Mensagem de erro

User warning: The following module is missing from the file system: standard. For information about how to fix this, see the documentation page. in _drupal_trigger_error_with_delayed_logging() (line 1143 of /home/abrilabril/public_html/includes/bootstrap.inc).

|desigualdades

O nosso «squid game»

Enquanto fomentam o ódio perante os excluídos, responsabilizando-os pelos males da nossa economia, desviam o foco dos responsáveis por alimentar desigualdades, permitindo que se continue a cavar o fosso. 

Resultados de um estudo de 2014 sustentam o retrato dos EUA como sistema «dominado pelas elites económicas, uma oligarquia»
Créditos / politicsofpoverty.oxfamamerica.org

Volta e meia, o discurso entranhado ganha voz, anima conversas de café, surgem exemplos de alguém que se conhece ou se ouviu falar nas notícias. Forjam-se teorias de que o País não vai para a frente por causa dos que vivem nas franjas, excluídos de um sistema onde nem todos têm lugar, porque essa é a matriz do sistema capitalista.

São «os do rendimento mínimo», os que «vivem à custa do Estado», os que «não querem trabalhar», os que «trabalham uns tempos para voltarem aos subsídios». No congresso do PSD do último fim-de-semana, Rui Rio, que faz propaganda afirmando-se ao centro, voltou a captar a atenção da extrema-direita com a retórica dos pobres que se alimentam do sistema. Para o presidente dos social-democratas, «não é racional manter apoios sociais a quem os usa para se furtar ao trabalho e dessa forma condicionar a própria expansão empresarial que cada vez mais se lamenta da falta de mão-de-obra disponível para trabalhar». 

O mesmo lamento tinha sido reproduzido dias antes por Ferraz da Costa, numa entrevista. No seu tom mordaz e bafiento, o presidente do Fórum para a Competitividade disse haver «muitas pessoas que não querem trabalhar e o sistema permite». O que o «sistema» permite é o trabalho barato e sem direitos, realidade em que Ferraz da Costa lamenta não se ter ido mais longe – «a legislação laboral deveria ter sido mais liberalizada do que foi».

O ardiloso argumento «dos que vivem à custa do Estado» nunca é dirigido a quem verdadeiramente o faz. Não toca nos benefícios fiscais dos grandes grupos económicos, nem nos apoios dados às grandes empresas, nem naquelas que este ano voltaram a argumentar não ter condições para pagar um aumento do salário mínimo, nem nos buracos da banca ou das PPP que os portugueses são chamados a cobrir. Tal como não aborda a questão dos baixos salários e da precariedade, nem tampouco a necessidade de uma justa distribuição da riqueza.

Faz-se com os pobres, alimentando o ódio e a xenofobia perante aqueles que o sistema capitalista exclui, fazendo crer que é sua a responsabilidade de não ter conseguido «vencer» e «agarrar as oportunidades».

Tal como na série coreana Squid Game, os ricos divertem-se com a situação dos pobres e, sendo os responsáveis por um sistema alimentado de desigualdades, criticam os que não se conseguem manter à tona, enquanto continuam a jogar um jogo de regras viciadas. 

Se a realidade dos que vivem com o que ganham ao fim do mês não se degrada mais, isso deve-se à organização e luta que travam nos seus postos de trabalho. E essa é uma pedra no sapato dos patrões. Ferraz da Costa regozija-se com a ideia de que os sindicatos «lá fora não têm grande peso», argumentando que por «cá vai ser uma questão de tempo».

Mas não é esse o retrato traçado em empresas como a Efacec, a Petrogal ou a Altice. Nestas, tal como em muitas outras por todo o País, resistir continua a ser a palavra de ordem para que o tabuleiro do jogo seja bem mais equilibrado e não sejam os mesmos do costume a jogar.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui