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|Um outro Mundial

Não é a braçadeira, é o conhecimento

Uma investigação levou ao afastamento de vários focos de corrupção no seio da FIFA e das confederações continentais. Mas a bola rola no Catar... a sua riqueza permitiu-lhe ultrapassar todas as dificuldades.

Numa conferência de imprensa em Zurique, Suíça, a 20 de Julho de 2015, o antigo presidente da FIFA, Sepp Blatter, foi recebido por uma chuva de notas de dólares, atirados por um comediante inglês. Blatter esteve envolvido no processo corrupto que levou à escolha do Catar para a realização do Mundial de Futebol de 2022.
Numa conferência de imprensa em Zurique, Suíça, a 20 de Julho de 2015, o antigo presidente da FIFA, Sepp Blatter, foi recebido por uma chuva de notas de dólares, atirados por um comediante inglês. Blatter esteve envolvido no processo corrupto que levou à escolha do Catar para a realização do Mundial de Futebol de 2022.Créditos / Yahoo!

A tendência para medir os resultados das manifestações através das medidas concretas que são tomadas pelas instituições desvia-nos daquele que deve ser o caminho da transformação da sociedade. O que aqui está em causa não são as braçadeiras. O que está em causa é a informação que chega às pessoas. 

Nesta medida, o Mundial 2022 é um fenómeno de sucesso no que toca a alertar mentalidades, um pouco por todo o mundo, para questões que importa ter em conta no futuro do planeta. O excessivo peso colocado pela extração de combustíveis fósseis e a forma como este coloca em causa o nosso planeta. Os desequilíbrios daí resultantes em alargados territórios do planeta e a forma como a riqueza de um determinado país não é distribuída por todos aqueles que aí vivem e trabalham.

Também não se tem deixado de focar, de maneira regular, a importância da igualdade de direitos e a falta de senso que tem discriminar alguém pelo seu género, origem ou opção sexual. Não se mede nada disto por uma bola que rola ou por uma braçadeira que se usa. Mede-se pela capacidade que temos para dar eco às nossas mensagens. 

Daí que o futebol seja revolucionário. Porque mesmo no momento em que todo o seu aparato financeiro e simbólico se foca na organização de um evento que pretende limpo de mensagens políticas, são essas mesmas palavras e gestos que não deixam de ecoar a cada instante. Na forma como os jogadores ingleses se ajoelham antes do início de uma partida. Na liberdade concedida às mulheres iranianas para assistirem aos jogos num estádio. Pela maneira como jogadores, adeptos e jornalistas têm enfrentado as restrições impostas pelo Catar por não deixarem de expor as suas ideias, aproveitando o palco e o microfone para as fazer ecoar. Aos que se sentem fracos por ceder à beleza de um golo, insisto que essa beleza não nos faz esquecer aquilo por que importa lutar nestes meses de Novembro e Dezembro de 2022. 

Doze anos e muitos mais

Desde 2010, a realização do Mundial no Catar levantou suspeição e criou polémica. Mas doze anos não são suficientes para criar condições de ter, num mundo mediático, o espaço suficiente para alterar o curso da história. Na verdade, muito se realizou neste período. Uma profunda investigação levou ao afastamento de vários focos de corrupção no seio da FIFA e das confederações continentais. Anos e anos de trabalho e investigação no território catariano permitiram o conhecimento da realidade no local e a instauração de novas leis. Um extenso trabalho de consciencialização permitiu que dirigentes, treinadores e jogadores sejam, hoje, agentes de mensagens de liberdade e de defesa dos direitos humanos, numa escala nunca antes vista no futebol profissional. 

Mas a bola rola no Catar. Rola porque, na prática, os novos dirigentes da FIFA nunca encontraram base jurídica para reverter a entrega da competição a este país. Rola porque a sua riqueza lhe permitiu continuar a ultrapassar as dificuldades que teve pela frente. Rola, também, porque o Catar não é o outro lado do nosso mundo. 42º classificado no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, apesar dos largos reparos registados no relatório da Amnistia Internacional quanto aos direitos dos trabalhadores migrantes, o direito ao sindicalismo, as liberdades de expressão e reunião, os direitos das mulheres e das pessoas LGBTI+ e às pena de morte, o Catar demarca-se de vários outros países do Médio Oriente.

Na prática, os valores do Catar estarão mais próximos da média dos valores dos países que integram a FIFA do que a ideia europeia de direitos. É esse confronto que o Mundial nos obriga a ter. O de ver o mundo como ele é, para melhor sabermos como nele fazer as nossas lutas. 

Os favoritos também se abatem

A derrota da Argentina perante a Arábia Saudita é a primeira grande surpresa deste Mundial e, em consequência, o primeiro grande aviso, sobretudo para as equipas que vão entrar hoje em campo.

A Alemanha e a Espanha gozam de alargado favoritismo, mas a qualidade dos japoneses, que há quatro anos alcançaram os oitavos-de-final, não deverá fazer descansar o conjunto germânico. Por outro lado, a Croácia terá que evitar a quebra que a final de 2018 lhes poderá ocasionar, frente a uma seleção marroquina que se pacificou com a troca de treinador e se prepara para chegar a este Mundial com uma conjugação de craques das principais equipas mundiais, como Hakimi, Mazraoui, Ziyech ou En-Nesyri.

Finalmente, o Canadá aproveita uma nova geração de jogadores de múltiplas ascendências para regressar ao principal palco mundial. Steven Vitória e Stephen Eustáquio são os luso-descendentes que vão a jogo perante uma Bélgica que terá aqui uma derradeira oportunidade, para uma geração de sonho, de conquistar um grande título internacional.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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