|Índia

Em Déli, um mar de vermelho contra as políticas de Modi

Vindos de todos os cantos da Índia, muitos milhares de trabalhadores juntaram-se na capital para protestar contra o ataque contínuo aos seus rendimentos, o aumento da inflação e do desemprego.

Milhares de pessoas mobilizaram-se em Nova Déli contra as políticas de Narendra Modi 
Créditos / @cpimspeak

Designada Mazdoor-Kisan Sangharsh, a mobilização desta semana foi convocada pelo Centro de Sindicatos Indianos (CITU), o Sindicato dos Agricultores de Toda a Índia (AIKS) e o Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas de Toda a Índia (AIAWU).

O resultado foi um mar vermelho nos terrenos do Ramlila Ground, em Nova Déli, com milhares de trabalhadores, agricultores e assalariados rurais a alertarem para a perda de rendimentos e a exigirem ao governo de Narendra Modi que ponha fim às políticas anti-populares, leve a efeito o preço mínimo garantido à produção, reverta os códigos laborais lesivos para os trabalhadores e crie mais emprego para a mão-de-obra rural, ao abrigo do esquema nacional Mahatma Gandhi.

Em nota de imprensa, as organizações promotoras deram conta da grande adesão à jornada de luta em todo o país subcontinental, tendo registo de trabalhadores de pelo menos 20 estados a dirigirem-se esta quarta-feira para a capital – culminando uma intensa campanha de seis meses de mobilização em distritos urbanos e rurais.

Newsclick

Os dirigentes sindicais que falaram à multidão avisaram o governo central que a dimensão da manifestação era um sinal da revolta crescente dos trabalhadores indianos perante o desprezo com que são tratadas as suas necessidades básicas, enquanto «sobre as grandes empresas chovem benefícios».

«A destruição deliberada da riqueza, vendendo a privados grandes empresas do sector público desenvolvidas ao longo de décadas a preços irrisórios, a privação dos trabalhadores e camponeses dos seus direitos básicos, o convite ao capital estrangeiro para capturar os sectores agrícola e lácteo indianos, a complacência face aos saques por vigaristas corruptos do dinheiro duramente ganho pelas pessoas, tudo isso está a ser cada vez mais fomentado pelo actual governo», afirmaram as organizações da mobilização na nota divulgada pelo Newsclick.

Enquadrando a enorme manifestação na capital, o texto afirma ainda que «os trabalhadores e os agricultores deram as mãos para criar um movimento incessante e intensificado» contra «tais perigos e para impedir o país de ser capturado por uns quantos cartéis empresariais ricos».

Promessas não cumpridas, face à miséria que aumenta

Em declarações ao Newsclick, Vijoo Krishnan, secretário-geral do Sindicato dos Agricultores de Toda a Índia (AIKS), recordou que o governo de Modi foi eleito depois de várias promessas feitas aos agricultores – que passavam por duplicar os seus rendimentos, subsídios, empréstimos a baixo custo e seguro de perda de colheitas. «No entanto, nenhuma destas promessas foi cumprida», denunciou.

@cpimspeak

«Se olharmos para os números dos últimos nove anos de governo de Modi, mais de 100 mil agricultores cometeram suicídio. No mesmo período, 250 mil trabalhadores assalariados suicidaram-se. Estes também vêm de um meio agrário, o que mostra bem a dimensão que a miséria atingiu no campo e como este governo não fez nada para resolver a crise», alertou.

Krishnan lembrou os ataques que os trabalhadores e agricultores têm sofrido, de forma consistente, durante a governação de Modi e acrescentou que, sempre que há sinais de união e força entre os trabalhadores, se assiste à utilização das lutas sectárias para perturbar essa força – tendo dado como exemplo o caso recente dos ataques a mesquitas no estado de Bihar.

O dirigente sindical disse ainda que nenhum membro do executivo os abordou para tratar das reivindicações apresentadas e que não existem quaisquer reuniões marcadas. «Isto mostra a arrogância do governo e como precisa de ser derrotado para que os direitos do povo, a Constituição e o próprio país sejam defendidos», afirmou.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui