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Entre os 30 neofascistas que agrediram Adérito Lopes, um escreveu para o Observador

João Martins, condenado pelo assassinato de Alcindo Monteiro e por diversas outras agressões racistas, na mesma noite, encontrava-se entre o grupo que agrediu ontem o actor Adérito Lopes. Escreveu este ano para o Observador.

Não é novidade que o jornal Observador, que nunca deu lucro mas continua a investir em diversas frentes, graças a Luís Amaral ou ao grupo Jerónimo Martins, tem uma linha editorial bem demarcada com um posicionamento de direita. 

Se o estatuto editorial não é tão evidente no tratamento noticioso, o mesmo não se pode dizer no espaço opinativo, onde é recorrente a publicação de artigos de opinião com forte pendor reaccionário que dão expressão a projectos políticos cada vez mais perigosos. 

Veja-se que, em Junho do ano passado, a direcção do Observador decidiu terminar a colaboração com Henrique Pinto de Mesquita por este ter escrito um texto intitulado «Se ao menos os palestinos fossem mais branquinhos». O texto, que viria a ser publicado no Público, denunciava a inacção europeia em comparação com a ajuda dada à Ucrânia, motivada por um ocidentalismo que secunda a dor de outros povos. 

O Observador não permitiu a publicação deste texto e, como tal, deixou evidente o seu posicionamento editorial. Há, no entanto, um vasto conjunto de casos em que o mesmo não acontece. A 25 de Junho de 2022, o jornal dirigido por José Manuel Fernandes não viu mal algum em publicar um texto assinado por Lucas Claro com o título «A Grande Substituição».

O texto do militante do Chega que já fez parte da lista à Assembleia Municipal de Cascais e, de acordo com a revista Visão, tem ligações a movimentos de extrema-direita, existindo fotografias do mesmo, nas redes sociais, com membros da Nova Ordem Social (grupo liderado por Mário Machado, que se transformou no actual 1143), no dia 10 de Junho, procurava dar expressão à chamada «Teoria da Grande Substituição», uma tese difundida pelos movimentos neonazis. 

Neste caso, José Manuel Fernandes justificou-se dizendo: «A publicação deste texto no Observador suscitou controvérsia, o que nos leva a esclarecer que os artigos publicados neste espaço de opinião apenas vinculam os seus autores e não podem ser confundidas com os nossos valores, claramente expressos – e assumidos, o que é raro em Portugal – no nosso Estatuto Editorial». O mesmo não se verificou com o texto de Henrique Pinto de Mesquita.

Este não foi um caso isolado. Ontem, dia 10 de Junho, Adérito Lopes, actor da companhia de teatro A Barraca, foi agredido por um conjunto de neofascistas em frente ao Teatro Cinearte. No grupo de 30 pessoas que deixaram para trás autocolantes do Reconquista, grupo fascista criado por Afonso Gonçalves nas redes sociais, encontrava-se João Augusto Henriques Gomes Martins, condenado a 17 anos de prisão pelo homicídio de Alcindo Monteiro.

O caso de Henrique Martins, candidato do Ergue-te nas eleições legislativas de 2024 pelo círculo de Lisboa, apontado, segundo o Diário de Notícias, pela Polícia Judiciária (PJ), PSP e Serviço de Informações de Segurança (SIS) em 2019 como o novo líder nacionalista, era conhecido. Eis que este também teve espaço no Observador para expressar a sua opinião no presente ano, num texto intitulado «Imigração: os portugueses não querem trabalhar?». 

O artigo em questão foi apagado do site do Observador quando começou a circular nas redes sociais que o jornal estava a dar espaço a uma pessoa condenada por homicídio e crimes de ódio, escrever sobre imigração. De alguma forma, Henrique Martins chegou à redação do Observador e conseguiu assinar um texto na qualidade de «licenciado em História pela Universidade Autónoma de Lisboa».

Sobre a bárbara agressão ocorrida ontem, que deixou uma pessoa hospitalizada, o Observador está a fazer uma cobertura das reacções dos partidos políticos ao sucedido. Sobre o grupo de agressores, ainda não há nenhuma notícia, mesmo já se sabendo que é um autor publicado no seu site.

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