Tudo tem uma explicação. A actualização de preços da MEO (Altice) «está definida nos contratos com os nossos clientes», defende a empresa, razão pela qual vão impingir um aumento de 7,8% (o máximo possível) nas fidelizações de milhões de pessoas. Não foram os únicos, a NOS e a Vodafone (que anunciou hoje lucros de 305 milhões de euros em 2022), em sincronia, decidiram impor exactamente os mesmos aumentos.
A decisão não deixou de causar espanto. Se os salários continuam estagnados e os lucros destas empresas não pararam de aumentar ao longo de 2022, a que propósito precisam estas empresas (que detêm 98% da cota do mercado) de aumentar tantos os custos para os clientes?
Numa recomendação dirigida ao Governo, o presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) não deixou de notar que, entre 2009 e Dezembro de 2022, os preços das telecomunicações aumentaram 7,7% em Portugal, uma trajectória contrária ao que aconteceu na média da União Europeia, onde os preços baixaram 10%.
Tirar de um lado (os clientes) e tirar do outro (trabalhadores). O modela de negócios da Altice é a extorsão
Em comunicado, a Frente Sindical da Altice denuncia os dois pesos e duas medidas dos «donos/administradores» da empresa. Enquanto, por um lado, se fazem de vítimas para impor o aumento máximo permitido no contrato, por outro, continuam a defender uma proposta de uns miseráveis aumentos salariais «de 1%, 1,5% e 2,5%».
Outra das magnanimidades da Altice (que até Setembro de 2022 teve receitas de 330,1 milhões de euros no segmento em que se inclui a MEO) foi a proposta de aumento do subsídio de refeição para 8,32 euros, cerca de sete cêntimos diários.
A Frente Sindical alerta para a necessidade de a empresa rever, significativamente, as suas propostas, garantindo «a reposição gradual do poder de compra perdido pelos trabalhadores nos últimos anos, sem a retirada de qualquer direito».
Infelizmente, «este é o ADN da gestão da Altice». Exemplo disso foi o «logro dos prémios», anunciados com pompa e circunstância para fins de marketing. «Quando os trabalhadores ouviram falar nos prémios, pensaram, logicamente, que era dinheiro líquido»: estavam enganados, ao receberem-no perceberam que o valor anunciado foi «sujeito a descontos».
Integram a Frente Sindical o Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisuais (SINTTAV), Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Correios e Telecomunicações (SNTCT/CGTP-IN), Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicação Audiovisual (STT), e Sindicato de Quadros das Comunicações (SINQUADROS).