Comecemos com factos elementares que, se não o são, deveriam ser do conhecimento de todos os portugueses.
O ministro russo da Defesa anunciou muito recentemente que os tanques enviados por Portugal para a Ucrânia estão entre a dezena e meia, ou mais, dos «Leopards 2» que as tropas russas transformaram em sucata em menos de um mês da «contra-ofensiva» ucraniana. Mais um lote de «armas maravilha» da NATO a caminho do ferro-velho.
Segundo notícias que em Portugal correm à boca pequena, vá lá saber-se porquê, o governo português é dos mais activos – parece mesmo integrar uma «task force» nesse sentido – nas tramas em curso na União Europeia para concretizar o confisco das reservas externas russas com o alegado objectivo de subsidiar a «reconstrução» da Ucrânia, o país que os próprios dirigentes europeus continuam a destruir, alimentando a guerra com dinheiro e armas e opondo-se a qualquer hipótese credível de suspender e resolver o conflito.
Há uns meses, o próprio primeiro-ministro António Costa foi em peregrinação até Kiev para doar a Volodymyr Zelensky, o chefe do regime ucraniano de sustentação nazi, 250 milhões de euros sacados sem anestesia aos contribuintes portugueses, os quais, entretanto, continuam submetidos a esmolas ocasionais, enquanto os salários já cheiram a bafio de tão antigos que são e os preços não param de trepar por mais manigâncias que os ministros façam com o IVA.
E ainda falta o que vem a caminho, o efeito tecnofascista da senhora Lagarde em nome do Banco Central Europeu que ninguém elegeu.
Como subsidiar o maior fundo extorsionista do mundo
As situações enunciadas correspondem, como dirá qualquer membro da classe política, ao respeito dos nossos compromissos para com os «parceiros internacionais» e as organizações transnacionais que Portugal integra – à revelia dos portugueses, que nunca foram consultados sobre essas adesões e pertença.
Deduz-se, portanto, que o governo, a maioria do Parlamento, o Palácio de Belém devem estar orgulhosos, com emocionada sensação de dever cumprido, perante os restos mortais dos enjeitados tanques, mesmo que, como era previsível, de nada tenham servido durante a sua efémera e derradeira viagem.
Conclui-se também que Portugal está na linha da frente no roubo de dinheiro que pertence a outros países ainda que, ouvindo altos responsáveis alemães e o chefe da diplomacia austríaca, não haja qualquer mecanismo do «Estado de direito», mesmo à luz da trapaceira «ordem internacional baseada em regras», que permita tal apropriação, portanto fraudulenta. A lista de países roubados já vai longa: Líbia (32 mil milhões de dólares que se sumiram para parte incerta), Irão, Venezuela (mais de 20 toneladas de ouro e milhões de dólares), Iraque (os números reais do saque são incalculáveis), Síria (e a rapina prossegue sob forma de milhares de barris de petróleo diários), Afeganistão (dez mil milhões de dólares do Banco Central) e a Rússia (300 mil milhões de dólares, dois terços dos quais nos cofres da União Europeia).
Portugal já meteu as mãos nos dinheiros e ouro da Venezuela e deseja ardentemente fazer o mesmo com os da Rússia. Para que se respeite a «justiça» e se recompense um regime que esfrangalha livros, proíbe partidos políticos, persegue e executa opositores, promove perseguições étnicas cultivando a xenofobia e o racismo, silencia meios de comunicação, venera como padrinhos os monstros nazis cúmplices de Hitler e não hesita, como está à vista de quem consegue ver, em chacinar o seu povo num matadouro que se recusa a suspender.
«A lista de países roubados já vai longa: Líbia (32 mil milhões de dólares que se sumiram para parte incerta), Irão, Venezuela (mais de 20 toneladas de ouro e milhões de dólares), Iraque (os números reais do saque são incalculáveis), Síria (e a rapina prossegue sob forma de milhares de barris de petróleo diários), Afeganistão (dez mil milhões de dólares do Banco Central) e a Rússia (300 mil milhões de dólares, dois terços dos quais nos cofres da União Europeia).»
Por ironia do destino, ou pelas virtudes inatas do neoliberalismo, os frutos da rapina à Rússia destinam-se afinal a subsidiar o maior fundo mundial de investimento, o norte-americano BlackRock, ao qual Zelensky vendeu a Ucrânia em Maio, retirando assim a Kiev qualquer papel activo na gestão da energia, indústria, infra-estruturas, tecnologia de informação, economia, finanças e o remanescente da agricultura do país. São 8,5 biliões (milhões de milhões) de dólares para o Fundo de Reconstrução da Ucrânia criado pelo BlackRock com o objectivo declarado de «reconstruir» o país, conhecido como um paraíso da corrupção.
De notar que a junta golpista no poder em Kiev já antes tinha entregado um terço da área agrícola do país a gigantes mundiais do agronegócio, sobretudo norte-americanos como a Cargill e a Syngenta, e também alemães – Bayer e BASF. Os 11 milhões de hectares ucranianos agora nas mãos dos impérios dos transgéneros, dos cultivos que esterilizam o solo e impedem uma agricultura sustentável, equivalem ao total das terras cultiváveis na Alemanha.
A maldição da soberania
Portugal tem intervenção directa e indirecta nestas situações, que se entrelaçam e são extraídas de um contexto global degradante, quase sempre com o voluntarismo de quem procura compensar, através do espalhafato provinciano, o desprezo com que é olhado e tratado pelos «parceiros», sabendo que têm sempre aqui um menino obediente e cumpridor. Ou, como dizia o dr. Soares, patrono real e honorário do estado a que as coisas chegaram, um «bom aluno».
Os exemplos abordados, como uma infinidade de outros que se esbatem numa historiografia mítica e corrupta e numa comunicação social que aboliu a liberdade de imprensa quando se transformou em património das grandes corporações nacionais e internacionais, revelam que as instituições do Estado português geridas por uma classe política apátrida e autoritária – como aqui será descodificado muito em breve – abdicaram da soberania da nação.
A palavra soberania, aliás, foi sendo abandonada até se transformar hoje no sinónimo de um conceito maldito acusado de atentar, como invoca a opinião única, contra a modernidade, a ordem natural do neoliberalismo e de perturbar de maneira cada vez mais inconveniente o caminho para o globalismo, quiçá do transumanismo. Soberania transformou-se, segundo os moldes engendrados pelas centrais de controlo e manipulação da informação, num sinónimo de reaccionarismo, conservadorismo, de ideias retrógradas, confundindo-se, no limite, com nacionalismo e populismo. Tudo isso «sob as ordens de Putin».
Soberania e neoliberalismo, o regime financeiro, económico e político que formata o globalismo totalitário como futuro antevisto pelo «Ocidente civilizado», são conceitos absolutamente antagónicos. Nos tempos de hoje tornaram-se mesmo inimigos, literalmente em pé de guerra.
Soberania transformou-se, como se diz muito frequentemente, num «divisor de águas». Se quem não está connosco está contra nós, quem defende Estados soberanos, independentes e coloca os seus povos acima de interesses globais que, regra geral, lhes são estranhos, é contra o progresso, a civilização, a democracia, os direitos humanos, em suma, ousa combater o globalismo neoliberal – um acto de traição.
A soberania, entendida como um pecado capital nos cerca dos 15% do mundo que ainda considera ter o privilégio de ditar o que é «civilização» e «democracia», desencadeando guerras para que isso se consume, nem que seja apoiando regimes antidemocráticos, ou mesmo nazis, começa, por outro lado, a afirmar-se como ponto de partida e base de sobrevivência, desenvolvimento e dignidade no resto do mundo.
Soberania, em suma, foi eleita no chamado Sul Global como inimiga do império, do colonialismo e do globalismo. Como lamentou o presidente da Assembleia da República, Santos Silva, colocando a voz em tons melodramáticos, «eles querem criar uma nova ordem internacional».
O que é verdade. Uma ordem internacional assente na igualdade entre Estados soberanos, com os mesmos direitos e deveres, restaurando-se assim o direito internacional, está a surgir como alternativa à «ordem internacional baseada em regras» (que ninguém é capaz de citar porque são emanadas casuisticamente de Washington), um sistema de supremacia unipolar, imperialista, colonialista, globalista que sequestrou as normas internacionalmente aceites e as organizações responsáveis pela sua aplicação, a ONU acima de todas elas.
Observamos dramaticamente, nos tempos em curso, que os próceres da velha ordem «baseada em regras», sentindo-se em situação de perda e, por isso, em desespero, não nos deram ainda uma ideia concreta de até aonde estão dispostos a ir para que o seu poder prevaleça numa rota imutável em direcção ao absolutismo globalista, ao governo mundial único que, apresentado como o suprassumo da «democracia», reinará sobre cidadãos sem qualquer poder, manipulados, zombificados e que «nada terão mas nunca foram tão felizes», como sentencia o Fórum Económico Mundial (Davos). Estarão esses transtornados mentores dispostos a ir até à solução final, à extinção da vida humana no planeta, movidos pela ideia fixa e louca de que ou a nossa ordem resiste ou não haverá qualquer outra?
