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Podem alguns achar que foi apenas uma noite lúdica, numa cerimónia com piadas de gosto duvidoso (quem aprovou o guião?!) para comemorar o aniversário de uma estação que, não é de agora, deixa muito a desejar em termos de isenção e rigor. Recorde-se a campanha levada a cabo em 2019, com a anódina ERC a reconhecer um «notório enviesamento e falta de isenção da TVI».

Este domingo, essa falta de isenção, mas sobretudo de noção, subiu ao palco da festa de aniversário, no Casino do Estoril, onde José Eduardo Moniz tentou fazer piadas, nomeadamente com o direito à greve dos professores ou com a Assembleia-Geral do Futebol Clube do Porto, apelidando-a de «maior de todos» os conflitos mundiais, desprezando o sofrimento de quem agora sofre, por exemplo, na Palestina, onde não pára de crescer o número de crianças mortas ou mutiladas.

Mas a cereja no topo do bolo seria a rábula com jornalistas mal disfarçados de representantes de (alguns) partidos com assento parlamentar, fechados numa casa ao estilo big brother, que foi pontuando a noite e onde a TVI misturou caricatura com preconceito, quando estamos a poucas semanas das eleições legislativas. Fazê-lo com actores já seria mau, tendo em conta o registo demagógico e as mensagens que a TVI quis passar e que apenas ajudam a reforçar estereótipos. Fazê-lo com jornalistas torna o exercício ainda mais repugnante, tendo em conta os princípios que regem a sua conduta profissional.

No meio da «política-espectáculo» para onde as televisões nos querem levar (veja-se o formato e tratamento dado aos debates), mais apostadas no fait-divers do que no escrutínio, a TVI sobe mais um degrau na falta de noção que muito tem contribuído para alimentar o populismo e denegrir a função de servir o País. Mas não pode valer tudo, nem mesmo a pretexto de festa.