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Galp preferiu «o dinheiro fácil» ao investimento industrial

A Fiequimetal denuncia que o protocolo assinado entre a Galp, a Câmara de Matosinhos e a CCDR-Norte para os terrenos da refinaria de Leça da Palmeira representou uma «mega-sessão de ilusionismo climático». 

CréditosEstela Silva / Agência Lusa

Foi no passado dia 16 que, na sede da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), no Porto, as três entidades assinaram um protocolo de cooperação «para a reconversão dos terrenos até agora ocupados pela refinaria da Galp», em Leça da Palmeira, no concelho de Matosinhos, prevendo-se o desenvolvimento de uma «cidade da inovação» (Innovation District). 

Para a Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas e Eléctricas (Fiequimetal/CGTP-IN), confirmou-se a desconfiança que tinha antes manifestado sobre a «verdadeira intenção» da administração da Galp Energia quanto ao destino a dar ao complexo petroquímico da empresa em Matosinhos.

Num comunicado divulgado esta segunda-feira, a estrutura sindical regista que, com este protocolo, «foi revelado o elemento que faltava para evidenciar os contornos do negócio», de instalar uma «mega-urbanização» nos terrenos da actual refinaria. «O novo anúncio representa mais uma mega-sessão de ilusionismo climático que, por aquilo que foi divulgado, tem como objectivo explorar o filão da transição energética», lê-se na nota.

A Fiequimetal sublinha o facto de se ter encerrado uma refinaria, que produzia combustíveis fundamentais para o desenvolvimento da economia, mas também produtos químicos e óleos-base, que alimentavam muitas empresas da região e que agora são importados. Por outro lado, critica que, «em troca de fundos» do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o grupo Amorim prefira o «dinheiro fácil» ao investimento industrial, erguendo betão à beira-mar. 

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Transição energética deve ter preocupações sociais

A transição energética deve ser acompanhada de um processo de reindustrialização, e não do encerramento de unidades industriais, por forma a garantir os postos de trabalho e a sustentabilidade social.

Refinaria da Petrogal em Leça da Palmeira, Matosinhos. Foto de arquivo
Créditos / JM

Em comunicado divulgado pela comissão central de trabalhadores da Petrogal, esta defende que a salvaguarda do planeta só faz sentido «num quadro de progresso social e económico», pelo que a chamada «transição energética» deve ser «socialmente responsável».

Amplamente difundida nos meios de comunicação social e impulsionada em larga medida pelo Governo, a «transição energética» ou a «descarbonização» centram o problema na redução e eliminação das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, suportada num consenso maioritário da comunidade científica sobre o impacto negativo daquelas emissões para o agravamento do aquecimento global. 

A comissão de trabalhadores refere que «o aplauso de algumas associações ambientalistas e de alguns partidos» à antecipação do encerramento da central termoeléctrica de Sines para Janeiro de 2021 revela uma «visão apocalíptica» que apenas pretende justificar medidas que põem em causa a independência energética.

Exemplo disso são as declarações que sugerem uma substituição de emissões a partir de Portugal por outras oriundas de Marrocos em que não se pretende diminuir as emissões globais mas apenas «fazer batota» para manipular os números da União Europeia, afirmam os representantes dos trabalhadores.

«O Governo continua a pôr em causa, de forma totalmente inaceitável e irresponsável, a independência energética do País e a destruir centenas de postos de trabalho», pode ler-se no comunicado.

No documento afirma-se ainda que a transição energética «não pode surgir contra os trabalhadores», pelo que a preservação dos postos de trabalho deve ser «o elemento central para o pretendido desenvolvimento sustentável».

«A transição energética deve surgir numa perspectiva integrada e de fileira com aproveitamento de todos os recursos disponíveis, e com a alavancagem dos investimentos em tecnologias (...) para concretizar a descarbonização e garantir [que é] sustentável e socialmente responsável», afirma a comissão de trabalhadores.

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«Aqui está, afinal, o resultado da "lição" do primeiro-ministro e do "coração de pedra" do ministro do Ambiente – um e outro a dirigirem à administração da Galp palavras tão duras quanto tardias e inconsequentes», observa a Fiequimetal, acrescentando que o novo protocolo demonstra a «sintonia» entre todas as entidades públicas e a administração da Galp «na destruição de uma instalação industrial estratégica e [...] de emprego especializado, com por­ta aberta para entrarem volumosas verbas públicas».

Neste enquadramento, a Federação entende que se «impõe» uma tomada de posição por parte do Presidente da República, «que nada disse, até ao momento, sobre este atentado à indústria, à produção nacional e aos trabalhadores, em nome de uma suposta transição energética». 

Ontem também, a Comissão Central de Trabalhadores (CCT) da Petrogal insistia, através de comunicado, na necessidade de «reabrir a refinaria e investir a sério na sua dinamização», bem como na refinaria de Sines, no distrito de Setúbal. 

Os trabalhadores acusam a Galp de pretender «fazer um condomínio à beira-mar plantado com um green park [parque verde] – como não poderia deixar de ser», e de ter contratado «uma ex-secretária de estado da Indústria [Ana Lehmann] para coordenar o projecto de urbanização».

Por outro lado, denunciam a «perfeita coordenação entre todas as entidades públicas e a administração para destruírem empregos presentes – 5000 – tendo como contrapartida a criação hipotética de outros no futuro», salientando que «ainda ninguém se referiu» aos trabalhadores da refinaria: «aqueles que foram empurrados para rescisões por mútuo acordo, os despedidos e os que estão a aguardar por nova colocação».

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