Assinalámos a 9 de maio passado os 80 anos da vitória sobre as tropas hitlerianas com a entrada do Exército Vermelho em Berlim. É bom que não esqueçamos.
Nos últimos anos, os dirigentes do Reino Unido, da União Europeia (UE) e do Parlamento Europeu são responsáveis e persistem na degradação das relações com a Rússia para um ambiente de animosidade e desconfiança que supera os tempos da Guerra Fria. Nessa degradação, tem papel de destaque o Parlamento Europeu, nomeadamente ao desconsiderar que não foi a Rússia que inventou o nazismo mas a ela se deve a vitória sobre o mesmo. O mal está feito e os malefícios emergentes de tal comportamento levarão décadas a superar, com as inevitáveis consequências para a vida dos Povos da Europa. Europa que em muito excede a UE e onde a Rússia se inclui.
Não se reconhecem interesses legítimos da UE que estejam a ser postos em causa pela Federação Russa e é inadmissível que a UE entenda que se defendem os interesses dos Povos apontando-lhes o caminho da destruição e da morte, quando esse é o caminho onde desagua a escalada belicista.
Nem a História sugere que os russos se queiram espalhar de Berlim até Lisboa, nem faz sentido que os estrategas russos olhem para a UE como um território que lhes interesse invadir e anexar. Podem comparar-se os poderes de destruição associados aos vetores humano, material e tecnológico, utilizáveis numa guerra não nuclear, para concluir que o desequilíbrio é gigantesco e favorável à UE (tem o triplo da população da Rússia e tem gasto mais em material de guerra) e a história confirma que seja qual for a tecnologia envolvida ganhará o conflito aquele que for mais forte no sentir do Patriotismo pelo que a urgência da UE em investir em armamento não é solução, é um embuste.
Muitas são as urgências com que os povos da UE, estão confrontados (um em cada cinco habitantes da UE vive em risco de pobreza, situação que Portugal partilha, concomitantemente com a acentuada degradação dos serviços públicos, SNS e Educação, a que se junta a crise da habitação e dos baixos salários) mas, a questão da Guerra e da Paz coloca-se aos povos da Europa como questão central e a comunicação social só a trata como se não houvesse alternativa, seguindo a partitura que serve o belicismo e a promoção da guerra.
Estamos em campanha eleitoral. Não elegemos a Comissão Europeia, nem o Conselho Europeu, mas elegeremos deputados à nossa Assembleia da República a quem o futuro Governo terá que prestar contas, nomeadamente pelo que defenderá em Bruxelas.
«Muitas são as urgências com que os povos da UE, estão confrontados (um em cada cinco habitantes da UE vive em risco de pobreza, situação que Portugal partilha, concomitantemente com a acentuada degradação dos serviços públicos, SNS e Educação, a que se junta a crise da habitação e dos baixos salários)»
Não é por acaso que no debate (30 de abril) entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro as questões da Guerra e da Paz não mereceram espaço. Dir-me-ão, não havia interesse público sobre a matéria, já que ambos estão de acordo e já estavam acertados em pedir a Bruxelas que considere as despesas para a guerra fora das regras de cumprimento do défice. Compreende-se, há tudo a fazer para manter o eleitorado a leste do que à manutenção do statu quo importa (na Alemanha, aprovaram uma alteração constitucional, para retirar a despesa com a guerra dos mecanismos de controlo do défice, antes do parlamento recentemente eleito tomar posse já que, com a constituição do parlamento saída das últimas eleições, as forças pró-Paz estariam em condições de impedir tal alteração constitucional).
A guerra não precisa apenas de armas e carne para canhão, são-lhe essenciais os pretextos e justificações que vêm do exército de comentadores e opinadores produtores de ideias e histórias que ocupam o espaço mediático e almejam transformar a opinião pública na opinião publicada. Uns vendem ideias, histórias, análises, opiniões e comentários, as armas da guerra cognitiva, e outros vendem carros de combate, navios, submarinos, aviões e drones, pistolas, espingardas, metralhadoras, canhões, munições, bombas, foguetes e mísseis, as ferramentas do «hard power».
A guerra, a sua contextualização e análise como algo que é inevitável aceitar, entra-nos porta dentro num matraquear hegemonizado pela cartilha militarista em que a solução dos conflitos só é concebível pelo uso da força militar (o «hard power»). São horas infindáveis em que a inevitabilidade e necessidade da guerra predominam, acompanhadas, a maior parte das vezes, de uma ausência de rigor na análise ao que se está a passar no terreno e às suas causas, inviabilizando como perspetivar a sua superação. Iniciativas e ideias sobre como por fim aos conflitos por meios não militares, não têm, de todo, o espaço mediático que deveriam merecer e comprova-se à saciedade o que alguém desconhecido afirmou, «na guerra a primeira vitima é a verdade».
«A guerra não precisa apenas de armas e carne para canhão, são-lhe essenciais os pretextos e justificações que vêm do exército de comentadores e opinadores produtores de ideias e histórias que ocupam o espaço mediático e almejam transformar a opinião pública na opinião publicada.»
É uma evidência que a guerra em curso na Ucrânia opõe os EUA à Rússia e caminhamos para uma evidência que há uma guerra (envolvendo meios não militares) que opõe os EUA à UE.
A União Europeia é cúmplice de Israel e observa sem sobressalto o genocídio em Gaza mas, exalta-se contra a Federação Russa e no apoio a um governo que de democrata nada tem.
Desde 1975, ano de assinatura da Ata de Helsínquia, que foram muitos os casos em que o chamado Ocidente agiu contra o que subscreveu em Helsínquia, Em 1992 a guerra regressou à Europa e cá continua. O Pacto de Varsóvia foi dissolvido no século passado, mas a NATO alarga a sua área de intervenção e inventa inimigos para poder continuar em ação como uma extensão do braço armado dos EUA e com a Europa como apêndice e serva.
Os princípios que em 1975 a Ata de Helsínquia consagrou e acolhidos no Artigo 7.º da nossa Constituição da República são o mais sólido caminho para o futuro da humanidade. O seu respeito teria poupado milhões de vidas.
Na era nuclear a escalada belicista encurta perigosamente a distância de segurança para o deflagrar do holocausto nuclear onde não haverá kits de emergência para sobreviver. Todos sairão vencidos. O mundo continuará a existir mas a humanidade corre o sério risco de fazer haraquiri.
Uma escalada belicista cujo custo será pago pelos trabalhadores da UE que verão o que resta do estado social dos seus países ser emagrecido a título de implementação de reformas estruturais para em contrapartida verem os lucros do complexo militar industrial, com destaque para os EUA, continuarem a crescer.
Aqui chegados, dia 18 de maio teremos de votar na eleição de deputados que sem mas, nem meio mas, estejam contra a guerra. Deputados que, para estarem contra a guerra de forma consequente, têm de estar contra a escalada belicista já que tal escalada é o caminho para a guerra com as inevitáveis mortes que na nossa era se contarão por milhões.
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