António Costa e Rui Rio confrontaram-se durante mais de uma hora num debate que passou em simultâneo nos três canais generalistas, confirmando o tratamento desigual de PS e PSD relativamente às restantes forças políticas. Destas, só a CDU ripostou, recusando-se a participar nos debates nos canais do cabo, uma espécie de segunda divisão televisiva para onde todos foram relegados, com excepção dos líderes do PS e do PSD.
Quanto ao debate de ontem e às ideias e propostas apresentadas, de sublinhar três aspectos essenciais: as pretensões do PSD de controlar a acção do Ministério Público e de reforçar o sector privado da saúde, o brilharete do PS com as medidas da chamada «geringonça» e a ausência do debate das questões do trabalho e dos trabalhadores.
Rui Rio reafirmou a intenção do PSD de impor ao Conselho Superior do Ministério Público uma maioria de não magistrados e, desta forma, impor o controlo político e partidário à acção destes agentes da justiça, como se não bastasse o continuado subfinanciamento da Justiça, imposto por sucessivos governos do PS e do PSD. Aspecto que não foi levantado no debate, nomeadamente as precárias condições dos parques judiciário e prisional, e a carência de meios de investigação e de recursos humanos.
Quanto às questões da saúde e do SNS, o líder social-democrata voltou a focar-se no recurso do Serviço Nacional de Saúde (SNS) aos privados e, consequentemente, no reforço das centenas de milhões de euros que já hoje são pagos aos grupos económicos que actuam no sector da saúde.
Pelo PS, António Costa realçou um conjunto de medidas sociais aprovadas nestes seis anos da sua governação, mas que no essencial resultaram da acção dos partidos à sua esquerda, em particular do PCP. É o caso, por exemplo, do passe social intermodal, que se traduziu numa poupança para milhares de famílias e numa maior mobilidade, designadamente para os reformados e pensionistas, ou dos manuais escolares gratuitos, conquista em que a intervenção do PCP ultrapassou as resistências do Governo. De resto, também a consagração do princípio da gratuitidade das creches, de que falou o líder do PS, teve muito a ver com a determinação dos comunistas.
À margem do debate, esteve a centralidade do trabalho na sociedade, a sua valorização e os problemas que atingem os trabalhadores. Para além da renovada recusa do PSD em aumentar o salário mínimo nacional, e mesmo a sua relutância em relação aos tímidos aumentos propostos pelo PS, ninguém falou da desregulação dos horários de trabalho e das suas consequências na vida de quem trabalha ou na redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais, sem perda de remuneração. Fora do debate ficou também a questão do aumento geral dos salários, seja no sector privado ou na Administração Pública.
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