«Soberania, em suma, foi eleita no chamado Sul Global como inimiga do império, do colonialismo e do globalismo. Como lamentou o presidente da Assembleia da República, Santos Silva, colocando a voz em tons melodramáticos, "eles querem criar uma nova ordem internacional".»
Ora, o Fórum Económico Mundial é o templo da religião mundial do globalismo e do poder absoluto do dinheiro, obviamente o dólar, instrumento essencial das congeminações conspirativas e dos programas ditados pelo Grupo de Bilderberg, pela Comissão Trilateral, sua congénere, e afins. A propósito, todos os primeiros-ministros de Portugal passaram pelo curso de doutrinação de Bilderberg em matéria de abolição da soberania, entre outras; só faltou Passos Coelho, certamente por já ter a escola toda.
A plêiade de proprietários putativos do mundo, por delegação divina, orienta-se pela profética sentença de Zbigniew Brzezinski, o polaco que serviu de grande conselheiro no coração do império, segundo a qual «quem dominar a Ucrânia governa a Eurásia» – e o planeta, por acréscimo. Daí que a Ucrânia (significando exactamente «fronteira») seja essencial à velha ordem e às «regras» imperiais para desmantelar a Rússia e a seguir tentar ferir de morte a China, os dois principais pilares de uma nova ordem multipolar em crescimento, assente em Estados soberanos e em organizações transnacionais igualitárias substituindo, mas com um espírito de cooperação e em condições mutuamente vantajosas, as entidades sequestradas pelo império. Por exemplo, o FMI e o Banco Mundial, mais as suas exigências tóxicas. E, por arrastamento, cancelando o papel do dólar como moeda mundial de comércio, o que já está a acontecer – movimento que tanto dói, e mais irá doer, às economias ocidentais, assentes em especulação e não em produção.
O pateta que a RTP encarregou de entrevistar o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, manifestou reservas quanto à possibilidade de o cerco da NATO à Rússia e a colonização militarizada da Ucrânia pela aliança serem uma ameaça existencial contra a Federação Russa. Poucas horas depois de o pobre homem expor tão desajeitadamente a sua síndrome de opinião única, realizou-se na Polónia uma conferência internacional dedicada exactamente às maneiras de desmantelar a Rússia, condição considerada indispensável para que a velha ordem de regras imperiais prevaleça.
Sem referências, sem dignidade, sem futuro
Desde a primeira grande machadada no 25 de Abril, em 25 de Novembro de 1975, Portugal empreendeu o caminho de regresso ao seio do feudalismo norte-americano, na sua vertente colonial europeia. Tratou-se, sob o pretexto de assegurar o honroso acolhimento no virtuoso mundo Ocidental, civilizado e democrático, de amarrar definitivamente o país à hoje chamada «democracia liberal», variante corrupta da genuína democracia, livrando-o assim da «ameaça do comunismo» e de outras maleitas susceptíveis de reflectir a vontade soberana do povo e garantir a sua participação nas decisões nacionais, as que verdadeiramente lhe dizem respeito.
Cumpriram-se assim os desígnios que o já citado dr. Soares e o seu confrade Frank Carlucci, embaixador norte-americano em tirocínio para a chefia da CIA, começaram a concretizar com a liquidação da vertente popular do 25 de Abril, organizando, na Alameda Afonso Henriques, o comício que pode considerar-se a primeira de todas as «revoluções coloridas» para mudança de regime, culminada com o golpe de Estado de 25 de Novembro de 1975; e prosseguindo o processo com a supressão gradual da soberania nacional através, por um lado, de uma frente política transnacional; e, por outro, executando nos bastidores as determinações da NATO, designadamente através da sua milícia clandestina e terrorista designada Gladio.
«Desde a primeira grande machadada no 25 de Abril, em 25 de Novembro de 1975, Portugal empreendeu o caminho de regresso ao seio do feudalismo norte-americano, na sua vertente colonial europeia.»
Um esquema explicado em 1990, em pormenor, pelo veterano político e primeiro-ministro italiano, Giulio Andreotti, que, como um dos artífices da conspiração atlantista permanente, sabia muito bem do que falava, incluindo o assassínio, em 1977, do primeiro-ministro Aldo Moro. Assim executado por ter dado ao Partido Comunista Italiano, então o mais votado, a oportunidade democrática de entrar na maioria de apoio ao governo de Roma. Como já acontecera a Salvador Allende no Chile, em Setembro de 1973, eles não hesitam em matar.
