O corridinho dos debates televisivos, com 25 minutos repartidos por dois candidatos, parece mais adequado a tricas e soundbytes do que a falar sobre os temas que importam às pessoas e ao País, como demonstrou o frente-a-frente entre o PSD e o Chega. Porém, o debate de ontem teve o condão de elucidar os portugueses sobre o papel a que o PSD se prestaria caso fosse o partido mais votado nas eleições de 30 de Janeiro.
Com um aparente desconforto, depois de já ter admitido contar com o Chega se este se «moderasse», o presidente do PSD teve muita dificuldade em demarcar-se de um partido cujo líder, André Ventura, para além de vir das entranhas do PSD, não esconde que tem Passos Coelho como «guia político». No seu íntimo, Rui Rio alimenta a expectativa de poder vir a precisar, tal como nos Açores, do apoio parlamentar do Chega para governar.
Daí as contradições, o não fechar completamente a porta a alguns aspectos da agenda populista da extrema-direita, como no caso da prisão perpétua, esquecendo que no nosso país já não existe desde finais do século XIX e que Portugal foi pioneiro na abolição à pena de morte, ou dos «subsidiodependentes», embora com Rui Rio a reconhecer que os apoios são fundamentais para que não alastre a pobreza.
Ambos mostram-se muito preocupados em «controlar» a chamada «subsidiodependência», isto é, os apoios sociais para os mais pobres, mas fechando os olhos à subsidiodependência dos ricos, aos apoios ao grande capital.
Juntos, Rio e Ventura, cada um à sua maneira, alimentam o discurso populista de que temos deputados a mais. Uma tese desmentida por vários estudos comparativos com países de igual e menor dimensão, mas que, a concretizar-se, seria uma espécie de seguro de vida para os partidos do bloco central, da CIP e dos «Saraivas e Ferrazes» deste país. Esta é, aliás, uma das velhas bandeiras do PSD, que só ainda não foi adiante porque, como lamentava Rui Rio, carece de uma revisão constitucional.
Pelo meio, sobre os problemas com que os portugueses se confrontam no seu dia-a-dia, nem uma palavra. Não se falou da necessidade de acabar com os baixos salários, não se falou do aumento do custo de vida, não se falou da Escola Pública nem dos jovens, não se falou do emprego nem da precariedade, não se falou de investimento público nem na destruição do tecido produtivo, e muito menos se falou das borlas fiscais à banca e aos grandes grupos económicos.
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