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Luta dos trabalhadores na Índia trava aumento de horas em empresas de tecnologia

Os trabalhadores das TI em Karnataka (centro da indústria de software na Índia) conquistaram uma vitória importante, após meses a lutar pelo «direito a desligar» e ao «equilíbrio entre trabalho e vida pessoal».

Trabalhadores das TI no estado de Karnataka num protesto contra a intenção do governo de aumentar legalmente os horários de trabalho Créditos / KITU

Na semana passada, o governo do estado de Karnataka (Sul da Índia) anunciou a decisão de retirar as propostas que havia apresentado ao gosto do patronato, relativas ao aumento dos horários laborais dos trabalhadores das TI e dos serviços que lhes estão associados (ITes).

O anúncio foi confirmado pelo KITU (Karnataka State IT/ITes Employees Union), a única organização sindical a representar os trabalhadores das TI e indústrias associadas num estado que é considerado o centro nevrálgico da indústria de software no país sul-asiático. Só em Bangalore, a capital, há centenas de milhares de trabalhadores em empresas do sector, indica o Peoples Dispatch.

Os trabalhadores, mobilizados pelo KITU, travaram uma «luta tenaz» contra os desejos manifestados pelo patronato e a vontade do governo estadual de lhe agradar, afirmando que «não são escravos» e que o «equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é um direito», e reclamando a aplicação da legislação laboral, a regulamentação dos horários e o «direito a desligar».

Durante meses, o sindicato organizou campanhas e manifestações de protesto contra as tentativas do governo de aumentar o horário legal de trabalho no sector das dez para as 12 horas diárias. Com esta medida, denunciou o KITU, o governo estadual procurava «apaziguar as grandes empresas».

BJP e depois o Congresso Nacional Indiano

A proposta de aumento dos horários de trabalho foi apresentada, em 2023, pelo governo estadual liderado pelo Partido Bharatiya Janata (BJP; partido de Narendra Modi, de extrema-direita). A ideia era permitir que a jornada de trabalho pudesse, legalmente, ter a duração de 14 horas – algo que alguns grandes empresários reclamavam.

Depois da derrota do BJP nas eleições estaduais, o governo passou a ser liderado pelo Congresso Nacional Indiano, que havia criticado frequentemente as políticas anti-laborais do governo central de extrema-direita liderado pelo BJP.

No entanto, em meados do ano passado, propôs uma emenda para alargar o horário de trabalho oficial dos trabalhadores das TI, actualmente limitado a dez horas (incluindo horas extraordinárias), para 14 horas por dia.

Recentemente, em meados de Junho, o governo reafirmou a sua intenção numa reunião entre as partes interessadas, convocada pelo Departamento do Trabalho de Karnataka. Mas os representantes sindicais deixaram ali claro que jamais permitiriam a implementação de tal medida, que classificaram como um ataque ao direito fundamental dos trabalhadores à vida privada.

Proposta «contraproducente e perigosa» para os trabalhadores

Depois de o governo estadual ter anunciado que recuava, no passado dia 29 de Julho, o KITU afirmou em comunicado que isso se ficou a dever à «luta incessante», e agradeceu a todos os trabalhadores do sector pela unidade e a resistência «às tentativas do governo de restringir os direitos laborais duramente conquistados».

Ao longo dos meses de mobilização, o KITU sublinhou que a proposta de aumento do horário de trabalho era «contraproducente» e «perigosa» para os trabalhadores, chamando a atenção para numerosos estudos que apontam os efeitos negativos das longas horas de trabalho na «produtividade», bem como o impacto que têm na saúde física e mental dos trabalhadores.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde e a Organização Internacional do Trabalho, «trabalhar 55 ou mais horas por semana está associado a um risco estimado 35% maior de acidente vascular cerebral e a um risco 17% maior de morrer de doença cardíaca isquémica, em comparação com trabalhar 35-40 horas».

Neste contexto, o sindicato referiu também que a medida ia contra a tendência actual, a nível mundial, de redução dos horários de trabalho – que é considerada «saudável e produtiva».

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