Faleceu «o pequeno genial» «Chalanix»

Dono de um pé esquerdo que tratava a bola por tu, Fernando Chalana foi o ídolo de muitos, precisamente por jogar como poucos. Hoje, os jogadores medem-se pela quantidade de prémios individuais que conquistam, «Chalanix» com o seu 1,65 cm distinguia-se pela capacidade de fazer a ala, pela maneira que com um drible curto e fintas de corpo passava por um, dois, três adversários deixando-os no chão e pela forma como metia todos a gostar um bocadinho mais de futebol.

Fernando Chalana, nascido no Barreiro a 10 de Novembro de 1959, parecia destinado ao que a vida lhe reservou. Cedo começa a jogar futebol e rápido dá o salto para o Sport Lisboa e Benfica, estreando-se na equipa de seniores aos 17 anos – o mais novo de sempre até então a pisar os relvados da primeira divisão da liga portuguesa. Foi no Benfica que fez grande parte da sua carreira e construiu o seu legado. Legado que viria a ser reconhecido no Europeu de 1984.

Chalana. «O meu nome em Bordéus era Vatanen»

O ano era 1984 e Chalana fora convocado para a selecção portuguesa para disputar o Europeu. Portugal não era então uma presença assídua nas grandes competições de futebol, era a primeira vez que se tinha conseguido apurar para um campeonato da europa e a última presença num grande palco semelhante fora no Mundial de 1966. Neste Europeu de 1984, Fernando Chalana fez-se acompanhar de grandes nomes, como Jordão, Fernando Gomes ou Jaime Pacheco, numa geração que ficara conhecida como «Os Patrícios» e os grandes da Europa foram desafiados. Chalana, numa entrevista ao site Relvado  recorda que «ninguém dava nada por Portugal nessa competição» e que, já em campo, numa partida contra a República Federal Alemã «eles olharam-nos de alto a baixo, olhando para os portugueses pequeninos. A verdade é que o jogo começou e começámos a fazer coisas bonitas».

Como o próprio descreveria, no «auge» da sua carreira ao serviço da selecção nacional, Chalana abalou a Europa e o Mundo. Juntamente com Alvaro Magalhães fez a ala esquerda e num torneio em que participara também Michel Platini, «o pequeno genial», com o seu toque de bola ímpar, dividiu os holofotes com o vencedor da Bola de Ouro desse mesmo ano.

Portugal caíra nas meias-finais com a França (3-2) que viria a sagrar-se campeã da Europa, mas isso não apagou a prestação de Chalana que para o L'Equipe foi o melhor jogador do torneio e para a France Football integrou o melhor onze. Para os amantes do futebol «Chalanix» tinha ficado na retina.

Após o Europeu sai do seu Benfica e é transferido para o Bordéus, numa transferência cujos valores permitiram ao Benfica acabar as obras no Estádio da Luz e a construção do terceiro anel. Torna-se assim num dos primeiros portugueses a espalhar o seu perfume numa grande liga internacional, algo que não era habitual. Anos mais tarde, volta a Portugal e para o seu Benfica fazendo depois curtas passagens pelo CF Os Belenenses e pelo CF Estrela da Amadora, onde acaba a carreira.

Foi considerado, por duas vezes, Futebolista do Ano em Portugal, ganhou seis campeonatos portugueses, dois campeonatos franceses, três Taças de Portugal, duas Taças de França, duas Supertaças de Portugal e uma Supertaça de França. Além destas conquistas, ganhou, também, o mais importante: o respeito dos pares e dos adeptos que hoje o coloca no monte Olimpo do futebol.

Toni, de uma forma simples e directa, acabou por conseguir definir Fernando Chalana e o que ele representou no futebol. Disse «Chalana foi o maior génio».