O papel que recai sobre a jornalista Sandra Felgueiras no espaço de comentário de Miguel Sousa Tavares no Jornal Nacional da TVI, é, sobretudo, o de ponto. Após cada afirmação do comentador, como aconteceu no programa de 12 de Junho, Felgueiras encoraja Sousa Tavares. Neste caso, discutia-se a alegada privatização das praias no Litoral Alentejano.
«Mas a culpa é de quem? Não é da Câmara de Grândola?», pergunta Sandra Felgueiras, desviando o foco do facto de a maioria dos terrenos que confinam com a frente de mar serem privados e de a gestão da orla costeira ser da responsabilidade da Administração Central. Já no final, depois de diversas afirmações que a jornalista não corrigiu, Miguel Sousa Tavares não se absteve de terminar a conversa relembrando que «estamos a falar de uma câmara comunista».
Segundo Sousa Tavares, Grândola teria ido «aos concelhos vizinhos de Santiago do Cacém e de Alcácer do Sal comprar camas [turísticas] porque eles não as tinham usado e então acrescentar às suas 22 mil e tal camas». «Isto é uma coisa absolutamente extraordinária», rematou.
Para além da notícia falsa relativa a Alcácer do Sal, também a história de Grândola é incorrecta. Houve, de facto, um acordo intermunicipal com Odemira e Santiago do Cacém (ou seja, em que Alcácer do Sal não esteve envolvido) para permitir que a intensidade turística concelhia passasse de «14 915 para 17 153 camas», mas esse aumento, como a Câmara Municipal de Grândola (CMG) reconhece, «destina-se sobretudo para o desenvolvimento das zonas do interior», não afectando as zonas litorais e as praias.
Também a afirmação de Sousa Tavares de que Grândola teria reduzido apenas em 300 o número de camas turísticas (em função da perda de 300 habitantes no concelho) é completamente dissociada da realidade: a CMG aprovou, no final de 2024, o novo Plano Director Municipal (PDM) que pretende reduzir «em cerca de 40% o número de camas turísticas (as projectadas e programadas por executar), o equivalente a 7100 camas, limitar o surgimento de novos empreendimentos turísticos, reduzir as áreas de construção nas freguesias litorais e orientar o crescimento para o interior». O PDM foi proposto pelo executivo CDU do município de Grândola, com a abstenção do PS.
Num comunicado de 2024, a CMG esclarece que, entre 2001 e 2013, com um executivo PS, «foram aprovados planos para grandes projectos turísticos, permitindo até 21 800 camas na região, mas muitos foram adiados devido à crise de 2008. Com a recuperação económica, muitos projectos foram retomados. Em 2022, o concelho estava próximo da intensidade turística máxima, levando à suspensão do PDM de 2017 e à interrupção de novos licenciamentos para equilibrar as assimetrias regionais».
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