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Tribunal obriga Câmara de Loures a suspender despejos e demolições

Na noite de segunda foi publicado um despacho do Tribunal Administrativo de Lisboa a proibir qualquer demolição no Bairro do Talude. Autarquia do PS só acatou a ordem judicial depois de destruir, pelo menos, outras 4 casas. 

Ricardo Leão, presidente da Câmara Municipal de Loures e, até 2024, presidente da Federação da Área Urbana do PS (FAUL) 
CréditosRicardo Leão

Pelo menos 62 crianças do Bairro do Talude, em Loures, passaram a noite sem-tecto após a demolição das suas casas por ordem da Câmara Municipal de Loures, liderada por Ricardo Leão, do PS. A autarquia, pela voz de Paula Magalhães, vereadora do PS com pelouro da polícia municipal (entidade que está a ser alvo de buscas por suspeitas de práticas ilegais), recusou-se a assumir qualquer responsabilidade ou a realizar qualquer reunião com os moradores, por não entender ser necessário fazê-lo.

Os moradores deste bairro de habitação autoconstruída foram notificados às 19h de sexta-feira para o iminente despejo e destruição das suas casas. Uma prática da Câmara Municipal de Loures (CML) que configura um verdadeiro boicote à capacidade de resposta dos habitantes. Embora tenha decorrido o prazo legal de 48 horas, estando a CML encerrada no fim-de-semana, os moradores foram, na prática, impedidos de contestar o processo.

À Agência Lusa, João Gaspar Simões, advogado especialista em Direito Administrativo, defendeu existir «uma intenção maliciosa de coartar a capacidade de recurso» à tutela jurisdicional efectiva, violando os artigos 266 a 268 da Constituição da República Portuguesa. Uma advogada que representa 14 moradores conseguiu entrepôr uma providência cautelar que obrigou à suspensão do processo. A decisão judicial foi ignorada pelo executivo PS até ao final da manhã de terça, permitindo a demolição de, pelo menos, 4 habitações, à revelia da justiça portuguesa.

Questionada pela Lusa sobre o facto de o processo de notificação violar várias normas constitucionais e o direito de recurso das pessoas do Bairro do Talude, Paula Magalhães respondeu: «Pronto, mas [durante o fim de semana] têm tempo para fazer a retirada das suas coisas, que é o objectivo da notificação».

Executivo PS demonstra «falta de humanismo», considera o BE Loures. CDU Loures afirma que opções da autarquia só «contribuíram para agravar o problema»

Na COP 15, em 2009, Hugo Chávez trouxe para a cimeira um dos lemas dos manifestantes que protestavam contra a iniciativa: «não mudem o clima, mudem o sistema». Uma lição que Ricardo Leão e o restante executivo PS da Câmara Municipal de Loures ainda não interiorizou. Sem mudar o sistema, sem combater a crise política da habitação, a autarquia foca a sua intervenção na destruição de habitações precárias, sem qualquer perspectiva de resolver os problemas estruturais que levaram ao seu aparecimento.

«Não se pode continuar a empurrar milhares de famílias para a situação desumana de perderem as suas habitações de décadas ou de terem como única alternativa a construção de habitações precárias ou que se tornem mesmo sem abrigo» sem intervir, directa e urgentemente, nas causas estruturais do problema da habitação, considera nota da CDU (PCP-PEV) de Loures.

«Sem o aumento geral dos salários e das pensões, sem o significativo aumento da oferta pública de habitação, sem a fixação dos valores máximos das rendas e o prolongamento da duração dos contratos de arrendamento, sem a revogação da Lei das Rendas, não é possível responder ao problema do acesso à habitação e assegurar» o direito constitucional de todos a uma habitação digna, afirmam.

A coligação de comunistas e ecologistas, que liderou a autarquia até 2021, relembra que das «850 novas habitações públicas» projectadas pelo executivo da CDU, foram disponibilizadas, até ao momento, um total de zero habitações pelo executivo do PS.

Também o BE responsabiliza o executivo do PS por esta situação. «Esta acção, executada sem diálogo com os cidadãos, sem a presença obrigatória de assistente social e sem soluções reais de realojamento, mostram a crueldade de um poder autárquico que prefere exibir força em vez de resolver problemas sociais».

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