Os lucros de 8 milhões anunciados hoje pela Comboios de Portugal (CP) demonstram, na prática, como a empresa foi mal gerida, e subfinanciada, nos últimos anos. Dos factores que levaram a este resultado são indissociáveis a aplicação de medidas que, há muitos anos, os sindicatos vêm exigindo, afirma, em comunicado enviado ao AbrilAbril, a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans/CGTP).
Verificou-se, em 2022, uma enorme redução de custos, só possível com as medidas de internalização de serviços através do retorno das oficinas (a antiga EMEF) à CP. A integração destes serviços na empresa, anteriormente assegurada por uma privada espanhola, trouxe «maior eficiência e controle de qualidade às operações» explica o comunicado da CP.
Desde 2022, a Comboios de Portugal passou também «a fornecer serviços de manutenção de bogies [equipamento dos veículos ferroviários que suporta a instalação dos rodados, eixos e suspensão] também para empresas ferroviárias espanholas».
A proposta de internalização de serviços preconizada pela Fectrans continua a dar resultados, já em 2023: desde o dia 1 de Março, a CP assume, nas suas oficinas e com meios próprios, as operações de manutenção preventiva e correctiva dos computadores de bordo dos seus comboios. A rescisão deste contrato com a Alstom, empresa privada, vai poupar mais 750 mil euros por ano à empresa pública.
Este dado deve ser um incentivo para continuar a internalização de áreas que a CP ainda mantém «externalizadas», defende a Fectrans, «como é o caso da FERNAVE que deve seguir o mesmo caminho da antiga EMEF, assim como é necessário um processo de reunificação de todo o sistema ferroviário nacional, dotando-o dos meios necessários nas diversas valências».
Lucros de 8 milhões não impediram a desvalorização salarial dos trabalhadores
Embora seja importante realçar a forma como uma empresa pública, quando gerida com o interesse público em mente, presta um serviço que nenhum privado consegue, a federação sindical da CGTP não deixa de fazer notar que «estes resultados foram obtidos num ano em que, mais uma vez, se verificou uma desvalorização dos salários, em que continua a existir trabalhadores a menos dos necessários para assegurarem o serviço público, com uma frota envelhecida sem se vislumbrar quando começa a ser substituída».
Estão reunidas todas as condições para se «negociarem a valorização dos salários e das profissões, de modo a fixar os trabalhadores à empresa e se criarem melhores condições para recrutar novos trabalhadores e se fazer a transmissão de conhecimentos entre gerações».
Estes resultados comprovam que a «empresa pública CP tem futuro desde que haja vontade política para que a mesma assuma o seu importante papel num sistema nacional de transportes», defende a Fectrans.
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