «o tema da imaginação, demarcando um território claro de poética, crítica e consciência» temos a exposição «Atmosférica» de Virgínia Mota, em que «a experiência das imagens toma a forma de um diário distribuído no plano horizontal das prateleiras, acentuando um continuum entre o tempo da exposição e o da experiência» e o filme «Amazing Fantasy», de Ana Vaz, que «aborda de forma crítica as relações entre o mito e a história colonial». Na Sala das Máscaras, ao lado das esculturas africanas encontramos as esculturas de Pedro Henriques que apresentam «um diálogo de tensões, escalas e texturas frcom as máscaras» como título «Meio Olho, Cara Longa», convocando «sentidos ambíguos» e “lugares desconfortáveis».

Quanto à artista Priscila Fernandes (1981), que apresenta a exposição «Escola de Lazer», revela-nos «um importante corpo de obras sobre as relações entre a arte, o trabalho e o lazer, numa reflexão que se revela urgente diante da acelerada algoritmização da vida». Esta exposição concebida especialmente para o CIAJG, percorre três séries recentes da artista – “Never Touch the Ground” (2020), “Labour Series” (2020) e “Free.To do Whatever We” (2018), apresentadas como «diferentes pedagogias» que «são exploradas nas três salas da exposição: uma sala onde uma apresentadora fictícia de TV tenta provar a relação entre o desenvolvimento do lazer e a emergência da arte abstrata; outra onde se exercitam gestos artísticos com patins de rodas; e finalmente a última sala onde se quebram correntes (numa espécie de “desafio” de libertação) para se colocar a pergunta: será que somos Livres. Para fazermos o que quisermos (“Free. To do Whatever We”)?».

O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. Museu do Neo-Realismo - Rua Alves Redol, n.º 45 2600-099 Vila Franca de Xira (GPS: 38.955531, -8.98880). Contacto: terça a sexta 10h-18h; sábado, 10h-19h; domingo, 10h-18h; encerra às segundas e feriados. O Centro de Documentação está encerrado aos fins-de-semana.
  • 2. Tribunal da Relação do Porto - Campo dos Mártires da Pátria (Palácio da Justiça) 4099-012 Porto. Horário: Segunda a Sexta das 9 às 17 horas.
  • 3. Jaime Silva nasceu em Peso da Régua em 1947. Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto (1972). Fundou o Grupo Puzzle com oito outros artistas e um crítico de arte, em 1975. Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Paris em 1977 e 1978. Professor de Pintura no Ar.Co, Lisboa (1983/1987). Diretor Artístico da Galeria Municipal de Montijo e organizador das Bienais de Artes Plásticas de Montijo / Prémio Vespeira, entre 1999 e 2011. Vice-presidente da Direção da Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa. Desde 1987, é o professor responsável do Curso de Pintura da mesma instituição.
  • 4. CIAJG - Av. Conde Margaride, 175 4810-525 Guimarães. Horário: terça a sexta: 10h - 17h; sábado e domingo: 11h - 18h.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui