Infelizmente, como é típico deste ministro e dos tristes políticos da política de direita em geral, isto não é mais que uma frase, uma encenação. Portugal continua a ceder a todas as pressões, a obedecer a todas as ordens... desde que venham dos EUA ou da Comissão Europeia.
Olhemos para a realidade:
(1) Os EUA ordenaram aos seus vassalos que deixassem de voar para a Venezuela. Não o fizeram assim à bruta, emitiram um alerta de que não seria seguro viajar porque poderia haver actividade militar. Esses EUA que conduzem um bloqueio ilegal contra a Venezuela, e que na prática agravaram esse bloqueio ordenando aos seus vassalos que deixassem de voar para a Venezuela. E o que fez o Governo português? Abanou o rabinho, mandou a TAP deixar de voar para a Venezuela, e ficou de língua de fora a olhar para os EUA à espera de um biscoito. Quando a Venezuela respondeu à agressão retirando os direitos de voo à TAP, o cãozinho começou a ladrar, à distância, sempre na expectativa que o dono o veja e o recompense. É uma tristeza ver um país soberano reduzido a esta condição. Uma atitude que ainda por cima mostra o quanto se ignora os interesses das centenas de milhar de emigrantes portugueses na Venezuela. O Império manda e Pinto Luz obedece.
(2) A Ryanair ameaçou sair dos Açores se a Vinci não baixasse as tarifas ou o Estado português não lhe pagasse mais. É um movimento clássico desta empresa, que faz à descarada e à bruta o que fazem todas as empresas capitalistas quando sentem que podem impor as suas regras ao mercado. O governo diz que não vai ceder, e sobre isso veremos como o filme acaba. Mas este acto da Ryanair vem confirmar o que temos dito sobre os riscos de entregar as ligações aéreas das Regiões Autónomas «ao mercado». A cartelização é cada vez mais fácil e descarada e impune (olhe-se para a banca, olhe-se para a gasolina).
«E o que fez o Governo português? Abanou o rabinho, mandou a TAP deixar de voar para a Venezuela, e ficou de língua de fora a olhar para os EUA à espera de um biscoito.»
A liberalização já está a custar aos cofres do Estado o que a SATA nunca custou (neste momento, são mais de 100 milhões de euros por ano de Subsídio Social de Mobilidade pago às companhias aéreas na prática). A privatização da SATA é um risco que a República não pode correr, agravado pelo facto de também a TAP estar para ser privatizada. Mas a Comissão Europeia ordenou a privatização da SATA e da TAP. E há que obedecer à Comissão Europeia (CE). Obedecendo à CE e privatizando a SATA e a TAP, o governo faz o que a Ryanair quer e, mais tarde ou mais cedo, à Ryanair, ou a outra multinacional do género, acabará por pagar ainda mais do que já paga hoje para fazer a ligação aérea aos Açores.
(3) A Ryanair levantou UM problema que é real: o facto de todas as operadoras aéreas que operam em Portugal pagarem um preço excessivo pelo serviço, contribuindo para os lucros da multinacional francesa que explora os aeroportos. Taxas altas, falta de investimento, degradação da qualidade da operação, isto é o que caracteriza a operação da Vinci, E sobre isto o governo nada diz. Não pode. A Vinci não deixa. E a Vinci manda muito em Portugal. Porquê? Porque quem levanta 600 milhões de euros em lucros por ano tem o imenso poder gerado por esse capital. E o governo, os governos desde 1976 para ser preciso, vivem de cócoras perante o grande capital.
Seria bom que, de uma vez, o governo enfrentasse o império e as multinacionais. Mas não vai acontecer. Aliás, não acontece em Portugal desde Setembro de 1975, desde que o V Governo Provisório foi derrubado pela aliança novembrista.
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