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|Um outro Mundial

O mundo no Mundial

O Mundial 2022, de uma forma cruelmente evidente, é muito mais do que uma competição de futebol. Outros valores se levantam no momento em que a bola começa a rolar. E parece ter pouco ou nada que ver com o futebol.

Luís Cristóvão, <em>Um Outro Mundial </em>
Luís Cristóvão, Um Outro Mundial Créditos

Cada edição do Mundial de futebol é um momento de olhar o mundo e perceber como ele evolui. Para os cidadãos de 2022, o fato deste Mundial se realizar no Qatar trará mais reflexões sobre os problemas do que saudações sobre os avanços provocados pelo mesmo.

É inegável que o processo de escolha do país organizador esteve envolto em problemas de corrupção, tal como é inegável a fatura em vidas humanas do apressado desenvolvimento de um país que procura, num espaço de trinta anos, transformar a sua face. Por outro lado, joga-se pela primeira vez um Mundial num país árabe muçulmano, no que isso acaba por significar para as possibilidades de diálogo entre dois mundos que, na sua aparência, vivem de costas voltadas.

O Mundial 2022, de uma forma cruelmente evidente, é muito mais do que uma competição de futebol. Com a invasão militar russa na Ucrânia e as consequentes crises económicas e energéticas que afetam toda a Europa, as matérias-primas do Qatar conquistaram um peso ainda maior no equilíbrio do mundo em que vivemos. Não é por isso de espantar que tantos queiram virar a cara ao desrespeito pelos direitos humanos, direitos climáticos, direitos de trabalho, direitos das mulheres ou liberdade sexual neste país. Outros valores se levantam no momento em que a bola começa a rolar. E parece ter pouco ou nada que ver com o futebol.

O Qatar da bola

Apesar de ser apenas o segundo país a organizar um Mundial sem nunca antes ter participado num (sendo a Itália de Mussolini, em 1934, o outro exemplo), é difícil negar que o Qatar tem uma tradição futebolística.

«Apesar de ser apenas o segundo país a organizar um Mundial sem nunca antes ter participado num, é difícil negar que o Qatar tem uma tradição futebolística.»

Atuais campeões asiáticos, o Qatar participou, desde a sua independência, em onze, das trezes, edições da Taça Asiática. Conquistou a Taça do Golfo por três vezes. Participou nos Jogos Olímpicos de 1984. Foi finalista, vencido, no Mundial de Sub-20 em 1981, prova que organizou em 1985.

A caminho do atual Mundial, a seleção qatari aproveitou talento naturalizado para formar o seu grupo, com jogadores nascidos no Sudão, no Gana, no Egito, em França, em Portugal, no Iraque. Mas também encontra espaço para uma nova geração de qataris filhos de imigrantes. Apresentar-se ao nível dos rivais é um objetivo mínimo para a equipa orientada pelo espanhol Félix Sánchez.

Ainda há futebol de rua

Aos 23 anos, Moisés Caicedo é uma das figuras da seleção do Equador, que em 2014 atingiu os oitavos-de-final do Mundial. Nesse mesmo ano, Moisés deixou as ruas de Santo Domingo de los Tsáchilas, onde jogava com os seus dez irmãos, para entrar na academia do Independiente del Valle. Nesta equipa venceu a Taça dos Libertadores em Sub-20 e foi contratado pelo Brighton, da Premier League inglesa.

É um longo caminho para um jovem jogador que enche o meio-campo com uma personalidade e uma capacidade apenas ao alcance dos predestinados. Num momento em que, na Europa, se chora a ausência do futebol de rua, o Mundial marca a sua estreia com bons exemplos do que serve para fazer crianças pelo mundo inteiro sonhar. Talvez em alguma rua jogue agora alguém que, daqui a uns anos, cumprirá o seu sonho.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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