Depois, Portugal foi perdendo o que dele restava em soberania, dignidade e na possibilidade de construir um futuro independente, não «orgulhosamente só», como dizia o outro, mas respeitando a Constituição da República, em cooperação construtiva, mutuamente vantajosa e livre com todas as nações do mundo – verdadeiramente iguais e não umas mais iguais do que as outras, como estipula a «ordem internacional baseada em regras». E sem soberania não existem democracia autêntica e liberdade. A não ser no discurso oficial carregado de mentiras.
O país passou então pela entrada na CEE/UE sem consulta popular, pelos tratados federalistas de Maastricht e de Lisboa, o fim da moeda nacional com submissão ao marco/dólar sob a designação de «euro», a anexação asfixiante pelo Banco Central Europeu, que ninguém elege, tal como a Comissão Europeia e outros centros do poder financeiro imperialista; sem esquecer as adendas coloniais de aplicação prática quase surda como o «semestre europeu», a humilhação permanente pela troika – entidade que nunca acabou, como é perceptível pela obsessão governamental com a dívida, o ataque constante aos salários e às pensões dos portugueses; e, principalmente, a submissão obrigatória de um documento fundamental para a vida do povo e a independência nacional, o Orçamento do Estado, a buro-tecnocratas sombrios e sem rosto, padecendo de sociopatia e um desprezo ostensivo pelos seres humanos, aos quais cabe a última palavra. Cumprindo-se assim mais um ritual «democrático» e federalista.
«Sem soberania não existem democracia autêntica e liberdade. A não ser no discurso oficial carregado de mentiras.»
Autoridades portuguesas como o venerando chefe de Estado e um primeiro-ministro que ressuscitou a velha figura do vendedor de banha de cobra, queixam-se agora das arremetidas cruéis da fascistóide corrupta Lagarde e do Banco Central Europeu contra os salários, pensões e outros direitos sociais dos portugueses. Estranha reacção esta por parte de responsáveis directos pela situação de que agora se queixam ao submeter, por sistema inatacável, a vida dos portugueses aos caprichos desumanos de uma minoria de crápulas financeiros globalistas e apátridas. Tarde piaste.
As lamúrias encenadas para efeitos de propaganda e de desresponsabilização desonesta são ainda mais ridículas no cenário desconchavado em que o governo envia para a sucata e, com grande probabilidade, para as contas offshore dos nazis que chefiam nominalmente a Ucrânia, meios que Portugal tem e não tem, enquanto condena os portugueses a uma existência cada vez menos digna.
Assim desembocou a República Portuguesa numa realidade à medida dos seus dirigentes, mas humilhante para o seu povo: sem qualquer soberania, fazendo figuras tristes entre os «parceiros» devido ao alinhamento entusiástico com tudo o que é guerra imperial e colonial e extorsão internacional (espezinhando o 25 de Abril e a Constituição); sem dignidade e consumando o abandono de uma perspectiva de futuro onde fosse possível governar a favor e em defesa da vida dos portugueses.
«As lamúrias encenadas para efeitos de propaganda e de desresponsabilização desonesta são ainda mais ridículas no cenário desconchavado em que o governo envia para a sucata e, com grande probabilidade, para as contas offshore dos nazis que chefiam nominalmente a Ucrânia, meios que Portugal tem e não tem, enquanto condena os portugueses a uma existência cada vez menos digna.»
Numa manobra que é das mais desonestas e irresponsáveis de todas, a classe política e os dirigentes em funções acusam os defensores da soberania nacional de serem «nacionalistas» e «populistas».
Nacionalismo é o oposto de soberania. É a afirmação cega e propagandística de mitos, supostos feitos e grandezas de um povo que lhe dão direito a considerar-se superior aos outros e a agir em conformidade, não descartando a violência, o assassínio e a guerra – um povo eleito, santificado por um sopro divino. Tal como se comporta a junta golpista ucraniana, que aliás muitos dirigentes ocidentais qualificam adequadamente como nacionalista, ultranacionalista e nazi mas perante a qual o governo português está em êxtase.
Populismo é o estado supremo da demagogia política e do nacionalismo. É a tentativa de arrastar os seres humanos, como um imenso rebanho, para práticas que os violentam com base no primarismo das mensagens e pela exploração propagandística das dificuldades da vida quotidiana, de modo a que elas se eternizem em benefício dos de sempre. O populismo, mais ou menos polido, que se percebe sim no discurso de dirigentes portugueses, pode desembocar na antecâmara do fascismo, como os próprios sabem ou deveriam saber.
Os portugueses têm de lutar pela soberania nacional, isto é, pela democracia e pela liberdade. Na verdade, como um primeiro e decisivo passo, os povos europeus não têm de salvar a União Europeia; têm de salvar-se da União Europeia.